Em projeção, Recife aparece como um dos locais mais vulneráveis a doenças associadas ao clima

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/08/2017 às 10:39
Casos de arboviroses são influenciados também pela chuva e temperatura (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem)
Casos de arboviroses são influenciados também pela chuva e temperatura (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem) FOTO: Casos de arboviroses são influenciados também pela chuva e temperatura (Foto: Rodrigo Lôbo/Acervo JC Imagem)

As mudanças climáticas estão entre os principais desafios à saúde, pois podem influenciar a proliferação de vetores de doenças, como os mosquitos, e a qualidade da água, além de favorecer a poluição do ar. Uma projeção sugere que, entre 2041 e 2070, o Recife desponta com o maior índice de doenças associadas ao clima em Pernambuco, em decorrência da dengue e dos casos de mortalidade infantil relacionados à diarreia. Essa é uma das previsões feitas a partir do software Sistema de Vulnerabilidade Climática (SisVuClima), ferramenta que calcula a vulnerabilidade dos 184 municípios pernambucanos (mais o arquipélago de Fernando de Noronha) à alteração climática.

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O software também avaliou que, para o mesmo período, a capital pernambucana e a Ilha de Itamaracá devem sofrer com o aumento do período de estiagem. Ainda é previsto, para o Sertão Pernambucano, um aumento da temperatura em até 3,7° C a partir de 2041. Já em Caruaru (Agreste), os termômetros poderão subir 3º C. Bezerros e Gravatá apresentaram elevações de 2,9° C. O litoral poderá ser a parte menos impactada, com aumento de 2,7° C no Recife e em Ipojuca.

O SisVuClima é um dos produtos que nasceram do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, executado pela Fiocruz em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e financiado pelo Fundo Clima. Hoje e amanhã 22 gestores e técnicos estaduais aprendem a manusear o sistema durante capacitação realizada no Golden Tulip Recife, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A ferramenta avalia, segundo a pesquisadora da Fiocruz Diana Marinho, a vulnerabilidade atual dos municípios (à instabilidade de temperaturas e a precipitações) e o quanto a população está exposta a doenças associadas ao clima. Dessa maneira, seria possível planejar ações para reduzir os impactos das mudanças climáticas e aumentar a capacidade de adaptação da população às alterações no ambiente.

“A causa de uma doença é multivariada. Não é só o clima que favorece a diminuição ou o aumento (da incidência de doenças). Dependendo da situação, o clima pode contribuir positiva ou negativamente com esse cenário. As enchentes, por exemplo, podem favorecer a ocorrência da leptospirose”, diz Diana Marinho, que está no Recife para apresentar o SisVuClima a profissionais do setor.

Participam da capacitação representantes da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), da Fiocruz Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), das secretarias estaduais de Saúde e Meio Ambiente e Sustentabilidade.

Entre as doenças que mais podem ser influenciadas pelas mudanças climáticas, estão as infecciosas, já que fatores como temperatura e precipitação são capazes de interferir no ciclo reprodutivo de insetos transmissores de enfermidades, como o Aedes aegypti.

Para o estudo de Pernambuco, foram analisadas dengue, leptospirose, leishmaniose tegumentar americana, leishmaniose visceral e esquistossomose. Também se considerou o índice de mortalidade infantil por doenças intestinais.

Depois do Recife, que aparece como mais vulnerável a doenças associadas ao clima, estão Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana. Os municípios de Caruaru (Agreste), Petrolina e Parnamirim (Sertão) demonstraram um índice intermediário para as enfermidades.