Brasil recebe o mais moderno laboratório de pedras preciosas da América Latina

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 20/08/2014 às 10:02

Brasil espera voltar ao ranking da produção mundial. (Divulgação/USP). Brasil espera voltar ao ranking da produção mundial. (Divulgação/USP).

O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, inaugurou hoje (19), na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro, o Laboratório de Pesquisas Gemológicas (Lapege), considerado o mais moderno laboratório de pedras preciosas da América do Sul. O objetivo, segundo o pesquisador responsável da unidade, Jurgen Schnellrath, é melhorar o desenvolvimento do setor brasileiro de gemas, joias e bijuterias.

“A nossa competência aqui é mais voltada para a parte de identificação e caracterização de pedras preciosas, mas também metais preciosos”, explicou o pesquisador. O Lapege está equipado para comprovar se uma pedra tem, de fato, origem natural ou se é uma imitação sintética, como muitas que são encontradas no mercado. “Isso parece ser muito fácil, mas nem sempre é”.

Segundo Schnellrath, existem no Brasil muitos laboratórios menores que fazem a identificação básica, com equipamentos de baixo custo, alguns subordinados ao Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Segundo explicou, o Cetem obteve financiamento para a compra de equipamentos analíticos de ponta, inclusive espectrofotômetros, aparelhos que medem e comparam a quantidade de luz absorvida por determinada solução.

“Com esses espectrofotômetros, nós hoje estamos habilitados a ir um pouco além do que aqueles laboratórios básicos podem ir”, explicou. Deu como exemplo um diamante colorido que vale, em alguns casos, mais de US$ 1 milhão, o quilate, que é um quinto do grama. Explicou, porém, que é possível criar essa cor de forma artificial nos diamantes. “Você induz essa cor”. Por isso, é complicado detectar a autenticidade do material usando ferramentas rudimentares. “Daí, o Cetem ter investido nas técnicas mais avançadas, para poder resolver problemas que até hoje não tinham solução”.

Até agora, os interessados em comprovar a autenticidade de uma pedra tinham que enviar o material para os Estados Unidos e aguardavam meses por uma certificação. “Hoje, nós passamos a ter um laboratório no país capaz de dar essas respostas em menor tempo e sem ter que enviar para tão longe”.

A meta é estabelecer um acordo de parceria com o IBGM, que representa o setor no país e nos eventos internacionais, pelo qual o Cetem deixaria de emitir laudos, hoje no volume de 100 por ano, passando essa atribuição aos laboratórios de menor porte. Isso é importante, salientou Schnellrath, porque a compra de uma joia depende da confiança do consumidor de estar comprando a coisa certa. “É importante ter laboratórios capacitados para poder o consumo interno também acontecer”. A certificação facilita também as transações, reforçou.

De acordo com dados do IBGM, o setor brasileiro de gemas e joias gera 350 mil empregos diretos e registrou, em 2012, faturamento de R$ 7,5 bilhões. Cerca de 96% da cadeia produtiva é formada de micro e pequenas empresas. O Brasil é um tradicional fornecedor de pedras preciosas. “Foi o maior produtor mundial de diamantes, durante 150 anos, desde o início da época colonial até 1866, quando foram descobertos diamantes na África do Sul”, ressaltou o coordenador do Lapege.

De volta ao ranking mundial

Embora não apareça entre os grandes fornecedores mundiais de diamantes, o Brasil voltará em breve ao cenário internacional de exportadores do produto, de acordo com Jurgen Schnellrath, coordenador do novo Laboratório de Pesquisas Gemológicas (Lapege) do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Ele disse hoje (19) à Agência Brasil que pesquisadores nacionais já começam a trabalhar a possibilidade de lavrar o diamante na rocha primária, fora dos rios e aluviões, e isso vai alteral o perfil da produção brasileira de diamante, que hoje resulta basicamente da garimpagem, que é uma atividade informal e de baixa produtividade.

Schnellrath informou que em 2015 será feita a primeira operação de lavra na rocha primária, o que colocará o país em um novo patamar na produção de diamantes. A partir da primeira descoberta de diamante em rocha primária, no município de Braúnas, na Bahia, ele acha que a tendência é de aumento exponencial. “Sabemos que o potencial geológico existe no país. É uma questão também, infelizmente, de esperar o novo marco regulatório da mineração, que está segurando os investimentos”, acrescentou. Mas reafirmou que "a tendência é favorável”.

O projeto de Braúnas está sendo tocado pela empresa Lipari Mineração, de origem canadense, e deverá entrar em operação no ano que vem. O pesquisador do Cetem informou que há outros locais favoráveis para a lavra do diamante em rocha primária, na região do Triângulo Mineiro, como a Serra da Canastra e o município de Coromandel. Nessas localidades, especialmente em Coromandel, foram encontrados em áreas secundárias, de aluviões, os maiores diamantes do Brasil, com 500 e 800 quilates, lembrou.

Schnellrath descartou que a descoberta em Braúnas possa despertar uma corrida para esses locais, “porque a lavra em rocha primária não é coisa para garimpeiro. É uma lavra difícil, que exige equipamento pesado, muito investimento, e é um projeto de longo prazo”. O garimpeiro, ao contrário, trabalha de forma tradicional, na superfície. No caso do diamante primário, é preciso aprofundar-se a até centenas de metros, disse. “E, às vezes, ainda partir para uma lavra subterrânea, em alta profundidade. Então, não é coisa para garimpeiro”, sustentou.

Por isso, ele acredita que a descoberta em Braúnas não levará a uma corrida pelo diamante no país. Isso aconteceria se houvesse a ocorrência de novos jazimentos aluvionários e se fosse liberada a exploração em terras indígenas, por exemplo, disse ele. [Da Agência Brasil]