Banda Larga no Grande Recife: acesso cresce, mas ainda enfrenta desafios

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 23/07/2011 às 10:19

Poucas pessoas conseguem lembrar do velho barulhinho disparado pelo discador ao tentar acessar a internet, anos atrás. Em tempos de conexões velozes e demanda por banda larga de alta velocidade, a internet discada parece um passado remoto. O Grande Recife tem boas opções de operadoras para quem quer navegar com velocidade, mas a cidade - e Pernambuco como um todo - está longe do ideal se comparado a outras capitais. Em todo o Estado há apenas 255 mil conexões numa população de quase 9 milhões de habitantes, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). As opções são variadas tanto no tipo de tecnologia utilizada quanto na velocidade, mas o NE10 apurou que, com o mercado aquecido, os desafios ainda são muitos para aumentar a qualidade da navegação e tornar esse tipo de serviço popular.

Atualmente, a velocidade de 2MB (megabites) é a mais usada pelos clientes de banda larga em Pernambuco, com cerca de 37%. Das quatro operadoras pesquisadas - Oi Velox, SIM (antiga Cabo Mais), GVT e NET - todas trabalham com esse valor, mas já cresce uma demanda por uma web mais veloz. Até a chegada da GVT ao Estado, a taxa de 1MB era tida como uma velocidade alta. A Cabo Mais ainda vendia seus parcos 100 Kbps e 500 Kpbs como uma proposta de internet veloz. A adesão a esses serviços também tinham uma razão prática de disponibilidade. Em cidades como Paulista e bairros de Olinda, era praticamente impossível conseguir navegar com algo muito diferente da internet discada. A possibilidade de venda em combo, com oferta de TV e telefone fixo também facilitou a popularização e a chegada a lugares onde antes não tinha infraestrutura.

Atualmente, as cidades do Grande Recife com as maiores populações já são cobertas pelas operadoras, Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista. O interior também tem registrado altos índices de acesso. Petrolina, no Sertão, por exemplo, tem mais pessoas com internet banda larga (9.273) do que Paulista, na Região Metropolitana, com 7.404. Mas o preço ainda é caro. A velocidade de 10 Mbps custa cerca de R$ 69,90, mas pode aumentar caso o cliente não opte por levar junto outros serviços. A prática já foi motivo de críticas e acusações de venda casada. Quando chegou ao Recife, alguns clientes reclamaram da GVT por tornar o preço nada atrativo para quem escolher não levar telefonia fixa junto no pacote. "Como os investimentos e a rede para fornecer os serviços de telefonia fixa e banda larga são os mesmos, a GVT consegue oferecer preços mais competitivos quando os dois serviços são contratados em conjunto", disse a operadora em entrevista por email.

A GVT é uma das poucas a oferecer internet de 100Mbps, a mais rápida disponível na região. Segundo ela, no Recife, assim como outras cidades onde trabalha, é possível contratar essa velocidade, mas informou que a banda larga de 15Mbps é a mais adquirida. Desde que a operação local foi lançada em outubro de 2009, a cobertura dobrou em um ano, quando a previsão inicial era de 60%. Com preços agressivos em relação a sua principal concorrente, a Velox, da Oi, a empresa encontrou na região um bom mercado. Mas esse crescimento já enfrenta entraves. Em algumas áreas da cidade já existe uma "malha lotada", uma fila de espera para poder assinar os serviços. "Com o intuito de garantir a qualidade dos serviços prestados, cada central telefônica utilizada pela empresa comporta um número máximo de linhas. Para que novos clientes sejam adicionados na central telefônica de determinada região, é preciso que atuais clientes solicitem o cancelamento do serviço", disse a operadora.

A GVT informou ainda que pode ser definida uma ampliação da rede de acordo com o aumento da demanda em determinada área. A NET, a mais nova a operar com oferta de internet no Recife chegou oferecendo a mesma proposta dos combos. "Estamos trazendo ao Recife o que temos de melhor do mundo no setor, com possibilidade de levar até 100 Mbps a um único domicílio", disse o diretor regional da operadora, José Antônio Félix. Com clientela em TV por assinatura, a NET chega para acirrar ainda mais a concorrência seguindo a tendência das vendas em conjunto com outros serviços, no que isso tem de bom e ruim. Em separado, os preços ainda continuam caros. Num contexto nacional, a empresa é líder em número de clientes, mesmo operando apenas em 95 cidades em todo o Brasil. Está em primeiro lugar com 23,1%, seguido do Oi Velox, com 18% e GVT, com 14,5%.

