Formação de planetas: o balanço de cinco anos de descobertas do Radiotelescópio Alma

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 28/09/2016 às 7:32
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AFP

Imagens de discos protoplanetários que transformaram as teorias sobre a formação de planetas, ou a descoberta de moléculas vitais para a existência da vida: em apenas cinco anos de funcionamento, o radiotelescópio Alma, no norte do Chile, fez descobertas assombrosas.

Com 66 antenas localizadas a mais de 5.000 metros de altitude na Planície Chajnantor, Alma (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, em inglês), é considerado um dos complexos astronômicos mais potentes do mundo desde que começou a operar em outubro de 2011.

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"Alma está entregando hoje o que muitos sonharam em sua concepção: resultados magníficos e surpreendentes, superando em muitas ocasiões qualquer expectativa", celebrou o diretor do Alma, Pierre Cox, em entrevista coletiva para apresentar um balanço dos cincos anos de trabalho do observatório.

Entre as descobertas destacadas pela comunidade científica estão as imagens de discos protoplanetários, como a da jovem estrela HL Tauri - situada a 450 anos-luz de distância -, e que contribuíram para mudar as teorias sobre a formação dos planetas.

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Através do Alma, foi possível ver o acúmulo de poeira e de gás, após o nascimento dessa estrela. Acredita-se que ela vá crescendo às custas da matéria que se encontra a seu redor, para acabar formando um novo planeta em milhões de anos.

Até então, os cientistas não esperavam que estrelas jovens tivessem grandes corpos planetários capazes de produzir outras estruturas. A imagem captada sugere ainda que o processo de formação planetária pode ser mais rápido do que se pensava.

Revolução do conhecimento

Em meio a uma grande expectativa do mundo científico e depois de mais de uma década de desenvolvimento, Alma abriu suas lentes há cinco anos, observando com uma nitidez inigualável duas galáxias em colisão situadas na constelação de Corvus e descobertas em 1785.

Situado na Planície de Chajnantor, em meio ao deserto do Atacama, o mais árido do mundo, em cinco anos de funcionamento, transformou-se em um dos melhores lugares para estudar a origem do Universo - o que já foi definido como a "Gênese do amanhecer cósmico".

"Estamos vendo apenas superficialmente a revolução do conhecimento humano sobre o Cosmos, que virá das mãos do Alma", acrescentou Cox.

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Desde que iniciou suas operações, o radiotelescópio também conseguiu encontrar moléculas orgânicas que são a base da existência da vida, como açúcares e álcoois. As moléculas estão presentes em "quase todos os rincões, para os quais (Alma) apontou suas antenas, o que nos aproxima das nossas origens cósmicas", afirma o Observatório, em um comunicado.

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Dentro de seu trabalho, o Observatório destaca ainda sua cooperação com a exploração espacial, depois de ajudar a sonda espacial NEW Horizons, da Nasa (a Agência Espacial americana), a localizar Plutão com precisão e a aproximar a nave de seu objetivo.

Alma explora o Universo, através das ondas radiais que galáxias, estrelas e outros corpos emitem e que não são captadas pelos telescópios ópticos e infravermelhos. Estes últimos percebem apenas a luz visível. O conjunto de radiotelescópios é um empreendimento conjunto de Europa, Estados Unidos e Japão, com a cooperação do Chile.