Zika: cerca de 40% das crianças desenvolvem subluxação do quadril a partir do 1º ano de vida

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 25/04/2018 às 11:15
Graças à cirurgia ortopédica, Graziella Vitória consegue sentar sozinha e abrir as pernas (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)
Graças à cirurgia ortopédica, Graziella Vitória consegue sentar sozinha e abrir as pernas (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) FOTO: Graças à cirurgia ortopédica, Graziella Vitória consegue sentar sozinha e abrir as pernas (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Ao longo do desenvolvimento das crianças que nasceram com a síndrome congênita do zika, cuja malformação mais conhecida é a microcefalia, os médicos perceberam que cerca de 40% delas desenvolveram deformidades nos quadris, relacionadas diretamente ao comprometimento neurológico causado pelo vírus, a partir do primeiro ano de vida. A estimativa é do ortopedista Epitácio Leite Rolim Filho, do Hospital Getúlio Vargas (HGV), na Zona Oeste do Recife. Ele tem realizado cirurgias ortopédicas para melhorar a qualidade de vida dessas crianças. “São procedimentos que evitam a luxação completa do quadril (lesão em que o osso é totalmente deslocado da posição normal). É uma opção menos invasiva do que a cirurgia feita nos casos de luxação de quadril congênita (detectada ao nascer)”, explica.

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A programação dessas cirurgias específicas para pacientes com zika é realizada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Amanhã três crianças passarão pelo procedimento no Hospital Maria Lucinda, em Parnamirim, Zona Norte da cidade. Já foram operadas 24. Entre elas, Graziella Vitória, 2 anos e 5 meses. Graças à cirurgia, feita em março, os quadris voltaram para o lugar. “Na sessão de fisioterapia, ela tira o abdutor (aparelho usado para manter a abertura dos membros inferiores), consegue sentar sozinha e abre as pernas. Ela não conseguia fazer antes da cirurgia”, relata a mãe da menina, a dona de casa Inabela Tavares, 33 anos, que tem apoio do marido, o auditor de loja Filipe Souza, 31.

Essa foi a quarta intervenção cirúrgica pela qual Graziella passou. “Já colocou uma válvula que drena o líquido da cabeça, retirou as adenoides e fez outro procedimento nasal. Operações sempre assustam, mas hoje digo que tudo valeu a pena. Minha filha tem evoluído bastante, inclusive na parte da deglutição. Na semana que vem, ela vai receber aplicações de Botox (marca de toxina botulínica tipo A que ganhou popularidade, no ano 2000, para o tratamento das rugas de expressão) nos bíceps.”

"A toxina botulínica A pode ser usada em regiões com hipertonia (aumento da rigidez), o que favorece luxação”, diz o ortopedista Epitácio Rolim (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

O procedimento também é disponibilizado pelo Estado no HGV. As infusões da toxina são indicadas para casos de espasticidade (distúrbio de controle muscular que causa rigidez – quadro comum à maioria das crianças com a malformação). “A primeira sessão de aplicações foi feita em 20 crianças. A expectativa é atender mais 26 pacientes no dia 3 de maio. Também estamos organizando o atendimento de outras 15 crianças, que têm suspeita de luxação de quadris, e estão na lista para se avaliar a necessidade de cirurgia”, informa a coordenadora do Núcleo de Apoio às Famílias de Crianças com Microcefalia da SES, Laura Patriota.

O resultado dos procedimentos ortopédicos, segundo Epitácio, tem sido animadores para as crianças submetidas às operações e as que recebem aplicações de Botox, a substância deixa os músculos mais flexíveis e ajuda a ampliar movimentos dos braços e das pernas. “E pode ser um passo anterior à cirurgia dos quadris, indicada para impedir a luxação completa, uma condição que causa dor e pode ser evitada”, destaca Epitácio Rolim.