Estudo contesta teoria de que regiões de Marte têm água líquida

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 21/12/2015 às 16:08

Foto: Nasa. Foto: Nasa.

Meses após o anúncio da “maior evidência” apresentada de água líquida em Marte pela Nasa, citando o degelo em encostas durante os meses mais quentes no planeta, um estudo de dois cientistas franceses afirmou não ter encontrado qualquer indício dela em outras ravinas pesquisadas. Segundo François Forget e Cedric Pilorget, do instituto nacional francês de astronomia, outras áreas exploradas indicam que os movimentos são compostos por gás carbônico.

De acordo com a dupla, que escreveu suas revelações na “Nature Geoscience”, a estranha formação geológica que foi flagrada em trópicos de Marte pela Nasa durante meses pode não ser necessariamente uma espécie de salmoura, com sais minerais sendo dissolvidos em líquido. No entanto, eles não se referem às zonas antes estudadas, e sim outras regiões, como crateras e montanhas.

Tendo em conta a já provada descoberta de CO2 em ravinas do planeta vermelho, Pilorget e Forget fizeram simulações computadorizadas de algumas ravinas chegando à conclusão de que uma fina camada de CO2 preso na camada de gelo das montanhas e crateras eventualmente conseguiriam rompê-la e desceriam pelo solo, promovendo um fluxo de gás e detritos — que poderia ser interpretado usualmente como água líquida.

"Algumas ravinas, ou até todas, não possuem água líquida, inviabilizando a formação de organismos vivos", advertiu Forget.

Para eles, no entanto, não há implicações diretas de que sua revelações coloquem em dúvida a descoberta da Nasa, que em setembro afirmou que suas imagens de satélite indicavam água em estado líquido em áreas tropicais do planeta vermelho. Eles afirmam que não há relação de seu estudo com as revelações anteriores.

"Ravinas foram detectadas em regiões próximas ao equador que provavelmente foram criadas por outros mecanismos", alertou à AFP Pilorghet. "Mas nada pode ser excluído em definitivo, porque há outros processos complementares que podem estar atuando".

A comunidade científica admite que Marte já teve grande quantidade de água em estado líquido, e a Nasa aceitou este ano que o hemisfério norte do planeta pode ter sido um oceano com grandes profundidades em sua extensão. O estudo dos franceses lembra que outras ravinas encontradas em Marte eram interpretadas décadas atrás como derretimento antigo de calotas polares ou ainda vazamentos de água subterrânea há centenas de milhares de anos. No entanto, nos últimos anos chegou-se à conclusão de que as condições de temperatura no planeta não permitiam que a água chegasse ao estado líquido. [Da Agência O Globo]