Info@Trends: Julian Assange chama grande imprensa de mentirosa e acredita na mobilização online

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 01/09/2011 às 11:11
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SÃO PAULO - O fundador do WikiLeaks iniciou a primeiro dia do Info@Trends, evento de tecnologia e tendências digitais que acontece em São Paulo. Com ar calmo, ele falou pela primeira vez a uma plateia de brasileiros e lamentou o fato de não poder estar pessoalmente no Brasil. Assange falou da Inglaterra através de telepresença sobre a transparência global que é a base da filosofia de sua organização e criticou governos e imprensa. Ele fez queixas às grandes organizações de mídia que foram peças importantes na divulgação de documentos vazados. Segundo ele, o New York Times e o The Guardian editaram dados importantes sobre corrupção e desvio de dinheiro e sobre movimentações militares no Oriente.

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Assange comentou o vazamento de documentos da Bulgária que mostrava que um grupo especializado em combater a corrupção e fazer a vigilância das leis estava totalmente fiel ao Governo e ao primeiro-ministro. Mostrava claramente a penetração do estado búlgaro no crime organizado. O jornal The Guradian retirou quase todos os nomes citados e dos 213 envolvidos no esquema deixou apenas um russo, que já estava na pauta de matérias investigativas do jornal. "Entrevistei o editor do Guardian sobre o que estava acontecendo em relação a esses cortes e eles disseram que não poderiam citar pessoas e empresas com poder econômico suficiente para processar o jornal. Seria muito caro e arriscado", revelou.

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"O Guardian estava escondendo a verdade do povo búlgaro", disse Assange. O New York Times também tem uma história interessante sobre a manipulação dos dados vazados. A reportagem do jornal estava interessada em revelar que o Governo da Coréia do Norte enviou mísseis para o Irã e que por estar muito perto da Europa, isso representaria um perigo. "Na verdade, no documento que vazamos estava claro que eram apenas peças sobressalentes". O despacho diplomático deixava evidente que não houve essa passagem de material bélico entre os dois países. Das quase 60 páginas, apenas dois parágrafos foram publicados. Além desses dois episódios diversos outros fatos foram omitidos, cortados ou editados pelas empresas de mídia.

Para Julian Assange, essa prática revela a ligação que essas empresas tem como o poder e o desejo que possuem em manter uma legitimidade desses governos. "Esses grupos são hipócritas e mentirosos. Parecem trabalhar segundo o interesse dos leitores e da população, mas na verdade escondem fatos importantes e seguem interesses econômicos e políticos". Por isso, o principal problema do WikiLeaks ainda é publicar de forma sólida e completa. Nos últimos quatro anos, eles nunca deixaram de publicar os papeis descobertos na íntegra, mas dependiam de parceria com grandes veículos como The Guardian, Der Spiegel e The Guardian para que os dados chegassem ao grande público.

Agora conhecidos no mundo inteiro, o WikiLeaks busca melhorar sua forma de publicar. Eles desenvolveram um sistema que permite uma busca entre seus dezenas de milhares de documentos e também trazem de forma que todos possam ler, ou seja, como uma leitura mais leve e de fácil entendimento. "Ainda estamos aprimorando esse formato e recebendo o feedback de usuários". A organização também tem se empenhado em traduzir documentos. Dados recentes ligados a países do Oriente Médio foram traduzidos para o francês e o Árabe, o que ajudou a catalisar as revoltas nos países árabes desde o final do ano passado. Segundo a Anistia Internacional, o WikiLeaks foi um dos responsáveis pela Primavera Árabe, série de revoltas populares que derrubaram governos da Tunísia e Egito este ano.

E se o WikiLeaks declarou guerra a jornais como o The Guardian, Assange espera um maior apoio dos blogs e sua cobertura independente e também das pessoas no Twitter. "Não devemos ter medo das organizações e dos governos. Com nosso novo modelo de publicação, já temos pessoas tuitando sobre documentos lidos no site", disse. Segundo Assange, a população não é tão conservadora quanto os veículos de comunicação.