[Crítica] - Logan

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 01/03/2017 às 15:29
Logan
Logan FOTO: Logan

Finalmente, 17 anos depois - se contarmos o primeiro filme dos X-Men, de 2000 - ou oito anos depois - considerando o primeiro filme solo do personagem, de 2009 - Wolverine ganhou um longa que faz justiça à sua popularidade nos quadrinhos. Logan (2017), que estreia nesta quinta-feira (2) no Brasil, é o filme definitivo do mutante canadense, justamente na despedida o ator que o viveu todos esses anos, Hugh Jackman.

Um filme que só foi possível graças ao amadurecimento da indústria de adaptações das HQs ao cinema. Que só saiu desse jeito por causa do sucesso de Deadpool, lançado no ano passado, que mostrou que filmes adultos de super-heróis poderiam ser rentáveis. Que não precisa ter medo da censura 18 anos.

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Mérito também para o próprio Jackman, que não só interpretou mas bancou o personagem todos esses anos (ele é produtor do filme, assim como foi dos anteriores) e do time James Mangold e Scott Frank, diretor e roteirista respectivamente. Isso nos faz pensar em como seria Wolverine: Imortal (2013), filme anterior do carcaju explorando sua fase no Japão, se tivesse sido feito hoje, uma vez que Jackman, Mangold e Frank também estavam à frente. Ou seja, talvez não tenha sido culpa deles.

Logan adapta, bem de leve, a saga Velho Logan (Old Man Logan no original) de Mark Millar e Steve McNiven, lançada em 2008. Num futuro distópico, o Wolverine deixou de existir, deixando para trás um homem marcado pelas tragédias que aconteceram na sua vida, num cenário onde os vilões tomaram conta do país. Então, um colega do passado encontra o velho mutante e o leva numa jornada de redenção e resignação. Sem muito spoiler, vá ler.

Dos quadrinhos, o filme só pegou o Wolverine velho e o clima de road movie. Os X-Men não existem mais, e Logan ganha a vida como motorista de limusine na fronteira entre os EUA e o México, enquanto junta dinheiro e divide os cuidados do Professor Charles Xavier com outro mutante, Caliban. A raça mutante, por sinal, está quase extinta: há 25 anos não nasce um novo ser com poderes.

O objetivo de Logan é comprar um barco e viver com Xavier no mar, onde os problemas mentais do "cérebro mais perigoso do mundo" não machucará ninguém, mas um encontro com uma enfermeira mexicana e uma menina que lhe é muito familiar pode mudar tudo isso.

Em vários sentidos, Logan me lembrou Rogue One: Uma história Star Wars. Ambos pegam um cenário que nos é familiar para nos contar uma história mais madura. E ao fazer isso, distorcem o gênero as quais suas matrizes pertencem - Rogue One deixa a fantasia/ópera espacial de lado para investir no filme de guerra, enquanto Logan é muito mais um road movie violento sobre auto descobrimento do que um filme de super herói. E, particularmente, em ambos os casos eu saí do cinema satisfeito e feliz, mas não deslumbrado.

Não me leve a mal, Logan é um ótimo filme. O melhor do Wolverine e um dos melhores dos X-men. Mas não é "o melhor" do gênero, como muita gente está dizendo por aí. Mas ele é o mais próximo que já foi feito de uma adaptação das HQs do Wolverine. E isso é importante: do Wolverine, não dos X-Men. Os quadrinhos solo do personagem são bem diferentes das suas aventuras em grupo tanto em estilo quanto em temática. E isso o longa soube separar bem.

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Hugh Jackman finalmente chegou na idade e porte físico que lhe aproximam do Wolverine das revistas, e está melhor do que nunca. Dafne Keen dá um show como Laura/X-23, mostrando que a garotinha tem muito potencial - sempre que ela aparece, rouba a cena. Boyd Holbrook mostrou que há vida além de Narcos e que pode fazer o salto das séries para o cinema, no papel de Donald Pierce, o líder dos Carniceiros. Mas incrível mesmo está Patrick Stewart como um Xavier que já passou dos 90 anos e sofre de distúrbios mentais. "Sir" Patrick Stewart não é um dos melhores atores vivos à toa.