Comunidades indígenas aderem às redes sociais e novas tecnologias

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 02/11/2015 às 12:49

Foto: EBC. Foto: EBC.

Por onde quer que se ande na Vila dos Jogos Mundiais Indígenas, em Palmas (TO), é comum encontrar participantes de olhos vidrados na tela de um telefone celular. A nova geração de indígenas do país está conectada e, segundo eles explicam, não há resistência nas aldeias ao uso de tecnologia.

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A Oca Digital, espaço reservado para cursos de ferramentas digitais na vila dos Jogos, fica lotada o dia inteiro. São indígenas de todo o país que querem aprender mais sobre tecnologia nas aulas ministradas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac Tocantins ). E quem não usa uns dos 30 computadores da oca aproveita o wifi gratuito no espaço para contar para a aldeia e para o mundo as experiências vividas durante os dias dos jogos.

“Eu costumo usar o Facebook para conversar com as meninas, com a família que mora longe e também para postar sobre a cultura indígena. Na minha aldeia tem rede de wifi e a conexão é boa”, explica Hebert Javaé, da etnia com mesmo nome . Ele mostra orgulho com as curtidas que recebeu ao postar fotos com o tetracampeão mundial de paracanoagem, Fernando Fernandes, que visitou sua a aldeia localizada na ilha do Bananal, no estado do Tocantins. Indígenas mais velhos também têm aproveitado para criar os próprios perfis.

Foto: AFP. Foto: AFP.

Tecnologia em prol dos direitos

Para a pequisadora sobre educação indígena, Marina Terena, a cultura das etnias também é dinâmica e não está imune às transformações que a sociedade vive. “É preciso que isso se torne claro para o não índio, para acabar com determinados preconceitos. A tecnologia já está disponível para todas populações, indígenas ou não indígenas. O próprio movimento indígena hoje se mantém graças à tecnologia, através da disseminação da luta de seus direitos, sua cultura, sua história e trajetória”, explica.

Marina Terena acrescenta que os projetos que têm levado intenet para as aldeias são reivindicações dos próprios indígenas, principalmente da turma mais jovem. “Há um tempo, não tinhamos nem energia. Hoje a gente tem aldeias com elementos urbanos, com energia, com acesso a internet. As redes de conexão chegam principalmente por causa das escolas indígenas e, na maioria das vezes, a conexão é disponilibizada para o restante da aldeia”.

Nas aldeias que ainda não possuem rede de internet, os smartphones garantem a conexão. Nahhuri Javaé, da aldeia Canoanã, em Tocantins tinha que caminhar até a cidade mais próxima para acessar as redes sociais em lan house. Agora, vai poder utilizar o celular novo, comprado em Palmas durante os Jogos. “Eu acesso a internet para saber das notícias dos outros povos indígenas,mas aqui nos Jogos estou usando para adicionar no Facebook as pessoas que conheci”, comenta.

indios

Whatsapp em Kuikuiro e pefil no Snapchat

Engana-se quem acha que a proximidade com a tecnologia faz os indígenas perderem contato com a própria cultura. Atsu Kuikuro, da etnia que vive em povoados no Mato Grosso, explica que em grupos de WhatsApp a conversa é no idioma dos Kuikuro. “ A gente alterna, às vezes fala em português, às vezes na nossa língua. Em Kuikuro é mais fácil porque a gente pensa em Kuikuro, é a língua que a gente fala desde pequeno”.(inseirir aqui a foto do grupo dele de whatsapp).

Além do WhatsApp, Atsu tem perfis no Facebook, no Snapchat e no Instagram. “Eu usei (as redes sociais) para postar fotos de toda esta festa. Na minha aldeia muita gente ainda não tem celular, mas todos sabem usar. Quem não tem quer comprar”.

Para Marina Terena, apesar da tecnologia ser uma aliada na busca por conhecimento na divulgação das causas indígenas, o equílibrio no uso é importante. “Essa é uma questão que não é só da sociedade indígena, mas da sociedade como um todo. É preciso equilíbrio. As redes sociais são ótimas ferramentas, mas é preciso o cuidado no uso para que o celular não traga uma indivizualização”, explica. [Do Portal EBC]