Lucy, a famosa australopithecus, provavelmente morreu ao cair de uma árvore

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 29/08/2016 às 16:10
768px-Lucy_Australopithecus_Restoration_model FOTO:

Por Mariëtte Le Roux, Pascale MOLLARD (AFP)

Lucy, a famosa australophitecus que viveu na África há 3,18 milhões de anos, provavelmente morreu ao cair de uma árvore, revela um estudo científico publicado nesta segunda-feira pela revista Nature.

Os ossos do braço de Lucy se estilhaçaram com o impacto da queda - um tipo de trauma também comum em vítimas de acidentes de carro, afirmaram pesquisadores dos Estados Unidos e da Etiópia.

Seus ferimentos sugerem que "ela estendeu os braços no momento do impacto, em uma tentativa de amortecer a queda", disse à AFP o antropólogo e coautor do estudo John Kappelman, da Universidade do Texas, em Austin, que analisou as diferentes fraturas reveladas pelo fóssil.

Professor John Kappelman. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER Professor John Kappelman. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER

Lucy, que media cerca de 1,10 metros, teria caído de uma altura de mais de 12 metros, a uma velocidade de mais de 56 km/h, segundo Kappelman. "A morte aconteceu muito rápido", afirma.

Até agora, não havia nenhuma teoria oficial sobre as circunstâncias da morte de Lucy, que pertence à espécie Australopithecusafarensis - um membro extinto da família dos hominídeos, que incluem os seres humanos modernos e todos os nossos ancestrais - e cujos ossos foram descobertos na Etiópia, em 1974.

Estudos anteriores sugeriram que a quebra dos ossos havia ocorrido após o falecimento.

O novo estudo, baseado em imagens 3D de alta resolução, mostrou que as fraturas foram bastante consistentes com um impacto traumático, como uma queda de uma altura "considerável", disse a equipe.

As novas descobertas adicionam, ainda, provas à teoria de que Lucy e sua espécie passaram parte do seu tempo em árvores.

A descoberta de Lucy, um dos fósseis de hominídeo mais completos já descobertos - seus ossos compõem quase 40% de um esqueleto - preencheu uma grande lacuna na árvore evolutiva humana.

Embora Lucy tivesse um crânio, mandíbulas, dentes e longos braços similares ao de um macaco, ela andava ereta como nós.

Lucy foi considerada durante muito tempo a "mãe da humanidade". Hoje, porém, já não é vista como a ancestral direta do homem, mas como uma prima distante.

No entanto, a popularidade do fóssil A.L.288-1 continua sendo imensa.

Fóssil de Lucy. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER Fóssil de Lucy. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER

"TRISTE NOTÍCIA" -  Durante dez dias, a equipe escaneou o fóssil e obteve imagens de tomografia computadorizada de alta resolução.

As imagens mostraram que Lucy também teve fraturas no tornozelo, joelho, pelve e pelo menos uma costela, o que sustenta a tese da queda fatal e sugere que ela deve ter sofrido lesões graves nos órgãos internos, concluíram os pesquisadores.

"Triste notícia, pobre Lucy!", comenta o paleoantropólogo Yves Coppens, que participou da equipe que descobriu o fóssil.

"Os arborícolas têm, em geral, uma habilidade espantosa, agilidade, equilíbrio. Após 20 anos vendo arborícolas (chimpanzés, gorilas, etc.) em seu meio natural, nunca vi ocorrer algo assim", afirma Coppens à AFP.

"Mas a priori não sou hostil a essa tese, que vale tanto como qualquer outra", acrescentou o pesquisador.

"Lucy vivia ao mesmo tempo no solo e nas árvores, e as características físicas adaptadas que a permitiam andar ereto e se deslocar de modo eficaz sobre a terra podem ter comprometido sua habilidade para escalar as árvores. Sua espécie teria uma predisposição a sofrer quedas com mais frequência", explicou John Keppelman.

Professores John Kappelman (E) e Richard Ketcham. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER Professores John Kappelman (E) e Richard Ketcham. Foto: AFP PHOTO / NATURE / MARSHA MILLER