[Crítica] - Rei Arthur: A Lenda da Espada

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 16/05/2017 às 11:49
Warner Bros.
Warner Bros. FOTO: Warner Bros.

A história do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda é um dos contos fundamentais do folclore da Grã Bretanha. Suas aventuras começam a surgir, a partir da tradição oral, por volta do século IX, como um líder bretão que comandou tropas na defesa das ilhas conta a invasão saxã, entre os séculos V e VI.

A partir daí, a lenda ganhou várias versões até o século XII, período em que a Inglaterra tinha sido unificada - após as invasões normandas - e precisava criar uma identidade nacional para seu povo, que trouxesse esse caráter heroico. É a partir daí que o Arthur dos relatos anteriores vira rei, e suas histórias são romanceadas em toda Europa.

Sua imagem como um monarca nobre, que personifica os ideais simbólicos, volta com força no século XIX, que é quando temos fundamentada toda essa narrativa de cavaleiros, Merlin, Excalibur, Camelot, Lancelot, Dama do Lago, Avalon e tudo mais. Adaptações e versões dessa história inundam a cultura pop, tanto em filmes como em livros, HQs e até games. A mais recente é Rei Arthur: A Lenda da Espada, de Guy Ritchie, que chega aos cinemas nesta quinta.

Por que eu dei essa volta toda para falar do filme? Bem, a parte mais importante disso tudo é "de Guy Ritchie". É importante colocar na cabeça que o Arthur interpretado por Charlie Hunnam não é o tradicional, mas o olhar do diretor inglês sobre o folclore.

Do mesmo jeito que, por exemplo, os livros As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell, diferem do material original por sua pegada de ficção histórica, o longa de Ritchie é a lenda do rei bretão com aquele jeitão de filme de gângsters como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch e Rock'n'Rolla - e esse é o maior mérito do filme.

Não é de hoje que Guy Ritchie tenta construir sua versão de ícones ingleses. A primeira tentativa foi Sherlock Holmes (2009) e sua continuação, Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011). Mas, por mais que Robert Downey Jr. seja um sujeito carismático, não deu um bom detetive (estava mais para o Tony Stark da Era Vitoriana). E o pior: os filmes não tinham o "look and feel" que o diretor passa para seus filmes mais autorais.

Desse mal, Rei Arthur: A Lenda da Espada não sofre. Ele pode ter muitos defeitos (como a crítica especializada lá fora vem apontando), mas é um filme do Guy Ritchie. Tem todos os maneirismos dele no roteiro e na edição - aquelas cenas aceleradas, com a câmera na cara dos atores, ou os diálogos rápidos e espertinhos, com cortes secos e sobreposição de imagens e sons. É o Rei Arthur cockney.

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Ritchie é muito competente em contar uma história visualmente, cortar o que é supérfluo e ir direto aos finalmentes, e aplica isso no filme. O elenco não é o mais estrelado dos filmes em cartaz, mas fica clara a intenção de continuar a série, e por isso um elenco barato é essencial.

Talvez por não ter levado comigo à sala expectativa alguma sobre Rei Arthur: A Lenda da Espada, tive uma grata surpresa ao sair do cinema. Muita aventura, alguma dose de comédia (menos do que o habitual do diretor) e alta fantasia podem fazer com que o longa tenha certo sucesso nessa entressafra de blockbusters.