Elon Musk revela plano de 'cidade' em Marte

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 28/09/2016 às 7:47
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Laurent Thomet e Kerry Sheridan (AFP)

O diretor da empresa aeroespacial SpaceX, Elon Musk, revelou nesta terça-feira (27) seu ambicioso plano para enviar humanos em um grande foguete com cabines, a um custo mínimo de US$ 100 mil por pessoa.

Subindo no palco sob um grande globo de Marte no Congresso Internacional de Astronáutica, Musk mostrou sua visão de um foguete gigante que poderá levar homens e mulheres para o Planeta Vermelho "em nossa existência".

"Nós precisamos partir dessas missões exploratórias iniciais para realmente construir uma cidade", disse a uma multidão no centro de exposições com capacidade para milhares de pessoas, em Guadalajara.

000_GJ8VP Elon Musk naapresentação, realizada no México. Foto: Hector Guerrero/AFP

Musk exibiu um vídeo futurista, representando seu conceito de um sistema de transporte interplanetário baseado na reutilização de foguetes, em um propulsor em Marte e 1.000 espaçonaves em órbita, carregando 100 pessoas cada. A espaçonave teria restaurantes, cabines, jogos de gravidade zero e filmes. "Tem que ser divertido, ou excitante. Não pode ser apertado, ou chato", afirmou.

O primeiro voo seria caro, mas o objetivo é "tornar isso acessível para quase qualquer pessoa que queira ir", diminuindo o preço da entrada a cada vez até atingir os US$ 100 mil, disse Musk. Milhões de toneladas de carga também seriam necessárias para decolar a bordo do poderoso foguete, descrito por ele como uma "versão em escala do foguete Falcon 9", sistema atual da empresa que pode pousar verticalmente.

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O empresário americano-canadense nascido na África do Sul disse que o plano exige uma "parceria público-privada enorme" para estabelecer uma civilização humana autossustentável em Marte.

A SpaceX disse que seu plano é enviar a cápsula de carga não tripulada Dragon para Marte em 2018, criando um caminho para uma missão humana que deixaria a Terra em 2024 e chegaria ao Planeta Vermelho no ano seguinte.

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O foguete levaria uma nave espacial em órbita, que seria deixada lá, e pousaria de volta na Terra para pegar um tanque de combustível. Imediatamente, retornaria com a nova carga para a nave a fim de abastecer até sua viagem a Marte, descreveu Musk.

Uma vez em Marte, os seres humanos teriam de criar uma fábrica para produzir o propulsor, usando os recursos do planeta, como o metano, de modo a abastecer a nave espacial. Com isso, poderiam voltar para a Terra.

Objetivos agressivos

Para os especialistas, porém, chegar a Marte - a uma distância média de 225 milhões de quilômetros da Terra - e viver lá exigiria uma verdadeira proeza de engenharia e um investimento enorme.

Antes da apresentação de Musk, John Logsdon, ex-diretor do Instituto de Política Espacial na Universidade George Washington, disse que é improvável que Musk consiga cumprir o plano de chegar no planeta até 2025. Logsdon lembrou que o empresário já havia sido otimista anteriormente sobre seus foguetes.

"Primeiro que tudo é caro. Estamos falando de muitos bilhões de dólares e a SpaceX não tem essa quantidade de dinheiro", alegou.

Já o astronauta aposentado Leroy Chiao apontou que Musk "acumulou um grupo de peritos técnicos e operacionais, e que a SpaceX está gerando receitas a partir de lançamentos de foguetes". "Elon Musk fixa objetivos agressivos e ainda que nem sempre consiga na data exata, normalmente é capaz de alcançá-los. Eu diria que é possível", disse Chiao à AFP.

A agência espacial americana, a Nasa, que também pesquisa os efeitos no corpo humano de um voo espacial prolongado, anunciou seus próprios planos de enviar missões tripuladas a Marte na década de 2030.

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Corrida espacial comercial

A SpaceX não é a única empresa que sonha com enviar pessoas a Marte.

Fundada pelo diretor da Amazon, Jeff Bezos, a Blue Origin revelou este mês seus planos de construir um foguete chamado New Glenn para enviar humanos ao espaço. Mas o empresário assegurou que ir ao Planeta Vermelho pode levar décadas.

"Queremos que milhões de pessoas vivam e trabalhem no espaço em algumas décadas, se assim desejarem", declarou o presidente da Blue Origin, Rob Meyerson.

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Autora de um foguete que já realizou aterrissagens verticais, essa companhia está concentrada em achar uma forma de levar as pessoas ao espaço continuamente e a um menor custo.

A Blue Origin compete com a empresa espacial Virgin Galactic, do milionário britânico Richard Branson, na corrida para fazer viagens turísticas ao espaço.

Ao ser questionado, em Guadalajara, se Marte está dentro de seus objetivos, o diretor-executivo da Virgin Galactic, George Whitesides, afirmou: "minha visão e a de Richard é que vamos estar muito focados no planeta Terra em um futuro próximo".

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Enquanto a Virgin Galactic apresentou neste mês uma nova nave espacial com asas, a SpaceX e a Blue Origin lançaram foguetes que podem aterrissar verticalmente, uma conquista-chave que poderá reduzir os custos das viagens ao espaço, pois os foguetes seriam reutilizáveis.

A SpaceX desenhou o poderoso foguete Falcon Heavy, que poderia levar ao espaço a nave tripulada Dragon. No final deste ano, a empresa espera lançar o foguete de 70 metros de comprimento, que tem um impulso equivalente a 18 Boeing 747 juntos.

A SpaceX sofreu um revés em 1º de setembro, quando seu foguete Falcon 9 explodiu durante um lançamento de teste na Flórida.