Hollywood ainda luta para aproveitar a tecnologia 3D

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 26/12/2011 às 17:03

Dois anos depois do grande sucesso de "Avatar" em 3D, Hollywood ainda luta para definir como aproveitar realmente esta tecnologia, enquanto os espectadores, já cansados da novidade, rejeitam os inconvenientes óculos que permitem desfrutar do efeito tridimensional.

Apesar de 2011 terminar com dois filmes em 3D com boa recepção do público - a animação de Steven Spielberg "As Aventuras de Tintim" e a fábula de Martin Scorsese "A Invenção de Hugo Cabret" -, os cineastas ainda devem determinar o que funciona e o que não em três dimensões, segundo os analistas.

Após uma série de filmes que derraparam na bilheteria com esta tecnologia, em abril estreia a versão em 3D do blockbuster "Titanic", de James Cameron, o mesmo diretor de "Avatar".

Mas os analistas destacam que o 3D não é mais suficiente para captar espectadores, irritados de pagar mais por algo que nem sempre os satisfaz.

"A distribuição de filmes em 3D em 2011 foi uma lição tanto para os estúdios como para as salas de cinema", declarou à AFP Jeff Bock, analista de bilheteria da empresa Exhibitor Relations.

"Apesar da estreia de quase 40 filmes (em 3D) este ano, os estúdios estão reduzindo os filmes neste novo formato. O motivo? O público não vai pagar por uma obra em 3D que não ofereça uma imagem de primeira".

A revolução 3D - ou a mais recente tentativa de fazer cinema em 3D - acontece no momento em que a indústria do cinema tenta reinventar-se com a multiplicação dos formatos para assistir um filme.

É possível afirmar que Hollywood está buscando seu "momento iTunes", como aconteceu com o sucesso da loja online da Apple para a indústria da música, ante a concorrência da pirataria, os downloads ilegais e o 'streaming' (acesso a arquivos de áudio e vídeo na internet sem download prévio).

A julgar pelos fracassos de bilheteria este ano de grandes produções em 3D, como "Conan, o Bárbaro", "Glee" e "Pequenos Espiões 4", assim como o de vendas de aparelhos de televisão 3D, esta tecnologia não parece ser a solução dos problemas da indústria.

"Dois pontos importantes para os consumidores continuam sendo o preço da TV e a necessidade de usar óculos", destacou a empresa de pesquisas de mercado NPD em abril, mas os números das vendas no final do ano eram melhores.

A gigante japonesa de videogames Nintendo teve que reduzir o preço de seu novo console 3DS em até 40% em julho, depois das vendas decepcionantes da nova versão.

Mas muitos cineastas ainda apostam nesta tecnologia: no Festival Internacional de Cinema de Busan, na Coreia do Sul, em outubro, os destaques foram produções de baixo orçamento em 3D.

"O orçamento não importa, é a história o que importa no cinema e isto é igual quando se usa o 3D", disse o diretor sul-coreano Choo Sang-rok, do filme "Persimmon".

Para Spielberg, no entanto, o 3D deve ser utilizado apenas quando necessário.

"Não concordo com meus colegas que acreditam que cada filme deve ser em 3D. É uma ferramenta a mais em uma caixa de ferramentas enorme", disse à revista Variety.

"Penso que o 3D deve ser usado quando há algo para aproveitar disto, não apenas para poder escrever '3D' no cartaz do filme", completou.

Mas segundo rumores, Spielberg avalia fazer uma versão 3D de "Jurassic Park", o que para os críticos teria apenas a finalidade de faturar mais.

Os longas-metragens em 3D são filmados com duas câmeras, cujas imagens são unidas graças aos óculos especiais. Mas os filmes em "3D falso" são produzidos com câmeras normais e depois processados em computador para simular múltiplas camadas de profundidade.

Scorsese admitiu a preocupação depois de decidir filmar "Hugo" em 3D.

"Tínhamos medo. Era como caminhar pela corda bamba", declarou à BBC.

Segundo os analistas, Hollywood não dará as costas ao 3D, mas aprenderá com os erros.

"Os estúdios serão muito mais criteriosos sobre o que estreará em 3D nos próximos anos. Não se enganem: o 3D não vai a lugar algum, está apenas se adaptando, sempre e quando o público responder", disse Bock.

Em 2012, Hollywood aposta mais uma vez no 3D com filmes como "Homens de Preto 3", o novo "Homem Aranha", "Os Vingadores" e "O Hobbit", disse Bock.

Mas "Dark Knight Rises", o retorno de Christopher Nolan ao papel de Batman, provavelmente a maior bilheteria do ano, estreará apenas em 2D.

"Tudo se resume à história. Sempre foi assim e sempre será", conclui Bock.

[AFP]