Projetos sociais de informática não trazem inclusão, diz pesquisa

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 07/08/2011 às 11:02
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Ilustração: Erika Simona / NE10

Uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco coloca por terra programas do Governo ou ligados a organizações não-governamentais que tem o intuito de promover inclusão digital de comunidades pobres. Um estudo da mestranda Maria Neuza Pedrosa mostrou que esses projetos nem sempre trazem inclusão social.

A pesquisadora estudou alunos do projeto Informática para a Comunidade, criado pelo Ministério da Educação e pela Unesco, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. Ela constatou que os alunos não saem da perspectiva instrumental, ou seja, apenas aprendem a utilizar as máquinas, sem que aquilo tenha impacto social no cotidiano e no meio social. "É o que chamamos de 'inclusão subalterna'. Esses estudantes acabam trabalhando em empregos que não agregam status e trazem uma ascenção social bastante limitada", disse Maria ao MundoBit.

Para a pesquisadora, esses projetos focam apenas uma dimensão, que é de facilitar o ingresso no mercado de trabalho. Durante a entrevista, Neuza Pedrosa citou além do Informática para a Comunidade, outras iniciativas, como a Escola Itinerante da Prefeitura do Recife. Para alcançar outros níveis de inclusão digital, Maria Neuza sugere que o Informática para a Comunidade trabalhe questões como direitos humanos e sociedade.

"Os alunos não aprendem a utilizar aquele conhecimento para proporcionar uma inclusão social efetiva". A dissertação defende três níveis de inclusão: a digital, onde a pessoa apenas aprende a usar as tecnologias, o informacional, onde o aluno consegue trabalhar em cima dessas informações, como criar um blog, por exemplo, e o nível social. "Neste é possível desenvolver atividades que estimulem a cidadania, modifiquem o meio social em que vivem e tragam melhorias de vida".

A ideia dessa ascenção social limitada trazida por esses projetos, e mais especificamente o Informática para a Comunidade, levou a estudiosa a levantar alguns exemplos. Um deles fala de uma empregada doméstica que aprende a usar um computador para poder buscar novas receitas para suas patroas. Ou o porteiro que com as noções em informática consegue ficar mais atento ao que acontece no prédio. "O feedback que trago para essas iniciativas é que elas não são ruins, mas seus gestores precisam perceber falhas para dar novas perspectivas aos alunos".