Nobel de Química para três cientistas pela invenção das "máquinas moleculares"

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 05/10/2016 às 8:23
O professor holandês  Bernard Feringa, vencedor do Nobel de Química. AFP / University o f Groningen / Jeroen Van Kooten
O professor holandês Bernard Feringa, vencedor do Nobel de Química. AFP / University o f Groningen / Jeroen Van Kooten FOTO: O professor holandês Bernard Feringa, vencedor do Nobel de Química. AFP / University o f Groningen / Jeroen Van Kooten

AFP (atualizada)

O prêmio Nobel de Química foi atribuído em conjunto ao francês Jean-Pierre Sauvage, o britânico Fraser Stoddart e o holandês Bernard Feringa, pais das minúsculas "máquinas moleculares" que prefiguram os nano-robôs do futuro.

Os três vencedores "conduziram os sistemas moleculares para estados nos quais, ao serem preenchidos de energia, podem controlar seus movimentos", explicou o júri do Nobel.

"O motor molecular está hoje na mesma fase que o motor elétrico nos anos 1830, quando os cientistas exibiam várias manivelas e rodas, sem saber que isto conduziria aos trens elétricos, às máquinas de lavar, aos ventiladores e aos processadores de alimentos", completa.

Na terça-feira, os britânicos David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz venceram o Nobel de Física por suas pesquisas sobre os estados “exóticos” da matéria, que no futuro poderia ajudar a criar computadores quânticos. 

O Nobel de Medicina foi atribuído na segunda-feira ao japonês Yoshinori Ohsumi, por seus estudos sobre regeneração celular.

O cientista francês e vencedor do Nobel de Química, Jean-Pierre Sauvage. AFP / PATRICK HERTZOG O cientista francês e vencedor do Nobel de Química, Jean-Pierre Sauvage. AFP / PATRICK HERTZOG

Jean-Pierre Sauvage, 71 anos, professor na Universidade de Estrasburgo (leste da França), foi o primeiro a imaginar as 'nanomáquinas', que apresenta como uma "montagem molecular capaz de colocar-se em movimento de forma controlada em resposta a diversos sinais: luz, mudança de temperatura, etc". "Tais sistemas existem, muito numerosos, nas células vivas e intervêm em todos os processos biológicos importantes", ele explicou em 2008.

Na origem de sua descoberta ele uniu duas moléculas em forma de anel para formar uma cadeia, chamada "catenano". Esta experiência foi desenvolvida depois por Fraser Stoddart, 74 anos, professor na Northwestern University (Estados Unidos), e que criou um "rotaxano": ele enfiou um anel molecular em um fino eixo molecular e demonstrou que o 'anel' poderia deslocar-se ao longo do eixo. A descoberta permitiu criar um 'elevador molecular' e um 'músculo molecular'.

Os vencedores do Nobel de Química 2016: Jean-Pierre Sauvage, J Fraser Stoddart e Bernard L Feringa. AFP / JONATHAN NACKSTRAND Os vencedores do Nobel de Química 2016: Jean-Pierre Sauvage, J Fraser Stoddart e Bernard L Feringa. AFP / JONATHAN NACKSTRAND

Fraser Stoddart passou a infância em uma fazenda de sua família na Escócia.  Sem energia elétrica ou as comodidades da vida moderna, ele se divertia com quebra-cabeças, um passatempo que o ajudou a desenvolver uma qualidade essencial para um químico: reconhecer as formas e observar como podem ser unidas", recordou a Academia Real de Ciências da Suécia.

O fascínio com as formas prosseguiu durante o seu trabalho de pesquisa. Stoddart Bernard "Ben" Feringa, 65 anos, professor na Universidade de Groningen (Holanda), foi o primeiro a desenvolver um "motor molecular", o que permitiu desenvolver um "nanoveículo".

Infinitas possibilidades

Entrevistado ao vivo pela Academia Sueca, ele disse "ter a impressão de ser um pouco parecido aos irmãos Wright, que voaram (de avião) pela primeira vez há 100 anos. As pessoas perguntaram 'para que precisamos de máquinas voadoras?' E agora temos o Boeing 747 e o Airbus".

"Se pensarmos nos materiais que podemos criar hoje graças à química, em nossa capacidade para introduzir funções dinâmicas e construir máquinas, ou produzir materiais que podem mudar de função, então as possibilidades são infinitas", afirmou.

Professor Olof Ramstrom, membro do comitê do Nobel, explica a escolha do Nobel de Química. AFP / JONATHAN NACKSTRAND Professor Olof Ramstrom, membro do comitê do Nobel, explica a escolha do Nobel de Química. AFP / JONATHAN NACKSTRAND

"As máquinas moleculares serão muito provavelmente utilizadas no desenvolvimento de objetos como os novos materiais, os sensores e os sistemas de armazenamento de energia", explicou o júri do Nobel.

A criação de computadores moleculares, que permitiriam armazenar e tratar a informação a nível molecular, ou robôs microscópicos com capacidade para cumprir uma grande variedade de funções, na Medicina ou na vida diária, estão entre as potenciais aplicações destas máquinas.

Prêmio de mais de 800.000 euros

O prêmio de 8 milhões de coroas (832.000 euros) será dividido entre os três. No ano passado, o Nobel de Química foi concedido a Aziz Sancar (Turquia/Estados Unidos), Paul Modrich (Estados Unidos) e Tomas Lindahl (Suécia) por suas pesquisas sobre a reparação do DNA. A categoria Química foi a última dos Nobel científicos a ser anunciada este ano.