Hubble capta mudanças na Grande Mancha de Júpiter

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 14/10/2015 às 8:59

Divulgação/Nasa. Divulgação/Nasa.

Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar, formado essencialmente por gases e tem massa equivalente a mais de 300 Terras, mas é um detalhe em sua atmosfera que chama a atenção dos cientistas. Batizado como Grande Mancha Vermelha, o enorme anticiclone está ativo há pelo menos três séculos, mas imagens captadas recentemente pelo telescópio espacial Hubble revelam que ele continua encolhendo. Em relação ao ano passado, a tempestade diminuiu em 240 quilômetros.

"Cada vez que olhamos para Júpiter, temos indicações de que algo realmente emocionante está acontecendo", disse Amy Simon, cientista planetária no Centro de Voo Espacial Godddard, da Nasa, em Maryland. — Esta vez não foi exceção.

Pesquisadores da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) produziram novos mapas com base em imagens capturadas por um período de dez horas por uma das câmeras a bordo do Hubble. É o primeiro de uma série anual de retratos dos planetas externos do Sistema Solar, que devem aumentar o conhecimento humano sobre esses corpos pelo estudo de mudanças ao longo do tempo.

Os novos mapas de Júpiter vão permitir aos cientistas determinar a velocidade dos ventos em Júpiter, identificar diferentes fenômenos e rastrear mudanças da Grande Mancha Vermelha. As imagens confirmam que a imensa tempestade está diminuindo, “mas não sem uma luta”, diz a ESA, em comunicado.

“A Grande Mancha Vermelha está diminuindo de tamanho em ritmo notadamente mais rápido de ano para ano, mas, agora, a taxa de redução parece estar desacelerando”, afirmou a agência espacial.

E as mudanças não foram observadas apenas na dimensão. A Grande Mancha Vermelha, na verdade, está mais para o laranja. E no centro da tempestade, que está menos intenso em cores do que já foi, um fino e incomum filamento pode ser visto ao longo de toda a largura do vórtice. O filamento gira e se retorce ao longo das dez horas de imagens, sob a pressão dos ventos que sopram a 540 quilômetros por hora.

Júpiter, o maior dos planetas do Sistema Solar, em foto tirada pela câmera do Campo Amplo Três do telescópio Hubble. (Foto: Divulgação/Nasa) Júpiter, o maior dos planetas do Sistema Solar, em foto tirada pela câmera do Campo Amplo Três do telescópio Hubble. (Foto: Divulgação/Nasa)

E no cinturão equatorial, os pesquisadores encontraram uma estrutura que se assemelha a uma onda que havia sido visualizado apenas uma vez, há décadas, pela Voyager 2. Nas imagens da época, a onda era quase imperceptível, e nunca mais foi observada até a elaboração desses novos mapas pelo Hubble. Ondas similares, conhecidas como baroclínicas, também são formadas na atmosfera da Terra, onde ciclones estão sendo formados.

"Até agora, nós pensávamos que a onda vista pela Voyager 2 teria sido obra do acaso", disse Glenn Orton, do Laboratório de Propulsão da Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia. "Como se constata, é apenas rara".

As observações fazem parte da missão Atmosferas de Planetas Externos (Opal, na sigla em inglês), que instrui o Hubble a dedicar uma parte do tempo anualmente para observar esses planetas. Além de Júpiter, Netuno e Urano já foram observados e os mapas serão divulgados em breve, Saturno será adicionado ao programa posteriormente.

"A coleção de mapas que vamos construir ao longo do tempo não vai apenas ajudar os cientistas a compreenderem as atmosferas dos nossos planetas gigantes, mas também as atmosferas de planetas que estão sendo descobertos orbitando outras estrelas, e a atmosfera e os oceanos da Terra também", disse Michael Wong, coautor do estudo sobre Júpiter e pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley.