Psicose no pós-parto aumenta o risco de suicídio

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 28/09/2017 às 13:16
Chamado de psicose puerperal, quadro psiquiátrico raro pode acometer uma a cada mil mulheres que dão à luz (Foto ilustrativa: Pixabay)
Chamado de psicose puerperal, quadro psiquiátrico raro pode acometer uma a cada mil mulheres que dão à luz (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Chamado de psicose puerperal, quadro psiquiátrico raro pode acometer uma a cada mil mulheres que dão à luz (Foto ilustrativa: Pixabay)

Quando o assunto é risco de suicídio, a depressão pós-parto nas mulheres (os pais também podem sofrer com o transtorno) figura entre os distúrbios mentais menos preocupantes para os psiquiatras. No entanto, uma outra situação que envolve esse período pode aumentar significativamente as chances de a paciente atentar contra a própria vida. Chama-se psicose puerperal, um quadro psiquiátrico raro que pode acometer uma a cada mil mulheres que dão à luz um bebê.

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"A psicose puerperal talvez seja uma das doenças na psiquiatria que mais levam ao suicídio. É um distúrbio que consideramos uma emergência médica. Por isso, deve se estabelecer o tratamento o mais rápido possível”, explica o psiquiatra Amaury Cantilino, diretor do programa de saúde mental da mulher da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os sintomas surgem geralmente nos primeiros dias após o parto, num quadro de agitação, confusão mental e delírios. E podem, inclusive, envolver o bebê.

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“A mulher pode achar que o bebê não é dela ou se sentir perseguida, além de achar que as pessoas querem roubar seu filho, por exemplo. É um quadro que envolve uma desorganização dos pensamentos e do comportamento. Essa confusão mental pode levar a mulher a tirar a própria vida e, eventualmente, cometer neonaticídio (matar o bebê)“, acrescenta o médico.

Imagem do psiquiatra Amaury Cantilino (Foto: Sérgio Bernardo / JC Imagem) "Em alguns casos, mulheres que tiveram psicose puerperal são diagnosticadas com transtorno bipolar depois de alguns anos", conta o psiquiatra Amaury Cantilino (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)

Os tratamentos são estabelecidos de acordo com a gravidade do caso. Em quadros mais leves, a intervenção medicamentosa com suporte da psicoterapia é bastante eficaz. Casos moderados, para pacientes da rede pública de saúde, podem precisar de auxílio nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Em quadros mais graves, a indicação é o internamento temporário da paciente. “O internamento, de curto tempo, é necessário até que a mulher consiga estabelecer suas capacidades funcionais e volte a ter condições de cuidar do filho”, pontua Cantilino, doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento.

Suporte familiar

Pelo cenário em que se desenvolve o transtorno, quando a mulher se encontra em um período complicado, precisando atender ainda a demandas do bebê, é extremamente importante o apoio familiar. Tanto nos casos de psicose puerperal como em quadros de depressão pós-parto. “Um dos maiores desencadeadores e agravadores da depressão pós-parto é a percepção da falta de suporte social. É importante que a mulher tenha ao seu redor uma família empática à situação”, ressalta o psiquiatra.

Contar com a ajuda de alguém que possa cuidar do recém-nascido enquanto a paciente estabeleça uma rotina de cuidados importantes para sua recuperação é essencial. “A privação do sono dificulta a melhora clínica da paciente. Então, muitas vezes, no tratamento, ela precisará de alguém para cuidar do bebê enquanto a mulher dorme. Pacientes com depressão pós-parto precisam dormir, no mínimo, seis a sete horas seguidamente”, exemplifica o médico.

Seguindo o tratamento e contando com o suporte do seu ciclo social, a tendência é que a mulher se recupere rapidamente. “A depressão pós-parto acontece em, pelo menos, 3% das mulheres que dão à luz. É um quadro que envolve um sofrimento muito significativo. A boa notícia é que os tratamentos são muito eficazes. Em muitos casos, são mais eficazes do que tratamento da depressão em outros períodos da vida”, conclui Amaury Cantilino.