Como as gambiarras estão mudando nossa relação com a tecnologia

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 26/02/2015 às 15:18

Foto: Reprodução/Maker. Foto: Reprodução/MusicMaker.rs

I ? gambiarra!

O Brasil sempre foi apregoado como o "país do jeitinho", do improviso. E as gambiarras acabaram se tornando um dos ícones deste estereótipo. Mas o mundo deu voltas e agora um movimento atual celebra essas "criatividades" na forma como lidamos com os objetos, repensando coisas e dando novas funções ao que parecia lixo.

Os amantes de gambiarra são os representantes legítimos do maker movement, que propõe a recriação das coisas. Essas pessoas ainda contestam uma tendência ruim em voga atualmente: a obsolescência programada. Quando compramos um smartphone ou uma geladeira esses produtos já saem de fábrica com um tempo de vida mais ou menos estipulado. As gambiarras subvertem esse processo pensando em novas soluções.

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O termo se originou em Portugal e designava as ligações clandestinas de energia e a iluminação da perna dos atores durante uma peça de teatro. Vem de "gambi", que em italiano quer dizer haste ou suporte e do sufixo basco -arra, um aumentantivo. No entanto também chegou a ser usado como termo para "relação extraconjugal" (está no dicionário Houaiss), mas foi no Brasil que a palavra ficou popular com uso relacionado ao improviso a partir materiais industriais.

Como em geral não dispõe de técnica, a gambiarra sempre foi vista como algo ruim e o uso da palavra em geral tem conotação pejorativa. Segundo o doutor em arquitetura e urbanismo Rodrigo Naumann Boufleur, a gambiarra subverte a ordem do sistema capitalista e confere personalidade quando tudo converge para sermos iguais. "Por meio deste tipo de ação o indivíduo enfatiza sua expressividade pessoal ante o caráter legislador do circuito de consumo. A gambiarra ilustra a possibilidade que qualquer cidadão tem de conferir a si mesmo autonomia e independência".

Mas a gambiarra também tem sua dose de perigo, por isso é importante ficar atento às questões de segurança. A internet está lotada de soluções malucas a um ponto do desastre, como usar fiação dentro de banheiras ou uso de metal em instalações elétricas. Quando era criança levei diversos choques na tentativa de transformar um objeto em algo diferente. O bancário Raphael Wellington é um apaixonado assumido das gambiarras, sempre a andar com fio e restos de outros produtos eletrônicos no carro ou na mochila.

"As gambiarras tecnológicas saem mais baratas que o produto disponível no mercado e muitas vezes trazem mais benefícios práticos", diz. Sua gambiarra mais engenhosa foi na época do Diskman, que consumia em poucas horas toda a energia das pilhas AA. "Não existiam ainda as pilhas recarregáveis então fiz uma bateria de 12v a partir de uma lâmpada de emergência. O problema era o tamanho, por isso sempre levava o aparelho na mochila. Ao menos tinha autonomia para 3 dias de uso", contou.

Veja abaixo uma lista de engenhocas postadas por brasileiros nas redes sociais.

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