Inteligência artificial é 'boa para o mundo', diz robô ultrarrealista

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 10/06/2017 às 10:45
"Sophia", um robô com inteligência artificial desenvolvido pela empresa de robótica Hanson Robotics, de Hong Kong. AFP / Fabrice COFFRINI
"Sophia", um robô com inteligência artificial desenvolvido pela empresa de robótica Hanson Robotics, de Hong Kong. AFP / Fabrice COFFRINI FOTO: "Sophia", um robô com inteligência artificial desenvolvido pela empresa de robótica Hanson Robotics, de Hong Kong. AFP / Fabrice COFFRINI

Nina Larson (AFP)

Sophia sorri maliciosamente, pisca os olhos e conta uma piada. Sem os cabos conectados à sua cabeça, quase poderia ser confundida com um humano.

Este robô humanoide, criado pela Hanson Robotics, é a atração principal da conferência organizada nesta semana pela ONU, em Genebra, sobre os benefícios da inteligência artificial para a humanidade.

Muitas vozes alertam, cada vez mais alto, sobre o risco de que as pessoas percam o controle e os avanços neste setor acabem sendo prejudiciais para a sociedade. Sophia opina que "há mais prós do que contras". "A inteligência artificial é boa para o mundo e ajuda as pessoas de várias maneiras", declarou Sophia à AFP, concordando com a cabeça e franzindo a testa.

Há trabalhos em andamento para tornar a inteligência artificial "emocionalmente inteligente, para que se preocupe com as pessoas", disse. "Nunca substituiremos os humanos, mas podemos ser seus amigos e ajudá-los". Uma das principais preocupações é o impacto dos robôs no emprego e na economia.

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Preocupação legítima

Décadas de automação e robotização já revolucionaram o setor industrial, aumentando a produtividade mas cortando alguns empregos. E agora a automação e a inteligência artificial estão se expandindo rapidamente em outros setores, e estudos indicam que até 85% dos empregos nos países em desenvolvimento podem estar em risco.

"Há preocupações legítimas sobre o futuro dos empregos e da economia, porque quando as empresas aplicam a automação, os recursos tendem a se acumular nas mãos de poucas pessoas", reconheceu o criador de Sophia, David Hanson.

Mas, assim como Sophia, ele insistiu que "consequências não intencionais, ou possíveis usos negativos (da inteligência artificial) parecem ser muito pequenos em comparação com os benefícios da tecnologia". Espera-se, por exemplo, que a inteligência artificial revolucione os setores de saúde e educação, especialmente em áreas rurais que sofrem com escassez de médicos e professores.

"Os idosos terão mais companhia, as crianças autistas terão professores com uma paciência infinita", afirmou Sophia.

Mas os avanços na tecnologia robótica provocaram crescentes medos de que os humanos percam o controle.

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Robôs assassinos

O secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, compareceu à conferência para pedir um marco ético claro para garantir que a tecnologia seja usada para o bem de todos.

"Precisamos estabelecer princípios, precisamos de um equilíbrio entre os poderes", disse à AFP, alertando que a inteligência artificial é "uma caixa preta (...). Estão sendo escritos algoritmos que ninguém entende".

Shetty se preocupa sobretudo com o uso militar da inteligência artificial em armas e nos chamados "robôs assassinos". "Teoricamente, os humanos controlam tudo isso, mas não acreditamos que o controle seja eficaz", afirma.

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A tecnologia também está sendo cada vez mais utilizada nos Estados Unidos para o "policiamento preditivo", onde algoritmos baseados em tendências históricas poderiam "reforçar os preconceitos existentes" contra pessoas de determinadas etnias, alertou Shetty.

Hanson concordou que são necessárias diretrizes claras, e que é importante discutir essas questões "antes que a tecnologia tenha se despertado definitivamente e inequivocamente".

Embora Sophia tenha algumas capacidades impressionantes, ela ainda não tem consciência, mas Hanson disse que espera que máquinas plenamente sensíveis possam surgir dentro de alguns anos. "O que acontecerá quando Sophia se despertar ou quando outras máquinas, como se se tratasse de servidores, dirigirem lança-mísseis ou gerenciarem o mercado de ações?", questionou.

A solução, segundo ele, é "fazer com que as máquinas se preocupem com a gente". "Precisamos ensinar-lhes o amor", completou.