Lua de Marte já apresenta sinais da sua futura destruição

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 13/11/2015 às 8:53

Uma das estranhas luas de Marte, Phobos vai sumir. (Divulgação) Uma das estranhas luas de Marte, Phobos vai sumir. (Divulgação)

Fendas na superfície de Phobos, a maior das duas pequenas luas de Marte, indicam que ela já sofre com forças de maré da gravidade do planeta que deverão despedaçá-la daqui a 30 a 50 milhões de anos.

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De acordo com estudo apresentado esta semana durante reunião anual da Sociedade Astronômica Americana (AAS), as longas e rasas fendas em sua superfície indicam que ela já sofre com as forças de maré que deverão despedaçá-la daqui a 30 a 50 milhões de anos. Orbitando a meros 6 mil quilômetros acima da superfície de Marte, Phobos é a lua em posição mais próxima de seu planeta no Sistema Solar e continua sendo gradualmente atraída por Marte, chegando cerca de dois metros mais perto a cada século.

"Acreditamos que Phobos já começou a se romper, e os primeiro sinal deste colapso é a produção destas fendas", diz Terry Hurford, pesquisador do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e um dos autores do estudo.

Os cientistas a princípio acreditavam que as longas fendas em Phobos foram causadas pela colisão de um objeto que formou a cratera Stickney e por pouco não a despedaçou. Com o tempo, no entanto, eles observaram que as fendas não se irradiavam da cratera como se pensava, mas de um foco próximo, levando a proporem que elas teriam sido produzidas pro vários pequenos impactos de material ejetado de Marte.

Hurford e seus colegas, porém, produziram um modelo que sugere que as fendas na verdade são marcas de tração que se formam à medida que Phobos é deformada pelas forças de maré da gravidade marciana. A Terra e a Lua se atraem da mesma forma, o que provoca as idas e vindas das marés nos oceanos e deixa nosso planeta levemente achatado, e não perfeitamente esférico.

Embora a mesma explicação para as fendas tenha sido proposta décadas atrás, depois que as sondas Viking, também da Nasa, enviaram imagens de Phobos nos anos 1970, na época acreditava-se que a lua era razoavelmente sólida. Assim, quando as forças de maré foram calculadas, elas foram apontadas como fracas demais para causar fraturas em uma lua sólida daquele tamanho, com formato irregular e dimensões de cerca de 27 × 22 × 18 quilômetros. Hoje, porém, acredita-se que o interior da lua é, na verdade, formado por uma pilha de escombros que mal se mantém unida, cercado por uma camada de regolito (fragmentos de pedras e poeira) com cerca de cem metros de espessura.

"O que é interessante sobre nosso resultado é que ele mostra que Phobos tem um material de certa forma coesivo no seu exterior", conta Erik Asphaug, pesquisador da Universidade do Estado do Arizona em Tempe e coautor do estudo. - Isso faz sentido quando você pensa no comportamento de materiais poeirentos em microgravidade, mas é um tanto contraintuitivo.

Segundo os cientistas, um núcleo “frouxo” assim faz com que ele se distorça facilmente por não ter a resistência necessária para se manter perfeitamente coeso frente às forças de maré, ainda que relativamente pequenas, da gravidade de Marte. Isto força a camada externa a se reajustar, acumulando estresse que eventualmente levará ao surgimento de fendas, como previsto pelo modelo e observado na superfície da lua marciana. Isso também ajuda a explicar a observação de que algumas das fendas parecem muito mais jovens que outras, o que se encaixa no caso de ser um processo em constante ação.

Tritão, uma das luas de Netuno, deverá ter o mesmo destino de Phobos. A lua netuniana também está lentamente caindo em direção ao planeta e apresenta sinais de estresse em sua superfície. De acordo com os cientistas, o estudo pode ajudar ainda nas pesquisas sobre planetas extrassolares, muitos dos quais orbitam bem próximos de suas estrelas.

"Não podemos fazer imagens destes planetas distantes para saber o que está acontecendo, mas este trabalho pode nos ajudar a melhor entender estes sistemas, pois qualquer planeta que esteja caindo em direção à sua estrela-mãe seria despedaçado da mesma maneira", conclui Hurford. [Da Agência O Globo]