Aedes: síndromes neurológicas atingem mais a população em idade produtiva; Guillain-Barré é a mais comum

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 11/04/2018 às 10:25
Entre os 172 casos suspeitos de doenças neuroinvasivas possivelmente associadas a arboviroses ao longo de 2 anos, 57 mostraram relação com a síndrome de Guillain-Barré (Imagem ilustrativa: Pixabay)
Entre os 172 casos suspeitos de doenças neuroinvasivas possivelmente associadas a arboviroses ao longo de 2 anos, 57 mostraram relação com a síndrome de Guillain-Barré (Imagem ilustrativa: Pixabay) FOTO: Entre os 172 casos suspeitos de doenças neuroinvasivas possivelmente associadas a arboviroses ao longo de 2 anos, 57 mostraram relação com a síndrome de Guillain-Barré (Imagem ilustrativa: Pixabay)

Pelo menos um terço dos casos de síndromes neurológicas relacionadas a arboviroses, registrados em três unidades sentinelas em Pernambuco, representa a faixa etária em idade produtiva – dos 20 aos 49 anos. O dado está no boletim de doenças neuroinvasivas relacionadas a arboviroses, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), na terça-feira (10/4), com o retrato das complicações em 2016 e 2017. Nesse grupo etário, 60 casos foram notificados no período. Em seguida, vêm crianças até 9 anos (41 casos) e idosos, com 60 anos ou mais (37 casos).

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“Numa primeira epidemia, espera-se que os adultos sejam os que mais adoeçam. Consequentemente, são os que apresentaram quadros neurológicos com maior frequência, em comparação a outras faixas etárias”, diz o médico Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde. Ao falar em primeira epidemia, ele se refere às explosões de casos de zika e chicungunha que atingiram o Brasil, especialmente Pernambuco, em 2015 e 2016. “Imagina-se que os adultos são os mais afetados porque representam a população predominante e a mais exposta aos vírus (pelo fato de mais circular, inclusive em ambientes com proliferação do Aedes).”

Para o médico, um detalhe que chama a atenção, no boletim divulgado ontem, é a ausência de síndromes neurológicas associadas à infecção pelo zika – vírus que tem predileção por atacar o sistema nervoso central. “Não foram confirmados casos de DNI (sigla para doenças neuroinvasivas) relacionados ao vírus zika, possivelmente pela característica técnica dos exames disponíveis para a identificação desse vírus e pela oportunidade do tempo de coleta”, destaca o informe técnico da SES.

Esse é um fato que, para os especialistas, pode justificar a falta do zika no levantamento das unidades sentinelas. “Os testes sorológicos adotados atualmente podem dar reação cruzada entre dengue e zika (ou seja, casos de zika podem dar falso positivo para dengue). Para essas situações, o PRNT (testes de neutralização por redução de placas) seria o mais adequado porque ajuda a diferenciar a reação cruzada”, esclarece Carlos Brito.

Nos dois anos analisados, com base nos dados registrados pelas três unidades sentinelas, entre os 172 casos suspeitos de doenças neuroinvasivas possivelmente associadas a arboviroses no período, 57 mostraram relação com a síndrome de Guillain-Barré. O problema é caracterizado por uma reação autoimune do organismo à infecção viral, que ataca nervos periféricos e causa paralisias. Em seguida, vemos casos de mielite, encefalite e meningoencefalite.

“Ainda continuamos a ver muitos quadros neurológicos, mas não temos como afirmar que estão relacionados a arboviroses porque aguardamos resultados dos exames. Não sai rapidamente”, frisa a médica Lúcia Brito, chefe do Setor de Neurologia do Hospital da Restauração. Em evento realizado em agosto do ano passado, ela e outros pesquisadores do Neurozika, grupo que congrega também especialistas da Fiocruz Pernambuco, já havia antecipado uma análise de série de casos de doenças neuroinvasivas: de 212 pacientes investigados com comprometimento neurológico, 140 tiveram quadros associados a arboviroses.