Por que a energia fotovoltaica nas residências deveria ser financiado pelo Governo

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 02/03/2015 às 12:09

Foto: Reprodução/www.gesaction.cl. Foto: Reprodução/www.gesaction.cl.

O incentivo do Governo federal para aquisição de equipamentos de energia solar poderia ajudar na popularização da microgeração de energia. É o que pensam pesquisadores brasileiros em energia solar. Eles defendem que o governo crie linhas de crédito especial para a aquisição e a instalação de energia solar fotovoltaica (que transforma energia solar em energia elétrica) em residências.

O tema foi discutido durante a 1ª Escola Internacional de Energia Solar, que ocorreu na última semana na Universidade de Brasília (UnB).

Para o professor da UnB Rafael Shayani, um dos organizadores do evento, esse modelo de microgeração distribuída, com a instalação de painéis nas casas, é bem promissor, pois não ocupa grandes áreas como as usinas solares e o excedente de energia é enviado à rede pública, em um sistema de compensação. "Poucas pessoas sabem disso, é como se o relógio rodasse para trás. Com essa expectativa de que a energia elétrica vai subir 40%, a solar não vai ficar mais tão cara, se houver subsídio do governo", disse.

Segundo professor, em Minas Gerais, por exemplo, há mais procura porque é um estado com incidência solar favorável e onde o preço da concessionária de energia é mais alto, então o retorno do investimento será mais rápido.

Foto: Reprodução/ecocasa.com.br. Foto: Reprodução/ecocasa.com.br.

Segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina Ricardo Rüther, investir em geração de energia não é papel do consumidor final, mas é ele quem acaba pagando a conta, então precisa de condições de financiamento. "É um assunto que não está bem equacionado no Brasil. O financiamento é o gargalo. Comparando com a indústria automobilística, se o consumidor é bom pagador, hoje ele sai da concessionária com carro financiado até com juro zero. Como consumidor de energia elétrica, todo mundo é bom pagador, então por que não posso entrar em uma loja e sair com um contrato, para inclusive gerar recursos para pagar um telhado solar?", perguntou o professor.

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Investimento hoje pode chegar a R$ 15 mil

Rüther explica que o investimento em um sistema de energia solar fotovoltaica é maior que no de aquecimento solar, usado geralmente em chuveiros, e pode variar de R$ 12 mil a R$ 15 mil, de acordo com a média de consumo das famílias. O retorno financeiro desse sistema vai variar de cinco a dez anos, com o uso de um equipamento que vai durar 25 anos em média.

Segundo o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Fernando Martins, o Brasil já tem regulamentação para o uso dessa energia, então as pessoas só dependem de mais incentivo e informação. "O benefício é a longo prazo, com o tempo as famílias vão economizar e ajudar o país a enfrentar uma crise hídrica, consumindo a energia da própria residência, enquanto os reservatórios possam ser enchidos", disse.

Existem hoje no Brasil 317 empreendimentos em operação gerando energia solar fotovoltaica, com potência de 15,1 mil kW, 0,01% da energia utilizada no país. As usinas hidrelétricas produzem 62,55% da energia consumida. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Foto: Reprodução/blue-sol.com. Foto: Reprodução/blue-sol.com.

Impacto ambiental baixo

Fernando Martins explica que os impactos ambientais da geração fotovoltaica são bem menores do que de qualquer fonte de energia e a integração urbana em telhados é uma ótima saída e não necessita de infraestrutura de transmissão. "Mesmo uma grande usina fotovoltaica não traz mais danos que uma hidrelétrica, conseguimos a mesma energia com área muito menor e podemos também usá-la para outros fins, por exemplo, se a área tiver também um potencial eólico. Uma forma não prejudica a outra, existem tecnologias de aproveitamento", explicou.

"O importante é deixar claro que o Brasil tem recursos renováveis suficientes para atender à demanda de energia elétrica do país. Precisamos criar alternativas e informar às pessoas o potencial que temos", argumentou Martins. [Com Agência Brasil]