Estúdio arquitetônico britânico recria horrores da guerra em 3D

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 04/09/2016 às 15:35
Sitting in front of screens showing Syria's Saidnaya military prison, recreated in harrowing 3D detail, architectural researcher Stefan Laxness (L) and Principal Investigator Eyal Weizman (R) pose for a photograph in their office at Goldsmiths, University in London on August 26, 2016. Human rights campaigners Amnesty International are the latest organisation to call on Forensic Architecture's (FA) expertise. Its interdisciplinary laboratory specialises in producing analysis and evidence to be used in human rights cases brought to international courts, with architecture a key tool in helping to accurately recreate events occurring in chaotic surroundings.  - TO GO WITH AFP STORY BY MYRIAM BENEZZAR
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Sitting in front of screens showing Syria's Saidnaya military prison, recreated in harrowing 3D detail, architectural researcher Stefan Laxness (L) and Principal Investigator Eyal Weizman (R) pose for a photograph in their office at Goldsmiths, University in London on August 26, 2016. Human rights campaigners Amnesty International are the latest organisation to call on Forensic Architecture's (FA) expertise. Its interdisciplinary laboratory specialises in producing analysis and evidence to be used in human rights cases brought to international courts, with architecture a key tool in helping to accurately recreate events occurring in chaotic surroundings. - TO GO WITH AFP STORY BY MYRIAM BENEZZAR / AFP / JUSTIN TALLIS / TO GO WITH AFP STORY BY MYRIAM BENEZZAR FOTO: Sitting in front of screens showing Syria's Saidnaya military prison, recreated in harrowing 3D detail, architectural researcher Stefan Laxness (L) and Principal Investigator Eyal Weizman (R) pose for a photograph in their office at Goldsmiths, University in London on August 26, 2016. Human rights campaigners Amnesty International are the latest organisation to call on Forensic Architecture's (FA) expertise. Its interdisciplinary laboratory specialises in producing analysis and evidence to be used in human rights cases brought to international courts, with architecture a key tool in helping to accurately recreate events occurring in chaotic surroundings. - TO GO WITH AFP STORY BY MYRIAM BENEZZAR / AFP / JUSTIN TALLIS / TO GO WITH AFP STORY BY MYRIAM BENEZZAR

Por Myriam Bennezzar - AFP

Fome, tortura, estupros: a triste realidade dos detidos na prisão militar síria de Saidnaya foi recriada até os últimos detalhes em três dimensões em Londres, como uma ferramenta a mais para lutar contra esses abusos.

A Anistia Internacional é a última organização a recorrer os serviços do estúdio Forensic Architecture (FA, Arquitetura Forense) para criar o primeiro modelo navegável da prisão e chamar a atenção sobre as atrocidades lá cometidas.

O ativista e arquiteto israelense Eyal Weizman, de 46 anos, criou a FA em 2011, que tem sua sede no sul de Londres, no campus da instituição Goldsmiths da Universidade de Londres.

Seu laboratório interdisciplinar é especializado em produzir análises e evidências para usar em casos de direitos humanos nos tribunais internacionais, com uma arquitetura que ajuda a recriar fato ocorridos em entornos caóticos.

Outros trabalhos da FA foram a reconstrução dos bombardeios de Gaza em 2014, o genocídio do povo indígena ixil na Guatemala - entre 1978-1984 - e o naufrágio de um barco em 2011 no mar Mediterrâneo com 63 refugiados a bordo.

Nenhuma organização ou jornalista conseguiu visitar a terrível prisão do regime de Bashar al-Assad, localizada a 25 quilômetros ao norte de Damasco.

Eyal Weizman. Foto: AFP / JUSTIN TALLIS Eyal Weizman. Foto: AFP / JUSTIN TALLIS

A FA reconstruiu o local a partir dos testemunhos de presos e imagens de satélite, assim como materiais públicos.

"Trata-se de ir desemaranhando os fatos a partir de pequenos detalhes", explicou o investigador de arquitetura Stefan Laxness.

"Reparamos nos detalhes do espaço mencionados inadvertidamente pelos presos e usamos isso para reconstruir o que experimentaram. Isso nos ajudou a entender a forma como a prisão poderia estar estruturada. Começamos a constatar um padrão na trajetória dos presos no recinto".

Um detido, por exemplo, descreveu como os raios de sol iluminavam uma certa parte de sua cela em um determinado horário, o que serviu para verificar seu relato.

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"Quando você coloca a cela em um espaço com uma certa orientação, e faz uma simulação do sol, vê se o depoimento  concorda com os parâmetros físicos. De algum modo, isso valida e testemunho e a história", disse Laxness.

Os investigadores viajaram para Istambul a fim de entrevistar "testemunhas auditivas" que estiveram vendadas durante sua passagem pela prisão ou não tinham uma visão do conjunto.

Estas testemunhas eram igualmente úteis para estabelecer o ritmo de vida na prisão e as rotinas dos torturadores.

Arquitetura para ordenar todas as fontes  A FA é o único escritório de arquitetura que realiza essas análises e trabalha para Human Rights Watch, as cortes internacionais e para a ONU.

Seu trabalho combina elementos de cartografia, direito e ecologia, com novas tecnologias como o 3D e a narração de vítimas e testemunhas.

"A arquitetura proporciona uma visão crucial, vital para entender os conflitos modernos", disse Weizman, explicando que o transferência dos conflitos para entornos urbanos exige uma nova perspectiva.

"A cidade é um entorno midiático intenso", acrescentou. "Há um monte de jornalistas e cada vez mais e mais cidadãos que filmam o que acontece ao seu redor".

"Para ter uma imagem com todas essas fontes deve-se construir maquetes arquitetônicas e situar todos esses vídeos no espaço, para reconstruir a narração dos fatos", acrescentou.