Esclerose múltipla: especialistas anunciam novos caminhos para o tratamento da doença

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/07/2017 às 17:00
Segundo o médico Edgardo Caetano, pacientes com forma primária progressiva da esclerose múltipla deixarão de ser órfãos de tratamento (Foto: Divulgação)
Segundo o médico Edgardo Caetano, pacientes com forma primária progressiva da esclerose múltipla deixarão de ser órfãos de tratamento (Foto: Divulgação) FOTO: Segundo o médico Edgardo Caetano, pacientes com forma primária progressiva da esclerose múltipla deixarão de ser órfãos de tratamento (Foto: Divulgação)

BUENOS AIRES - Doença do sistema nervoso central e que acomete cerca de 35 mil pessoas no Brasil, a esclerose múltipla é um enigma para médicos e cientistas. Não se sabe ainda exatamente os motivos que levam o sistema imunológico dos pacientes a atacar a membrana que cobre as células nervosas no cérebro (chamadas de bainha de mielina), assim como a medula espinhal e os nervos ópticos. Embora muitas perguntas ainda faltam ser respondidas, o conhecimento que se tem atualmente já leva novas esperanças para os pacientes, especialmente aqueles que convivem com a esclerose múltipla primária progressiva, caracterizada por sintomas que evoluem e se acumulam ao longo do tempo de doença.

Leia também:

» Médica tira dúvidas sobre esclerose múltipla e fala sobre novo medicamento

» SUS ofertará mais um medicamento para esclerose múltipla a 12 mil pacientes no Brasil

» Ressonância magnética é essencial no diagnóstico e tratamento da esclerose múltipla

» Confira 5 mitos e verdades sobre a esclerose múltipla

Os avanços do tratamento para esse tipo da enfermidade foram apresentados, no último dia 6, durante a 6° edição do Roche Press Day, um fórum de jornalismo em saúde realizado em Buenos Aires, na Argentina, com apoio da Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano (FNPI). A nova opção terapêutica, já aprovada nos Estados Unidos e com previsão de receber o aval no Brasil da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda este ano, é considerada um progresso para os neurologistas, que não contavam com medicações específicas para sugerir a quem tem a esclerose múltipla primária progressiva. “É uma forma menos comum e que atinge 10% dos pacientes. Preocupa porque, desde o início do desenvolvimento da doença, esse tipo evolui de forma contínua. Agora, essas pessoas não são mais órfãs de tratamento. É um dos grandes avanços dos últimos 20 anos”, destacou o médico Edgardo Cristiano, chefe do Serviço de Neurologia Clínica e diretor do serviço de Esclerose Múltipla do Hospital Italiano de Buenos Aires.

Conhecida como ocrelizumabe, a substância é um anticorpo monoclonal que atua apenas num tipo específico de célula imunológica que determina danos anormais à mielina (substância que promove o isolamento e suporte de células nervosas). O medicamento também é indicado para o tipo mais comum de esclerose múltipla, encontrado em cerca de 85% dos casos. Chamada de remitente recorrente, essa forma da doença é caracterizada por exacerbações (surtos) seguidas por um grau de melhora total ou parcial. Já a forma progressiva desponta com sintomas e déficits neurológicos sem remissão das lesões. Entre os problemas apresentados pelos pacientes, estão comprometimento da visão, falta de equilíbrio e paralisia dos membros.

“Nas duas últimas décadas, só acompanhávamos as pessoas com esclerose múltipla num caminho incerto e doloroso. Há cerca de dez anos, tratávamos os pacientes quando tinham algum grau de deficiência e doença já avançada. Atualmente os medicamentos passaram a ser mais efetivos se usados precocemente", salientou Edgardo.

Imagem da jornalista mexicana Antonieta Sea Loranca (Foto: Divulgação) Eu me sentia mal, não andava sozinha. Hoje as pessoas não conseguem entender como estou aqui. Assim como a esclerose múltipla, há várias doenças que não são visíveis”, comenta a jornalista mexicana Antonieta Sea Loranca (Foto: Divulgação)

Um estudo que investigou a ação do ocrelizumabe, por exemplo, mostrou que as pessoas com esclerose múltipla primária progressiva que usaram a medicação não tiveram progressão de incapacidade e relataram redução da fadiga, em comparação com aqueles que tomaram placebo (substância inerte). Os pacientes que participaram da pesquisa e fizeram uso do ocrelizumabe também apresentaram redução da chance de ter surtos graves e progressão da deficiência, além de diminuição do risco da necessidade da utilização de cadeira de rodas.

* A repórter viajou a convite da organização do evento