Sucesso no cinema, carreira de escritora, abuso de drogas e depressão marcaram a vida de Carrie Fisher

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 27/12/2016 às 17:29
Carrie Fisher como Leia, em O Retorno de Jedi
Carrie Fisher como Leia, em O Retorno de Jedi FOTO: Carrie Fisher como Leia, em O Retorno de Jedi

Foi uma página virada, mas que ela nunca escondeu. Pelo contrário, compartilhou sua experiência em livros e entrevistas.

Um infarto lhe tirou a vida. Ela sofreu o ataque cardíaco na última sexta-feira (23), em um voo com destino a Los Angeles, procedente de Londres, onde promovia seu oitavo e último livro, com impactantes memórias de sua vida. Ela também voltaria a chamar a atenção do público cinéfilo, com o retorno de Leia às telonas no Episódio VII de "Guerra nas Estrelas", "O despertar da Força", que estreou no final de 2015.

Fisher foi catapultada à fama como a rebelde guerreira Princesa Leia, da trilogia original de "Star Wars", cujos três filmes, lançados em 1977, 1980 e 1983, viraram um fenômeno mundial.

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Em coletiva de imprensa no ano passado, ela lembrou como se divertiu ao "assassinar" seu captor, o vilão Jabba the Hutt, em "O retorno de Jedi". A cena também é lembrada por muitos fãs pelos trajes de Leia, um biquíni dourado.

"Perguntaram se eu queria que um dublê matasse Jabba. Não! É o mais divertido que fiz como atriz", afirmou na ocasião. "Se a única razão para atuar é poder matar um monstro gigante", acrescentou.

Desde seu nascimento, em outubro de 1956, em Los Angeles, sua vida foi marcada pela extravagância de Hollywood.

Ela nasceu do casamento entre a estrela de cinema Debbie Reynolds, conhecida por seu papel em "Cantando na Chuva", e o cantor Eddie Fisher. O relacionamento e o lar feliz em Beverly Hills terminaram quando Eddie Fisher trocou Debbie pela melhor amiga dela, a atriz Elizabeth Taylor.

No começo dos anos 1980, sua vida foi marcada pelo álcool, pelas drogas e pela depressão, coincidindo com papéis fracassados em filmes como "Hotel das confusões" (1981) e "Hollywood Vice Squad" (1986). Depois de ser aplaudida pela crítica por seu trabalho em "Harry e Sally - feitos um para o outro", de 1989, começou a deixar de atuar para se dedicar a escrever.

Tornou-se, então, conhecida pela honestidade de sua escrita semiautobiográfica, incluindo seu maior sucesso, "Lembranças de Hollywood", que virou filme em 1990.

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'Experiências infelizes'

Talentosa roteirista, Fisher revisou vários scripts, incluindo os de "Mudança de hábito" (1992), "Epidemia" (1995) e "Afinado no amor" (1998).

Ao longo dos anos, deu várias entrevistas sobre seu transtorno de bipolaridade e dependência de remédios e de cocaína, que admitiu ter usado durante as filmagens de "O império contra-ataca" (1980).

Perguntada pela Vanity Fair, em 2006, como convenceu George Lucas a lhe dar o papel da princesa Leia, respondeu: "Eu transei com um nerd. Espero que tenha sido George". "Usei muitas drogas para (conseguir me) lembrar" quem foi, acrescentou.

Ela também falou sobre a terapia eletro-convulsiva, que consistia em pequenas descargas elétricas liberadas no cérebro para desencadear pequenas convulsões e tratar a depressão. Em sua primeira coluna de conselhos no jornal britânico The Guardian, ela prometeu "proporcionar assessoramento solicitado, baseado em uma vida de tropeços e acidentes".

Carrie Fisher disse, ainda, aos seus leitores que as dependências, os problemas sentimentais e os transtornos mentais equivalem a uma distribuição "compartilhada de desafios e experiências infelizes". "Com o tempo, prestei atenção, tomei nota e esqueci facilmente a metade de tudo o que passei. Mas remexo a metade das lembranças e as ponho aos seus pés", afirmou.

Carrie Fisher Carrie Fisher

O livro que promovia antes de morrer era intitulado "The Princess Diarist" e se baseou nos recortes de diários que guardou durante as filmagens da trilogia original de "Star Wars".

As memórias chamaram a atenção da imprensa depois que Fisher admitiu ter tido romance de três meses com Harrison Ford durante o primeiro filme (Episódio IV), em 1976. Na época, Carrie Fisher tinha 19 anos, e Ford, com 33, era então casado com sua primeira mulher, Mary Marquardt.

A atriz foi casada rapidamente com o cantor e compositor Paul Simon nos anos 1980 e tem uma filha, a também atriz Billie Catherine Lourd, fruto de seu relacionamento com o agente de talentos Bryan Lourd.