Por Katherine Haddon (AFP)
Documentos tornados públicos nesta semana pelo governo britânico destacam a importância do agente duplo espanhol Joan Pujol, conhecido como "Garbo", que convenceu os alemães de que o desembarque aliado aconteceria em Pas-de-Calais, e não na Normandia.
Pujol foi um dos agentes mais importantes do MI5, o Serviço de Inteligência britânico, enganando Berlim com uma rede fictícia de espiões na Grã-Bretanha.
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O regime de Hitler nunca descobriu a trama e entregou a Pujol a Cruz de Ferro, quase ao mesmo tempo em que também era condecorado pelos britânicos.
"Garbo" convenceu os alemães de que o desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944, era uma manobra de distração, e que o grosso das tropas aliadas atravessaria o canal em Pas-de-Calais, no noroeste da França.
Desembarque na Normandia
Pujol disse à Berlim que "o ataque (na Normandia) era uma operação de distração em grande escala com o propósito de atrair o máximo das reservas alemãs e retê-las ali para aplicar um segundo golpe, com sucesso garantido", revela Tomas Harris, o agente encarregado de assessorar Garbo, em um relatório de 13 de junho de 1944. "Ele lhes deu motivos para acreditar que um segundo desembarque ocorreria em Pas-de-Calais", acrescentou Harris.
A importância de Pujol já era conhecida através dos testemunhos de Harris e de outros protagonistas do momento, mas os documentos divulgados nesta quarta-feira confirmam e ampliam sua participação. Aparentemente motivado por seu ódio ao fascismo adquirido na Guerra Civil espanhola, Pujol começou sua atuação transmitindo aos alemães informação falsa sobre a Grã-Bretanha a partir de Lisboa.
Após ser formalmente recrutado em uma visita à embaixada da Alemanha em Madri, quando informou que iria se estabelecer em Londres, Pujol passou a transmitir informações de uma rede fictícia de espiões, que incluíam basicamente dados defasados, revela um documento do MI5 de 12 de julho de 1943.
Pujol em dois momentos: durante a Segunda Guerra e na artilharia espanhola, em 1931
Nascido em Barcelona no ano de 1912 em uma família de classe média, Pujol viveu a Guerra Civil espanhola (1936-1939) nos dois lados do conflito: republicano e franquista.
Os britânicos, que rejeitaram a contribuição de Pujol a princípio, concluíram que poderiam aproveitá-lo como agente duplo e receberam-no em Londres em abril de 1942.
Araceli González, mulher de Pujol, não se adaptou à nova vida em Londres e, em 21 de junho de 1943, telefonou para Harris ameaçando revelar as atividades do marido na embaixada espanhola, caso não retornasse para a Espanha.
Descrevendo Araceli como uma mulher "altamente sensível e neurótica", Harris revelou como Pujol armou um plano para convencê-la de que havia sido detido por sua ameaça. Araceli foi levada a um centro de interrogatório para visitar Pujol simuladamente preso, e dois dias depois pediu desculpas aos britânicos, prometendo "jamais" comprometer o trabalho do marido como espião.
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Após a guerra, Pujol se mudou para Angola e lá simulou sua morte, um recurso tradicional dos Serviços de Inteligência.
Pujol foi morar na Venezuela, onde iniciou uma nova vida. Faleceu em 1988, mas antes retornou à Espanha, onde revelou sua história em uma série de entrevistas.
O historiador britânico Christopher Andrew, biógrafo oficial do MI5, descreveu Pujol como "o agente duplo mais importante da Segunda Guerra Mundial e, possivelmente, de todo o século XX".