[Crítica] - Dunkirk

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 27/07/2017 às 14:53
Dunkirk FOTO:

Em uma entrevista para a revista Premiere, o diretor Cristopher Nolan já tinha avisado: "Dunkirk será meu filme mais experimental". Contar a história do Milagre de Dunquerque, na Segunda Guerra Mundial, sob três pontos de vistas que se passam em três períodos de tempo diferentes foi um desafio e tanto. Ainda mais levando em conta que seria seu primeiro filme de guerra.

Mas o diretor da trilogia do Cavaleiro das Trevas não só cumpriu seu objetivo como o fez com louvor. Dunkirk, que estreia nesta quinta nos cinemas brasileiros, é não só um filme tecnicamente impecável (e belíssimo em IMAX) como pode ser uma influência futura no gênero da mesma forma que longas como Resgate do soldado Ryan, Platoon, Além da linha vermelha, Falcão Negro em perigo e outros o fizeram no passado.

Mas antes, um pouco de história:

Em 1940, as tropas alemães invadiram a França, após tomar a região das Ardenas, Países Baixos e Bélgica, forçando tropas tropas francesas e britânicas a ficarem encurraladas entre os blindados nazistas e a costa na fronteira franco-belga. Foi dada então uma ordem para que os tanques parassem e os batalhões aliados passaram então a serem constantemente bombardeados, enquanto buscavam uma forma de completar sua retirada através do Canal da Mancha.

Deu-se início então a Operação Dínamo, que entre 26 de maio e 4 de junho levou mais de 340 mil soldados de Dunquerque até Dover, na Inglaterra. Essa retirada contou com uma frota de mais de 800 barcos, não só destróieres britânicos (39 deles) mas também navios mercantes civis. O primeiro ministro Winston Churchill (então com apenas 16 dias no cargo) referiu-se ao resultado da operação como um "milagre", e a imprensa britânica apresentou a evacuação como um "desastre voltado ao triunfo".

De volta ao filme

Para contar essa história, Nolan dividiu o roteiro em três núcleos: Terra, com os homens encurralados na praia; Mar, com um capitão civil, seu filho e seu ajudante que atenderam ao chamado por embarcações para a operação; e Ar, com três pilotos da RAF que fizeram a escolta do resgate. Porém, para cada um desses núcleos são atribuídas diferentes temporalidades. Em terra, as tropas ficam uma semana presas na praia. No mar, os eventos duraram um dia - o tempo de travessia do Canal- e os caças britânicos levaram uma hora de combustível para a missão.

Nolan não mostra tudo em ordem cronológica (Terra, Mar e Ar), mas mistura os eventos na mesma medida que os mostra por diferentes ângulos, em diferentes momentos do filme. Por exemplo: numa cena, o barco do Sr. Dawson (Mark Rylance) resgata um soldado à deriva na água (vivido por Cillian Murphy). É só mais à frente que veremos como essa embarcação veio a afundar, dentro da narrativa dos soldados do núcleo 'Terra". Na primeira cena dos pilotos, o avião de Farrier (Tom Hardy) sobrevoa o barco de Dawson, fato que só veremos sob a perspectiva da água posteriormente. E por aí vai.

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É o diretor voltando a brincar com a noção de passagem de tempo, de forma semelhante como fez em Amnésia (2000), mas não de uma forma linear (invertida, mas linear).  Tudo narrado da forma mais visual possível, com pouquíssimos diálogos e longos momentos onde o que predomina é a trilha sonora de Hans Zimmer, sempre de forma ritmada - ora lembrando um relógio, ora as batidas de um coração - mas sempre muito alta, mais até do que as explosões e tiros dos conflitos.

Cada núcleo também conta com seu número de caras conhecidas. Os já citados Murphy, Rylance e Hardy, além de Kenneth Branagh como o Comandante Bolton. Mas Nolan também apostou em novos talentos, como Fionn Whitehead, Tom Glynn-Carne e o cantor britânico Harry Styles. De acordo com o diretor, para refletir como os soldados britânicos presos na praia eram inexperientes, ele escalou atores inexperientes para interpretá-los.

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Outro ponto positivo do filme é seu compromisso com a fidelidade. Não só foi feito boa parte na locação original, a região de Dunquerque, como muitas das embarcações eram verdadeiros navios de guerra e aviões da Segunda Guerra, além de barcos civis originais originais que levaram os soldados de volta à Inglaterra. Por sinal, uma ousadia tremenda de Nolan em colocar uma caríssima câmera IMAX na asa de um Spitfire de mais de 60 anos (mas funcionou que foi uma beleza).

Cristopher Nolan entrou numa polêmica nos últimos dias, dizendo que a Netflix quer matar o cinema com seus lançamentos direto para streaming, e defendendo o que ele chama de "cinema puro". Nesse caso, discordo do diretor sobre a questão da Netflix... Mas que Dunkirk é cinema puro purinho, ah isso é!