Se os primeiros mil dias de vida são contados a partir do momento da concepção (tema abordado desde a última terça-feira, 13 de abril, no Jornal do Commercio e no www.jc.com.br/zikaemmildias), apreciamos o período de vida dentro do útero como valioso. Vivenciado o 1º pico da síndrome congênita do zika (e não se sabe quando será o próximo), gestantes continuam a se perguntar o risco que têm de contaminar-se com o vírus e, uma vez infectadas, qual a chance que possuem de dar à luz um bebê com microcefalia e/ou com outra malformação associada ao zika. As respostas não são precisas.
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Mas se caminha para elucidar mecanismos por trás da infecção congênita. Esse é o propósito de um amplo projeto, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), com a meta de acompanhar 10 mil mulheres no mundo (expostas e não expostas ao zika). Parte delas, inclusive em
Pernambuco, são avaliadas por integrantes do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (Merg), formado por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade de Pernambuco (UPE), entre outras instituições.
O infectologista Demócrito Miranda, professor da UPE, é um dos estudiosos do Merg que investigam o desenvolvimento dos bebês com zika congênita. Cerca de 450 crianças (com e sem a síndrome) são
acompanhadas – e assim permanecem até os 4 anos. “Avaliações são feitas aos 3, 6, 12 e 24 meses. Depois, aos 3 e 4 anos”, diz o médico.
O infectologista Demócrito Miranda, professor da UPE, é um dos estudiosos do Merg que investigam o desenvolvimento dos bebês com zika congênita (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem)
Ele também destaca outro ponto que os pesquisadores do Merg investigam: será que gestantes
infectadas pelo zika e que apresentam os sintomas, comparadas com aquelas sem sinais, têm maior risco de ter um bebê afetado pelo vírus? "No caso de citomegalovírus na gestação, que tende a ser assintomático, sabe-se que a mãe contamina o bebê", ressalta Demócrito, ao falar sobre uma questão que acende o debate sobre um olhar mais cuidadoso no pré-natal.
As perguntas ainda persistirão, e o que hoje é fato pode amanhã ser colocado em xeque. Afinal, a medicina não é ciência exata. A vida também não.