Após os 80 anos, idosos celebram maturidade e compartilham segredos da boa longevidade

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/06/2017 às 15:09
No dia 7 de junho, Dorinha passou a integrar uma fatia da população que só faz crescer: aquela composta pela faixa etária a partir dos 100 anos e que, segundo as projeções, deve ser composta por 2,2 milhões de pessoas no mundo em 2050 (Foto: Jana Margarida Fotografia)
No dia 7 de junho, Dorinha passou a integrar uma fatia da população que só faz crescer: aquela composta pela faixa etária a partir dos 100 anos e que, segundo as projeções, deve ser composta por 2,2 milhões de pessoas no mundo em 2050 (Foto: Jana Margarida Fotografia) FOTO: No dia 7 de junho, Dorinha passou a integrar uma fatia da população que só faz crescer: aquela composta pela faixa etária a partir dos 100 anos e que, segundo as projeções, deve ser composta por 2,2 milhões de pessoas no mundo em 2050 (Foto: Jana Margarida Fotografia)

“Saúde e paz são o essencial para se viver bem.” Com essa frase, Maria das Dores Bernardes, conhecida como Dorinha, define o que é indispensável para as pessoas se tornarem centenárias com autonomia e qualidade de vida. No último dia 7, ela passou a integrar uma fatia da população que só faz crescer: aquela composta pela faixa etária a partir dos 100 anos e que, segundo as projeções, deve ser composta por 2,2 milhões de pessoas no mundo em 2050.

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No País, segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2015, e feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos (a partir dos 65 anos) representam 9,9% da população, o equivalente a 20,2 milhões de pessoas. Entre eles, estão os muito idosos (a partir dos 80 anos), que representam 2% (4,1 milhões) dos brasileiros. No Grande Recife, as taxas são maiores do que as nacionais: 10,6% a partir dos 65 anos e 2,2% entre aqueles com 80 anos ou mais.

Um detalhe é que, ao se fazer um zoom nas pirâmides etárias que representam a velhice, as mulheres predominam em número. “Em todos os países, há um maior tempo de vida entre elas. Mas não pelo fato de envelhecerem mais lentamente do que os homens, e sim porque elas são mais ‘robustas’. Vários fatores contribuem para essa condição, como um sistema imune mais ativo e proteção proporcionada pelo estrógeno (hormônio feminino)”, diz o médico Sérgio Murilo Fernandes Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/Seção Pernambuco (SBGG/PE).

Cláudio, 87 anos, e Carmen, 85, comemoram, este ano, quase sete décadas de casados. Eles comemoram não apenas a vida longa, mas principalmente a longevidade de um amor que se renova a cada instante (Foto: Keila Vasconcelos/Divulgação)

O especialista acrescenta que, historicamente, os homens são mais expostos a estressores externos, como álcool e tabagismo, que contribuem para uma menor longevidade. “Na cidade do Recife, por exemplo, há atualmente quase duas centenas de centenárias. Os homens com mais de 100 anos dificilmente passam de 50.” Dados como esse são estimados, já que ainda se trabalha com o Censo 2010 para os centenários. O próprio IBGE admite que esse grupo etário não é captado com exatidão em pesquisas amostrais; só os censos demográficos têm dados mais exatos sobre eles. Os números referentes àquele ano revelam uma população com 349 centenários na capital pernambucana.

Mas não é por que os 100 anos bateram à porta que eles se entregam à cadeira de balanço. “O meu médico fica impressionado e fala: ‘Que resistência danada!’. Na minha festa de aniversário, fiquei em pé das 18h30 às 21h para as fotos e ainda dancei. Quando chego no salão, todo mundo olha para mim porque danço de cinco a seis músicas sem parar”, conta Dorinha, que sempre seguiu os preceitos para se atingir longevidade com saúde física e mental. “Não sou de comer qualquer coisa nem sou gulosa. Gosto de feijão, arroz e bife”, relata Dorinha sobre uma combinação que, do ponto de vista nutricional, é completa.

"Um conjunto de hábitos ajuda a manter elevada a nossa reserva cognitiva (memória) quando envelhecemos. Entre eles, visitar parentes e amigos, ler jornal, ouvir rádio, praticar esportes, dançar e fazer trabalho voluntário”, destaca o geriatra Sérgio Murilo Fernandes Filho (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Para Sérgio Murilo, hábitos como o de Dorinha valem ouro para se ter vida longa. O estilo de vida chega até a ter um papel mais relevante do que a genética. “Os fatores ambientais assumem uma notabilidade muito maior. Entre eles, estão ausência do tabagismo e da obesidade, dieta saudável, atividade física regular e vida social ativa”, frisa o geriatra. Ou seja, é como se os genes só emitissem informações sobre as chances que as pessoas têm de envelhecer bem ou não – e geralmente prevalece a maneira como o ser humano se comporta ao longo dos anos.

"Quando chego no salão, todo mundo olha para mim porque danço de cinco a seis músicas sem parar", conta Dorinha, aos 100 anos (Foto: Leo Motta/JC Imagem)

“Há uma farta evidência sobre benefícios da dieta e da atividade física para um envelhecimento saudável. Um estudo norte-americano, de 2016, realizado com mais de 5 mil idosos, mostra que aqueles com mais de 70 anos e que adotam hábitos saudáveis têm maior ganho de vida com qualidade e independência”, salienta Sérgio Murilo.

O casal Carmen Cardozo dos Santos, 85, e Cláudio dos Santos, 87, sabe como tudo o que o médico declara conta (e muito) para se alcançar a longevidade sem sentir o peso da idade. Este ano eles comemoram 68 anos de casados e reconhecem a importância de se viver sem excessos. “Não somos de comer doces e bolos. Também controlamos o sal. Nossa rotina é tranquila. Passamos o fim de semana com nosso filho. Passeamos e vamos sempre à praia. Recentemente fomos a Maragogi (Alagoas). Em casa, usamos a esteira para se exercitar”, revela. O casal, que tem dois filhos, seis netos e quatro bisnetos, comemora não apenas a vida longa, mas principalmente a longevidade de um amor que se renova a cada instante.