Perfil: Startup pernambucana quer auxiliar comunicação e educação dos surdos

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 14/04/2013 às 12:45
ProDeaf Movel FOTO:

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Os amigos de turma Amirton Chagas, Flávio Almeida e João Paulo Oliveira tinham um colega surdo em sua turma de Ciência da Computação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi esse aluno, Marcelo Amorim, uma das inspirações para criação do ProDeaf, o aplicativo que auxilia a comunicação usando a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O app foi disponibilizado gratuitamente para Android, chega nas próximas semanas para iOS e Windows Phone e é um dos destaques no campo da inovação este ano no Brasil.

"Vimos que Marcelo nadava contra a maré para concluir seus estudos, o que acontece hoje com a maioria dos surdos no país", explica Amírton Chagas, na sede da ProDeaf, no Porto Digital no Recife. A empresa, que passou dois anos na incubadora do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), acaba de se instalar em uma sala ampla em um prédio no Bairro do Recife. "Marcelo no início nos ajudou muito na parte técnica, pois desse foi possível ver a usabilidade. Foi imprescindível essa consultoria".

ProDeaf Movel

O ProDeaf traduz frases do português para Linguagem Brasileira de Sinais, tanto através de reconhecimento de voz quanto de texto. Há também um dicionário. Além de auxiliar na comunicação entre surdos, serve também para auxiliar pessoas no estudo de Libras. Hoje, a empresa possui intérpretes que estão sempre atualizando o sistema com novas expressões, palavras, gírias. "Nossa intenção é ficar cada vez mais regionalizado, pois assim como o português, a língua dos surdos também possui suas variações, características próprias, dependendo do Estado", conta Amírton.

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O ProDeaf tem potencial para auxiliar na educação dos deficientes auditivos no Brasil. Infelizmente, nem todos conseguem concluir o ensino superior como o colega Marcelo Amorim. Segundo a Federação Nacional de Integração e Educação dos Surdos (Feneis), há cerca de 10 milhões de surdos no Brasil e destes, 2,5 milhões possuem baixa ou nenhuma capacidade de leitura em português. Há muitos que sabem se comunicar unicamente por Libras. Isso acaba sendo um empecilho grande para o acesso ao ensino.

Atualmente, o interesse da ProDeaf é vender o sistema para empresas interessadas em melhorar a acessibilidade. O primeiro foi o Bradesco Seguros, que hoje já tem seu site traduzido para Libras pela startup pernambucana. "Foi a Bradesco também que possibilitou o app gratuito para dispositivos móveis. Eles são tanto nosso cliente quanto patrocinador", diz o sócio-fundador Flávio Almeida. A Telefônica anunciou semana passada que irá contar com a ProDeaf em seus sites. A novidade foi recebida com entusiasmo, como comprova os 2 mil downloads em menos de 24 horas e cerca de 5 mil desde o lançamento no início deste mês.

prodeaf

A empresa tem uma trajetória de prêmios que reforçam o caráter inovador do aplicativo. Eles venceram o Imagine Cup, da Microsoft e desde então conseguiram patrocínio através de editais do CNPQ, Sebrae e da Wayra, instituto da Telefonica voltado para startups, e Bradesco. "Nossa intenção é mostrar a importância do aprendizado de Libras para o Brasil. Estamos felizes com os resultados até aqui e com os feedbacks que estamos recebendo. Recentemente, um usuário surdo disse que estava usando o app com seu fonoaudiólogo. Ou sejam, as pessoas estão descobrindo novos usos", conta Amírton. Baixe o app via Android.

Uma rede colaborativa para cegos

Alunos do curso de Ciência da Computação pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) criaram o Smart Audio City Guide, um sistema baseado em GPS, voltado para pessoas com deficientes visuais. As informações registradas são transmitidas por áudio e tem uma proposta colaborativa para avisar sobre árvores, lombadas, postes, que aparecem no caminho.

Segundo os fundadores Renata Claro, Gabriel Reganati e Thiago Silva, a ideia é criar uma comunidade onde todos possam colaborar. Segundo o IBGE, mais de 16 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência visual. A startup venceu o terceiro lugar no concurso de inovação Imagine Cup promovido pela Microsoft.