Ciúme doentio? Saiba como lidar com a suspeita inexplicável relacionada à fidelidade

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/12/2017 às 12:48
A suspeita inexplicável relacionada à fidelidade pode tornar o casal prisioneiro de uma relação nociva (Foto ilustrativa: Pixabay)
A suspeita inexplicável relacionada à fidelidade pode tornar o casal prisioneiro de uma relação nociva (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: A suspeita inexplicável relacionada à fidelidade pode tornar o casal prisioneiro de uma relação nociva (Foto ilustrativa: Pixabay)

Ciúme é daquelas emoções tão complexas que, quando falta numa relação, sempre vem alguma queixa. Se é presente de forma persistente e exagerada, pode machucar afetos, destruir relações conjugais e desestabilizar famílias. Ou seja, a expressão do ciúme deve ser na manifestada na dose certa: nem oito nem oitenta. Quando o sentimento ultrapassa os limites, com pensamentos constantes sobre uma possível infidelidade e que levam a comportamentos compulsivos recorrentes, é hora de considerar o quão tóxico o ciúme pode ter se tornado.

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“Impulsivo, excessivo, doentio ou patológico. É aquele sem motivo aparente. O ciumento tem comportamentos bizarros à procura de provas, conferindo bolsos, bolsa, roupa e WhatsApp”, salienta a psicanalista Giorgia Matos, autora do livro recém-lançado Ciúme patológico – passando dos limites (Novo Século Editora, 128 páginas). O depoimento da especialista, que participou na quinta-feira (7) de programa na TV JC, deixa transparecer que, vira e mexe, a pessoa com ciúme doentio fica sempre à espreita, investigando possibilidades para se confirmar uma suposta traição e que (quase sempre) é fruto da própria imaginação.

Assista ao programa, na TV JC, sobre o tema:

“Há situações em que a obsessão passa a ser algo delirante. A pessoa com ciúme patológico chega a afirmar com clareza que está sendo traída, além de vir com explicações (para justificar uma possível infidelidade) que chegam a não fazer sentido”, esclarece o psiquiatra Frederico Maciel. Mestre em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador do tema, o médico chama a atenção para uma problemática que merece ser considerada nos dias atuais: cerca de 50% das vítimas de violência doméstica se referem ao ciúme do companheiro como causa desse tipo de agressão.

"Fui vítima de um ciumento patológico e, por isso, tive interesse em saber sobre esse sentimento. Por que são pessoas com tanta confusão mental e que levantam calúnias sem motivo aparente? Então, fiz pesquisas sobre o tema para fazer o livro”, diz a psicanalista Giorgia Matos (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

“E infelizmente, às vezes, elas não procuram ajuda por receio da denúncia ou por acharem (erroneamente) que o sentimento e a atitude do parceiro podem ter relação com amor”, frisa Frederico, que é psiquiatra do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

O médico, que também participou do programa na TV JC, acrescenta que, além de as pessoas ficarem atentas a sinais e sintomas envolvidos no diagnóstico do ciúme patológico, é importante analisar a frequência do comportamento obsessivo e o grau de prejuízo que as atitudes exageradas tendem a causar. “Podem aparecer desgaste na relação e queda na produtividade no trabalho. Outro detalhe é que as pessoas ciumentas dificilmente enxergam a própria condição. Quando chegam aos consultórios, são acompanhadas por quem é vítima do ciúme doentio.” O mais importante é saber que, quando abusiva, essa emoção tenebrosa tem tratamento – um caminho essencial para recuperar relações saudáveis.

"A pessoa com ciúme exagerado pode se sentir motivada a checar, nas redes sociais, quem curtiu as postagens do (a) companheiro (a) e que tipo de comentário foi deixado. É uma situação que tende a causar muito sofrimento e precisa de apoio", frisa o psiquiatra Frederico Maciel (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

O excesso de zelo pode levar a emoções tóxicas

Luna é uma mulher alta, bonita, inteligente, benquista por todos e extremamente vaidosa, mas que não podia se vestir como gostaria. Ao conhecer Tomás, aos 25 anos, apaixonou-se, pois ele era carinhoso e demonstrava por ela cuidado que encantava qualquer um. Tomás, dentista, tinha um consultório perto da clínica veterinária onde Luna trabalhava.

Quando eles se casaram, os problemas começaram, pois Tomás começou a demonstrar um cuidado fora do normal com a aparência de Luna. Ele a proibia terminantemente de usar saia. Ela não poderia usar essa peça de roupa nem para ir à esquina, pois, na cabeça dele, todos os homens olhariam para as pernas da esposa e imaginando cenas eróticas.

O ciúme patológico é caracterizado pela suspeita inexplicável relacionada à fidelidade do parceiro e que não é confirmada por qualquer prova real. Isso prejudica a vida da pessoa que sofre do transtorno e também afeta o parceiro e o relacionamento (Foto ilustrativa: Pixabay)

Certo dia, Tomás atendendo uma paciente de saia em seu consultório, imaginou que a esposa teria saído para trabalhar de saia. O pensamento doentio foi tão violento que Tomás deixou a paciente com a boca anestesiada e foi correndo ao trabalho de Luna, a três quarteirões do seu consultório, para ter a certeza de que a esposa não estava de saia. Esse caso ainda lhe rendeu um processo na justiça.

E foi graças a isso que o próprio juiz lhe aconselhou um psiquiatra, e Tomás teve que passar por tratamento medicamentoso e terapia. Luna e Tomás agora vivem bem e ela voltou, depois de muito tempo, a usar saia com a aprovação do marido.

Relato com base em um dos casos contados no livro 'Ciúme patológico – passando dos limites' (Novo Século Editora, 128 páginas), de Giorgia Matos