Webconferência melhora a vida de pacientes do interior de Pernambuco

Romeu Leite Coutinho
Romeu Leite Coutinho
Publicado em 21/10/2014 às 11:00

(Foto: Mayra Cavalcanti) A sala de tele-presença é usada para demandas internas e externas do HC, principalmente para cursos. (Foto: Mayra Cavalcanti/MundoBit)

Maria dos Santos* é moradora do município de Petrolina, no Sertão pernambucano. Apresentando um problema de saúde, procurou atendimento médico na Unidade de Saúde da Família (USF) mais próxima da sua casa. O profissional de saúde, no entanto, teve dúvidas sobre o diagnóstico de Maria. Se há 11 anos a paciente precisaria ser encaminhada para a Capital, agora o caso dela pode ser visto por um especialista do Recife sem precisar que ela saia do local onde mora, através da tecnologia.

Foi com o objetivo de evitar os deslocamentos de pacientes como no caso de Maria (e de muitos outros moradores de cidades do interior do estado) que funciona desde 2003 a RedeNutes, coordenada pelo Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Programa Telessaúde Brasil Redes, do Ministério da Saúde. Situado no segundo andar do Hospital das Clínicas (HC), o setor trabalha com a telessaúde, principalmente nas partes de tele-educação e teleassistência. Em outras palavras, o núcleo é responsável pela educação de profissionais de saúde e auxilia no diagnóstico dos pacientes, ambos a distância.

Apesar de não ser muito conhecido pela população e até pelos próprios profissionais de saúde, o serviço reduziu, ao longo dos 11 anos de trabalho, 76% dos encaminhamentos (deslocamento de pacientes) nos 90 municípios pernambucanos cadastrados no sistema.

(Foto: Mayra Cavalcanti) Apesar de não ser muito conhecido pelas pessoas, o serviço começou, na UFPE, em 2003. (Foto: Mayra Cavalcanti/MundoBit)

De acordo com a assistente de telessaúde e teleconsultora da RedeNUTES, Camila Sabino, na parte da tele-educação são realizados seminários, cursos e é disponibilizada uma biblioteca virtual. "Nós queremos levar as informações para quem está fora do polo médico. Então, além desses seminários, que acontecem todas as semanas com temas variados, damos treinamento para o uso dos serviços e fazemos visitas técnicas", explica. Já na área da teleassistência, existe a teleconsultoria síncrona (em tempo real) e assíncrona (em que o médico tem até 72h para responder o questionamento de um solicitante).

"Durante a semana, os teleconsultores do Recife, como cardiologistas, enfermeiros e fonoaudiólogos têm um horário fixo para ficar 'online' na plataforma e disponível para as demandas", afirma Camila. Porém, se surgir alguma dúvida e o profissional de saúde do Recife não estiver disponível na hora, o solicitante pode enviá-la através da plataforma e o médico terá até 72h para responder. Um terceiro viés da tele-assistência é o telediagnóstico, que na RedeNutes acontece através do TeleECG, serviço de eletrocardiograma a distância.

(Foto: Mayra Cavalcanti) A sala de videoconferência é utilizada no dia a dia principalmente para a tele-educação (Foto: Mayra Cavalcanti/MundoBit)

Por meio dele, pacientes de Olinda, na RMR e Arcoverde, no sertão, podem fazer eletrocardiograma, permitindo a captura, armazenamento e distribuição de sinais e imagens médicas integradas aos serviços de telessaúde. Desta forma, o cardilogista no Recife recebe o exame no momento em que ele é feito e já pode enviar o laudo para o profissional responsável pelo paciente em Olinda e Arcoverde.

Segundo a assistente de telessaúde e teleconsultora da RedeNUTES, Mariana Boulitreau, o setor faz, em média, 50 teleconsultorias e 120 eletrocardiogramas por mês. No entanto, existem alguns fatores que impedem o crescimento da telessaúde no estado. "Apesar de fazermos frequentemente treinamentos nos municípios, muitas pessoas não sabem utilizar computador ou simplesmente não têm conectividade (internet). Isso dificulta um pouco nosso trabalho. A rotatividade dos profissionais no interior é muito grande, o que também atrapalha", acrescenta.

A empresa Polycom é a fabricante dos equipamentos utilizados na sala de tele-presença da UFPE. No país, são apenas cinco salas dotadas de tecnologias iguais a dela, todas em Universidades Públicas. Além da UFPE, a empresa também tem como clientes a Petrobras e a Vale. "Recife é um grande polo (de saúde) no Brasil e o acesso não é o mesmo em cidades do interior de Pernambuco. Então é uma forma de você permitir esse acesso", disse o vice-presidente na América Latina da Polycom, Pierre Rodrigues. Um paciente dessas cidades, por exemplo, pode ter uma segunda opinião médica com um especialista em oncologia da Capital, através de videoconferência.

*Maria dos Santos é uma personagem fictícia. A UFPE não revela nomes de pacientes por uma questão de sigilo médico e diz que todas as demandas partem do médico.

(Foto: Mayra Cavalcanti/MundoBit) (Foto: Mayra Cavalcanti/MundoBit)