Dia Mundial do Vitiligo: dermatologistas alertam para traumas emocionais associados à doença

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 25/06/2017 às 7:04
A maioria das pessoas com vitiligo não manifesta qualquer sinal além do surgimento de manchas brancas na pele. Em alguns casos, relatam sentir sensibilidade e leve coceira na área afetada (Foto: SBD/Reprodução)
A maioria das pessoas com vitiligo não manifesta qualquer sinal além do surgimento de manchas brancas na pele. Em alguns casos, relatam sentir sensibilidade e leve coceira na área afetada (Foto: SBD/Reprodução) FOTO: A maioria das pessoas com vitiligo não manifesta qualquer sinal além do surgimento de manchas brancas na pele. Em alguns casos, relatam sentir sensibilidade e leve coceira na área afetada (Foto: SBD/Reprodução)

Condição que acomete aproximadamente 0,5% da população mundial, o vitiligo é caracterizado pela perda da pigmentação da pele. As lesões se formam devido à diminuição ou ausência de melanócitos (células responsáveis pela formação da melanina, pigmento que dá cor à pele) nos locais afetados. As causas da doença ainda não estão claramente estabelecidas, mas diversos fenômenos autoimunes estão associados ao vitiligo. Além disso, alterações ou traumas emocionais podem estar entre os fatores que desencadeiam ou agravam a doença.

Neste Dia Mundial do Vitiligo (25 de junho), o médico Caio Cesar Silva de Castro, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), lembra que “o vitiligo não é contagioso”. Além disso, reforça que “para obter sucesso no tratamento, é importante que a consulta com um médico dermatologista para que diagnóstico e tratamento sejam realizados precocemente”.

A condição é caracterizada por lesões cutâneas hipopigmentadas, ou seja, manchas brancas na pele com uma distribuição característica. O tamanho das manchas é variável. O vitiligo possui diversas opções terapêuticas, que variam conforme o quadro clínico de cada paciente. A maioria das pessoas com essa condição não manifesta qualquer sintoma além do surgimento de manchas brancas na pele. Em alguns casos, relatam sentir sensibilidade e leve coceira na área afetada. Entretanto, uma grande preocupação dos dermatologistas são os sintomas emocionais que os pacientes podem desenvolver em decorrência da doença.

Campanha da SBD sobre vitiligo

O tratamento do vitiligo é individualizado e deve ser discutido com um médico dermatologista, conforme as características de cada paciente. Os resultados podem variar consideravelmente entre uma pessoa e outra. Por isso, somente um profissional qualificado pode indicar a melhor opção.

"O vitiligo não é contagioso. Para se obter sucesso no tratamento, é importante que a consulta com um médico dermatologista, para diagnóstico e tratamento, seja feita logo no início, ao surgir os primeiros sintomas", orienta a presidente da regional pernambucana da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD/PE), Jaci Santana.

No Recife, os cinco serviços de saúde pública da SBD/PE fazem o tratamento do vitiligo. São eles: o Centro de Estudos Dermatológicos do Recife (Ceder), na Santa Casa de Misericórdia; o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco; o Otávio de Freitas, o Imip e o Oswaldo Cruz.

Prevenção

Pacientes devem evitar fatores que possam precipitar o aparecimento de novas lesões ou acentuar as já existentes, como usar roupas apertadas, que provoquem atrito ou pressão sobre a pele, além de diminuir a exposição solar. Controlar o estresse é outra medida bem-vinda.

As lesões provocadas pelo vitiligo, não raramente, impactam significativamente a qualidade de vida, a autoestima e interferem com as interações sociais. Por isso, na maioria casos, recomenda-se o acompanhamento psicológico, que pode ter efeito bastante positivo nos resultados do tratamento.

Campanha da SBD sobre vitiligo

Pesquisa

Entre janeiro e julho de 2017, a SBD realizou uma pesquisa inédita sobre a prevalência do vitiligo no Brasil. Sob a coordenação dos dermatologistas Hélio Miot, do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Unesp, e Caio Castro, do Departamento de Dermatologia Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a enquete foi realizada com 17.004 pessoas de 6.048 municípios, com idade média de 41 anos, que moram em 87 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes.

Na América Latina e especificamente no Brasil, não havia dados populacionais consolidados sobre essa condição, o que motivou a realização do levantamento. “Como o Brasil é um país continental com uma população miscigenada, ficou interessante fazer esse tipo de levantamento nessa população”, considera Hélio Miot.

A enquete foi realizada em duas etapas. A primeira fase, coordenada pela Unidade de Pesquisa em Saúde Coletiva da Unesp, consistiu em entrevistas telefônicas selecionadas de forma aleatória nas cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. Na segunda etapa, coordenada por Caio Castro, a coleta de dados foi feita a partir de entrevistas individuais com as pessoas que apresentaram diagnóstico de vitiligo para avaliação desse grupo no estudo populacional.

A primeira fase da pesquisa brasileira identificou 97 casos de vitiligo (0,57%), com 48 diagnósticos da condição em homens e 49 em mulheres, e idades entre 22 e 46 anos. “Notamos que o crescimento da prevalência ocorre em função da faixa etária. Isso faz sentido, pois o vitiligo é uma doença crônica que começa na juventude e vai acompanhando a velhice”, diz Caio Castro.

As regiões Centro-Oeste (0,69%), Sudeste (0,66%) e Norte (0,65%) apresentaram os maiores índices de vitiligo, enquanto as regiões Nordeste (0,39%) e Sul (0,40%) registraram os menores números. “Vamos mergulhar nesses dados e investigar essa variabilidade ocorrida e, em função da densidade de profissionais no País, avaliar se onde há mais médicos e consequentemente mais diagnósticos, o número de casos de vitiligo é maior. Também faremos uma análise da composição étnica da população e da irradiação solar anual”, completa Hélio Miot.

No mundo

A prevalência da doença no mundo é extremamente variável, sendo maior em africanos, menor em europeus e orientais, e maior em mulheres. As prevalências populacionais em alguns países: China (0,09%); Dinamarca (0,38%); Estados Unidos (0,40-2%); Índia (1,13%).