Metade dos adultos com ansiedade ou depressão apresenta dor crônica, aponta estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 21/07/2017 às 13:18
Estudo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP alerta que comorbidade deve ser levada em conta no sistema de saúde (Foto: Wikimedia Commons)
Estudo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP alerta que comorbidade deve ser levada em conta no sistema de saúde (Foto: Wikimedia Commons) FOTO: Estudo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP alerta que comorbidade deve ser levada em conta no sistema de saúde (Foto: Wikimedia Commons)

Da Agência Fapesp de notícias

Há uma forte relação bidirecional entre ansiedade ou depressão e algumas doenças físicas crônicas. Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mensuraram essa relação em pessoas adultas residentes na Região Metropolitana de São Paulo e os dados são alarmantes. A dor crônica foi a mais comum entre os indivíduos com transtorno de humor – como depressão e bipolaridade –, ocorrendo em 50% dos casos de transtornos de humor, seguidos por doenças respiratórias (33%), doença cardiovascular (10%), artrite (9%) e diabetes (7%).

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Os distúrbios de ansiedade também são largamente associados com dor crônica (45%) e doenças respiratórias ( 30%), assim como com artrite e doenças cardiovasculares (11% cada). A hipertensão foi associada a ambos os distúrbios em 23%. O resultado do estudo é que indivíduos com transtornos de humor ou de ansiedade tiveram duas vezes mais chance de apresentar doenças crônicas.

O artigo, publicado no Journal of Affective Disorders, faz parte do São Paulo Megacity Mental Health Survey, levantamento concluído em 2009 no âmbito do Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos transtornos psiquiátricos na Região Metropolitana de São Paulo: prevalências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”, financiado pela FAPESP. Ao todo, foram entrevistados 5.037 moradores da Região Metropolitana de São Paulo, com 18 anos ou mais (Mais informações sobre São Paulo Megacity Mental Health Survey em agencia.fapesp.br/15215).

Os dados mostram a necessidade de maior atenção ao tema. “Já era esperado que houvesse uma relação forte entre essas doenças. O problema é que a prevalência de ansiedade e depressão em São Paulo é muito alta por causa do estresse. Com esses números precisamos atentar para a necessidade de passar a informação para o médico que está na linha de frente, no atendimento primário. É preciso reconhecer a comorbidade de ansiedade e depressão com as doenças crônicas que não se resume apenas à dor ”, disse Laura Helena Andrade, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do IPq e uma das autoras do estudo.

Para entender a magnitude do problema é preciso fazer uma conta simples. Dos cerca de 11 milhões de moradores adultos da Região Metropolitana de São Paulo, 10%, ou 1,1 milhão de pessoas, tiveram depressão nos últimos 12 meses. Já os transtornos de ansiedade acometem mais de 2,2 milhões de paulistanos, sendo que 990 mil apresentam dor crônica também. Seguindo esse cálculo, no total, mais de 2 milhões de pessoas convivem com depressão ou ansiedade associadas à dor crônica na Região Metropolitana de São Paulo.

Ante esse cenário, os pesquisadores afirmam no estudo a necessidade clara de tornar o diagnóstico e o tratamento da saúde mental uma prioridade no sistema de saúde. Andrade alerta ainda que o esperado é que a prevalência dessas doenças aumente nos próximos anos na Região Metropolitana de São Paulo.

“Ao pesquisar a questão de saúde das cidades é possível notar um aumento das prevalências de depressão e ansiedade, muito provavelmente ligado à alteração de estilo de vida na metrópole. Então é possível esperar que haja um aumento também em todo o pacote, não só de depressão e ansiedade, mas também de outras doenças como infarto, acidente vascular cerebral, diabetes, hipertensão e dor”, disse.

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