Cooperação no espaço segue firme, apesar da crise entre Rússia e EUA

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 24/03/2014 às 16:21

Expedição 38, da ISS, em foto tirada em fevereiro deste ano (Foto: Divulgação/Nasa). Expedição 38, da ISS, em foto tirada em fevereiro deste ano (Foto: Divulgação/Nasa).

Nada de estresse dentro da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Enquanto aqui na Terra aumentam as tensões entre EUA e Rússia, no espaço a convivência é tranquila entre o russo Mikhail Tyurin e o norte-americano Rick Mastracchio.

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Eles dividem a ISS com um terceiro tripulante, o japonês Koichi Wakata. O trio está há 138 dias na ISS, estação que orbita o nosso planeta a 400 quilômetros de distância. O lugar, que tem o tamanho de um campo de futebol, possui seções separadas para cada país, com toaletes e sistemas de ar-condicionado, mas diversos laboratórios e controles ficam em áreas comuns. O mesmo pode se dizer das centrais de comando em solo.

Desde o fim da Guerra Fria que EUA e Rússia se ajudam mutuamente em missões espaciais. Com o fim das missões dos ônibus espaciais, a Nasa passou a usar a base de lançamentos russa no Cazaquistão para enviar e trazer de volta astronautas do espaço. Isso significa que, caso as relações entre os dois países fique tensa pra valer, será necessário criar uma outra alternativa para sair da nossa órbita além da Soyuz.

Nave Soyuz é decisiva para amizade

Esta terça (24), dois russos e um americano, tripulantes da ISS, regressaram nesta terça-feira à Terra, após seis meses no espaço, informou o centro russo de controle de voos espaciais.

A nave com o americano Michael Hopkins e os russos Oleg Kotov e Serguei Riazanski - que em novembro passado realizaram uma caminhada histórica no espaço carregando a tocha olímpica dos Jogos de Inverno de Sochi - pousou sem problemas e na hora prevista, 07H24 local (00H24 Brasília), no Cazaquistão.

A agência espacial russa cobra 70 milhões de dólares por assento para fazer o transporte de astronautas americanos, informou uma fonte da Nasa ao site Haaretz.

Em entrevista ao site da Discovery, o astronauta Leroy Chiao, que comandou a ISS por seis meses entre 2004 e 2005, disse que a convivência a bordo é boa e que os astronautas falam sobre tudo, inclusive sobre política. "Com algo assim [a crise envolvendo a Crimeia] acontecendo, tenho certeza que a tripulação está falando sobre isso, mas de uma maneira amigável".

Já Mike Hopkins, que retornou este mês do espaço após quase seis meses por lá disse que considera os colegas russos como "amigos próximos". A Nasa chegou a divulgar um comunicado oficial semana passada: "Estamos confiantes que nossas duas agências espaciais continuarão a trabalhar próximas, apesar dos vários altos e baixos na relação entre EUA e Rússia."

Cooperação "tem que dar certo"

Apesar do clima ser bom no espaço, aqui na Terra alguns especialistas já estão temerosos. A primeira preocupação seria o fim do uso da Soyuz caso as relações cheguem a um ponto crítico. "Seria uma catástrofe", disse John Logson, membro da conselho da Nasa, que estimou o possível fim das relações entre as duas agências em 20 a 25%. "Há uma dependência mútua que motiva o isolamento disso [cooperação espacial] das questões mais amplas".

Hoje, Rússia e EUA lideram uma cooperação internacional na ISS que envolve 15 países e um orçamento de 100 bilhões de dólares. Além disso, nos últimos anos, a maior parte das atividades no espaço têm envolvido diversos centros e agências.

Um dos exemplos é a proposta de enviar uma missão à lua de Júpiter, Europa, anunciada no início deste mês. Nos planos iniciais, a Nasa, a agência europeia e a japonesa lançarão sondas para investigar um possível oceano de água salgada no satélite. A Rússia está sendo considerada, apesar de não confirmada, para fazer parte da missão. [Com AFP, Discovery, Nasa e Space]