Pierre Levy no Brasil: "Nenhuma revolução foi tão rápida quanto a digital"

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 16/04/2014 às 10:13

Foto: Divulgação/EBC. Foto: Divulgação/EBC.

Chegar ao ano 2040 vivendo na era de interatividade coletiva mais poderosa e que possibilite o surgimento de universos de conhecimento e ficção. Esse é o futuro imaginado pelo teórico francês Pierre Lévy quando o assunto são os novos formatos e gêneros que serão usados na internet. O estudioso lembra que, com base nas evoluções das últimas décadas, os serviços mais utilizados na atual realidade virtual (Google, blogs e redes sociais) são frutos da última década. “Nenhuma revolução na história foi tão rápida”, pondera justificando o curto espaço de tempo que projeta para as próximas grandes inovações.

Os novos formatos na internet foram tema de discussão da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece em Brasília até a segunda-feira (21). O debate, que contou com a participação de Lévy e do professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), André Lemos, deixou claro que tratar do novo não necessariamente significa deixar o antigo de lado. “O papel sobrevive. Pesquisas recentes mostram que, quem lê mais livros digitais, também lê mais impressos. A leitura como prazer também é apontada como estando fora da forma digital”, destacou Lemos.

Para o professor, avaliar as mudanças recentes em formatos e gêneros diante da internet é muito mais do que tratar de adaptações. “Não devemos pensar apenas no que temos hoje adaptado a essas novas possibilidades. Os meios de amanhã também vão criar novos gêneros”, avalia. “Temos também, que diferenciar os gêneros, o que deve ou não ser lido de forma linear”, complementa Lévy.

Ainda entre as previsões, está a construção de uma espécie de memória em perspectiva por meio da grande rede. “Em formatos como a Wikipedia, o artigo é o consenso da ideia dominante em um determinado momento. No futuro,o que se imagina é que, por meio de um ecossistema de ideias, todos possamos expressar nosso ponto de vista, mesmo sendo minoritário”, conclui Levy. Também pode-se esperar, para um espaço ainda mais curto de tempo, que autores coletem informações como a quantidade de dias que seus leitores levam para ler um e-book e se utilizem disso como estratégia para produções futuras. "O que está em jogo na cultura digital é a conexão, mas o grande desafio é como conseguir se isolar para ler", conclui Lemos. [Do Portal EBC]