Sonda Rosetta: o início do fim de uma histórica odisseia no espaço

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 29/09/2016 às 18:17
Foto: ESA/ATG medialab
Foto: ESA/ATG medialab FOTO: Foto: ESA/ATG medialab

AFP 

A contagem regressiva já começou para a Rosetta: a sonda europeia inicia nesta quinta-feira (29) uma lenta descida em direção ao cometa 67P, o que permitirá observá-lo muito de perto, antes do impacto final com o corpo celeste.

Esse desfecho espetacular colocará um ponto final em uma odisseia espacial de mais de 12 anos, concluída com 26 meses de observação, acompanhando o cometa 67P/Churiumov-Guerasimenko em seu périplo ao redor do Sol.

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Primeira missão a orbitar e pousar em um cometa, a Rosetta foi aprovada em 1993 pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) para explorar as origens e a evolução do nosso Sistema Solar.

Sonda Rosetta

A manobra de aproximação começará na quinta-feira, às 17h50 (horário de Brasília), quando o centro de controle de Darmstadt (sudoeste da Alemanha) enviar, da Terra, a mais de 700 milhões de km de distância, as instruções para que a Rosetta comece sua descida.

Após percorrer os 19 km de distância que a separam deste cometa de cerca de quatro quilômetros de diâmetro, a sonda colidirá com o corpo celeste na sexta-feira por volta das 9h20 (horário de Brasília), a uma velocidade de 90 cm/s, a mesma de uma pessoa caminhando.

Uma oportunidade única

Durante o trajeto, fará fotografias em alta definição com sua câmera Osiris e realizará observações - inéditas em um cometa a uma distância tão curta - antes de "aterrissar".

"A oportunidade de estudar um cometa a uma distância tão pequena faz que a fase de descida seja uma das mais emocionantes de toda a missão", indicou a ESA em um comunicado.

As imagens e os dados coletados sobre a poeira e os gases que saem do 67P são importantes para continuar avançando na compreensão do processo de formação dos cometas e do nosso Sistema Solar.  No cometa já se encontra Philae, o robô que pousou em novembro de 2014 e enviou observações valiosas para a Terra.

Philae está inerte desde julho de 2015, quando suas baterias se esgotaram e não puderam ser recarregadas porque seus painéis estão mal orientados e com pouca exposição solar.  O cometa 67P se dirige atualmente em direção à órbita de Júpiter. Continuará se afastando do Sol na sua trajetória elíptica, até cerca de 850 milhões de quilômetros de distância do nosso Astro Rei.

Rosetta também perderá completamente a capacidade de armazenar energia solar suficiente para continuar operando seus instrumentos de observação e transmissão de dados para a Terra por ondas de rádio.

Por isso, a ESA decidiu dar por concluída sua missão. Vai parar de emitir por completo, conforme os tratados internacionais que regem o espaço exterior, para evitar contaminá-lo com sinais inúteis que possam interferir em outras missões.

Foto: ESA/ATG medialab Foto: ESA/ATG medialab

Buracos misteriosos

Após dez anos de viagem como passageiro da sonda Rosetta, Philae havia conseguido um marco histórico ao pousar no 67P em 2014.

No entanto, a manobra foi muito abrupta, e Philae quicou duas vezes na superfície. O imprevisto fez que o robô ficasse parado em uma zona de relevo acidentado e de pouca exposição à luz solar.

Se tudo sair conforme o previsto, Rosetta chegará a um lugar relativamente distante do Philae, em uma pequena planície rodeada de buracos, através dos quais o cometa projeta jorros de gás e poeira. A sonda também tentará observá-los em seus últimos minutos de vida.

"Esperamos poder observar estruturas nas paredes dos buracos que podem remontar à época da formação do cometa", disse à AFP Jean-Pierre Bibring, um dos responsáveis do programa Philae. A ESA não descarta imprevistos nessa manobra final, incluindo a possibilidade de perder contato com a Rosetta antes do planejado.

Após o impacto final, os restos da Rosetta - e os do Philae - acompanharão para sempre o corpo celeste, pondo fim a uma aventura sem precedentes na história da conquista espacial.