Mais da metade das pacientes em PE só começam a tratar o câncer de mama após prazo legal

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 11/10/2017 às 10:25
Estudo desenvolvido por pesquisadora da Fiocruz Pernambuco faz diagnóstico da rede de assistência a mulheres com câncer de mama em Pernambuco (Foto: JC Imagem)
Estudo desenvolvido por pesquisadora da Fiocruz Pernambuco faz diagnóstico da rede de assistência a mulheres com câncer de mama em Pernambuco (Foto: JC Imagem) FOTO: Estudo desenvolvido por pesquisadora da Fiocruz Pernambuco faz diagnóstico da rede de assistência a mulheres com câncer de mama em Pernambuco (Foto: JC Imagem)

Com informações da Ascom da Fiocruz PE

Tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, o câncer de mama é a causa mais comum de óbitos por neoplasia nesse grupo. Em Pernambuco, são 600 mortes por ano, em média. Oferecer uma rede de assistência organizada e resolutiva faz diferença para mudar esse cenário. Com objetivo de avaliar a rede de atenção oncológica de alta complexidade para o tratamento de mulheres com a doença, a bióloga Rosalva Silva, mestre em Saúde Pública pela Fiocruz Pernambuco, realizou um estudo constatando que a rede no Estado não é suficientemente estruturada para gerar tratamento oportuno e integral. Entre outros achados, o estudo identificou que 58% das pacientes só começaram o tratamento mais de 60 dias após o diagnóstico, o que contraria a Lei de nº 12.732 de 2013, que determina o prazo máximo de 60 dias para o início da terapia. Dessas, 35,6% só começaram após 100 dias.

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De acordo com Rosalva, os resultados mostram que o tempo para a paciente ter acesso ao tratamento é maior quando a unidade de saúde deixa de oferecer os serviços de obrigatoriedade mínima, pois exige o deslocamento delas até a capital, percorrendo longas distâncias.

Entre as pacientes do estudo, 63% delas viajaram até 100 quilômetros para fazer radioterapia, que tem os serviços concentrados na capital. Há apenas um serviço desse tipo no interior (Caruaru). No caso da quimioterapia, embora seja ofertada nas quatro macrorregiões de saúde do Estado, 80% desse procedimento foram feitos na capital pernambucana, quando poderiam ter acontecido em unidades próximas às residências das pacientes.

“Como não há um fluxo organizado para encaminhar e realizar o monitoramento das pacientes, as unidades de saúde da atenção básica e da média complexidade podem encaminhá-las para locais mais distantes. É necessário fazer e por em prática o Plano Estadual de Oncologia, que auxiliará na criação dos mecanismos de acesso aos serviços e no planejamento das ações, pensando o cuidado de forma integral, a partir da organização nas regiões de saúde do estado”, observa Rosalva Silva. “Isso evitará a superlotação e a evasão em alguns hospitais”, completa.

Para a realização do estudo, que foi orientado pelo pesquisador Eduardo Freese, foram analisados 289 prontuários de pacientes com diagnóstico de câncer de mama em 2015, aplicados questionários nos oito hospitais habilitados para atender esse público, além de entrevistas com gestores envolvidos na regulação municipal, estadual e coordenação da política estadual de oncologia.