A presença marcante da Oi (antiga Telemar) no mercado de telefonia, arrastou muitas assinantes para a Velox, serviço de banda larga, que durante anos, foi o único disponível para muitas regiões. Com a crescente concorrência, a operadora tem buscado uma renovação em seus pacotes e na expansão da rede. No primeiro trimestre deste ano, o investimento foi de R$ 829 milhões, 123% a mais do que o mesmo período do ano passado. Grande parte do dinheiro foi usado para o aumento de velocidade. Com opções de até 20Mbps, a Oi ainda tem entraves para oferecer conexões de 15Mbps, dependendo da localidade. "A instalação do serviço Velox depende de uma análise prévia da linha telefônica do cliente, da capacidade da central telefônica a qual ele está ligado e da infraestrutura do endereço em que o serviço será habilitado", afirmou a empresa em nota. Perguntada sobre porque ainda oferecer planos de internet discada, a Oi disse que espera "atender clientes com os mais diversos perfis de consumo e necessidades".

Apesar de algumas limitações técnicas, como não oferecer internet de 100Mbps, das empresas analisadas pelo NE10, a Oi foi a que trabalhou com os menores preços. A análise levou em consideração a contratação em separado de planos ou combos. A mais cara entre as analisadas foi a Cabo Mais, que mudou o nome para SIM depois que foi adquirida pelo grupo Bandeirantes. A reportagem entrou em contato com a operadora através da assessoria, mas não obteve retorno, por isso as informações foram obtidas pelo atendimento eletrônico e pelo site. A banda larga de 1Mbps custa R$ 54,90 e a de 2Mpbs fica por R$ 84,90, os dois únicos pacotes disponíveis. Esse cenário deve mudar, mas alguns antigos assinantes ainda mantêm suas bandas de 500 Kbps.

FORA DO AR - Mercado aquecido, aumento do uso da banda larga, claro, não demoraria para surgirem as reclamações na oferta do serviço. Segundo a Anatel, a telefonia ainda domina o ranking, mas já existem problemas recorrentes relacionados a velocidade, taxa de transferência (tráfego) e serviço fora do ar. O órgão definiu direitos aos usuários de banda larga, como a não suspensão do serviço sem solicitação, possibilidade de cancelamento ou interrupção sem ônus e tratamento não discriminatório quanto às condições de acesso. As regras valem para o ADSL (assimétrica, por cabo), Cable Modem e via rádio.

A Anatel também orienta que o cliente deve antes registrar sua reclamação junto à operadora. O prazo para o retorno é de cinco dias úteis, e as empresas têm direito de resposta. Menos técnico, o Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon) também recebe clientes insatisfeitos. "Não é nosso carro-chefe, mas tudo que é do interesse do consumidor mexe conosco", disse o diretor-regional José Rangel. "Os maiores motivos diz respeito ao contrato. Grande parte das insatisfações são relativas às velocidades diferentes daquelas contratadas.

INTERIOR ESTREITO - Partindo rumo ao interior do Estado, a banda larga não é tão larga assim. Problemas estruturais dificultam o acesso à internet, com a necessidade de instalar fibra ótica em locais distantes dos grandes centros. São em cidades do Sertão e Agreste que o preço da internet no Brasil destoa ainda mais do que é cobrado no mundo. Outro problema que dificulta é a falta de concorrência. É nesse cenário desolador que o Plano Nacional de Banda Larga deve atuar. Criado ano passado, o PNBL espera massificar conexões velozes em lugares distantes.

Quem irá cuidar do processo é a estatal Telebrás. Depois de muitas negociações, as concessionárias aceitaram oferecer um serviço de acesso rápido por R$ 35, sem necessidade de contratação de linha telefônica em todos os municípios, como queria a presidente Dilma Rousseff. As empresas reclamam da falta de subsídio do Governo e da possibilidade de sofrerem sanções da Anatel caso não cumpram a oferta do PNBL. As três operadoras Oi Velox, GVT e NET, procuradas pela reportagem manifestaram interesse em atuar no Interior, mas ainda sem um plano definido.

Aquele barulhinho do discador pode até já ter sido esquecido, mas a situação da internet rápida no Grande Recife e, sobretudo em Pernambuco está longe de ser ideal.

Acessos de Banda Larga no Grande Recife
Recife 155.876
Jaboatão dos Guararapes 19.230
Olinda 14.119
Petrolina 9.273
Paulista 7.404
Caruaru 6.657
Garanhuns 3.359
Cabo de Santo Agostinho 3.124
Vitória de Santo Antão 2.892
Arcoverde 2.507
Carpina 2.380
Camaragibe 2.236
Abreu e Lima 1.648
São Lourenço da Mata 1.568
Salgueiro 1.531
Gravatá 1.175
Serra Talhada 1.222
Igarassu 1.092
Ipojuca 1.073


Banda estreita - As cidades com os menores números de acesso
Xexéu 19
Venturosa 9
Solidão 7
São Vincente Ferrer 6
Brejinho 5
Santa Cruz da Baixa Verde 4
Brejão  4
Santa Terezinha 3
Granito 2
Carnaubeira da Penha 1
Belém de Maria 1