[Assunto da semana] - FBI vs Apple

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 21/02/2016 às 7:37
FBI Apple FOTO:

XX

do JC, com agências

De um lado, as agências e órgãos públicos que querem acesso e controle aos dados dos usuários. Do outro, as empresas privadas que veem seus contratos diminuírem na mesma medida que a desconfiança do público em relação a sua segurança aumenta.

Durante a semana, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o FBI bateram de frente com a Apple em mais uma queda de braço sobre privacidade e segurança.

Essa discussão vem esquentando desde 2013, quando o ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward Snowden, denunciou as práticas de monitoramento do governo norte-americano na rede.

Na última terça-feira, um juiz federal em Los Angeles ordenou que a Apple criasse um software para contornar o sistema de segurança do iPhone e evitar que o aparelho deflagre seu sistema de apagamento automático.

O recurso destrói os dados inseridos no aparelho caso haja dez tentativas seguidas de acesso com senha incorreta. O iPhone em questão pertencia a Syed Farook, que em com sua mulher, Tashfeen Malik, matou 14 pessoas no Departamento de Saúde Pública de San Bernardino, onde trabalhava. Farook e Malik foram mortos depois em tiroteio com a polícia local e há suspeita que estivessem sob influência do Estado Islâmico.

A Apple reagiu contra a decisão e disse que apelará em uma instância mais alta – o que pode levar o caso à Suprema Corte. Em uma carta aberta publicada no site da empresa, o presidente-executivo Tim Cook afirma que o pedido do juiz tem implicações assustadoras. “O governo dos EUA pediu algo que não temos e que consideramos perigoso demais para criar, uma entrada secreta para o iPhone. Querem que a Apple aja como hacker contra seus usuários e solape décadas de avanços de segurança contra hackers e cibercriminosos”.

Aproveitando a briga, John McAfee, criador do antivírus McAfee, chegou a se oferecer para “desbloquear” o iPhone. “Trabalho com uma equipe dos melhores hackers do planeta. Aposto que podemos quebrar a criptografia”, afirmou.

Nos dias que se seguiram, Google, Facebook, Windows, Twitter e o próprio Snowden declararam apoio à iniciativa da Apple. Todas fazem parte de um grupo de companhias que pede por reformas na política de vigilância do governo. Elas foram expostas quando Snowden vazou documentos que comprovavam sua colaboração fornecendo dados ao governo americano nas investigações de supostos grupos terroristas. O caso gerou grande repercussão negativa para as empresas, que passaram a serem vistas com desconfiança pelos usuários – boa parte são grandes corporações, que não ficariam nem um pouco felizes em saber que seus dados estão à disposição de qualquer pessoa, seja governo, terroristas ou pior, da concorrência.

“Na verdade o que a Apple e essas empresas querem é chamar a atenção do público para passar a imagem que eles estão fazendo de tudo para proteger a privacidade dos usuários e tentar aliviar a pressão do governo”, avalia o especialista brasileiro em segurança da informação, e presidente da Aker Security Solutions, Rodrigo Fragola. Para o executivo, a Apple aproveitou um caso isolado para levantar mais uma vez o debate da privacidade. “A política norte-americana de exigir a inclusão de backdoors para os sistemas de comunicação fabricados no País é algo que já está consolidado na legislação de guerra dos EUA”, afirma o especialista.

As companhias de tecnologia argumentam que as funções de segurança existem para proteger seus clientes contra hackers e que “enfraquecer” essas funções, mesmo que para ajudar numa investigação, poderia ter consequências graves caso as ferramentas caiam em mãos erradas. Além disso, diz Cook, “as autoridades poderiam estender essa violação de segurança e exigir que a Apple crie softwares de vigilância para interceptar suas mensagens, acessar seus dados médicos ou financeiros, rastrear sua localização e acessar o microfone e câmera dos celulares sem o seu conhecimento”.