Tripla infecção: estudo aponta 9 pacientes com zika, chicungunha e dengue ao mesmo tempo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/06/2017 às 9:31
Transmitidos pelo Aedes aegypti, vírus da zika, chicungunha e dengue infectaram nove pacientes ao mesmo tempo em PE (Foto: Pixabay)
Transmitidos pelo Aedes aegypti, vírus da zika, chicungunha e dengue infectaram nove pacientes ao mesmo tempo em PE (Foto: Pixabay) FOTO: Transmitidos pelo Aedes aegypti, vírus da zika, chicungunha e dengue infectaram nove pacientes ao mesmo tempo em PE (Foto: Pixabay)

Os dados preliminares do primeiro estudo científico sobre as complicações neurológicas que apareceram no período da tríplice epidemia (vivenciado em 2015 e 2016) revelam que nove pacientes evoluíram com doença neuroinvasiva causada pela infecção simultânea pelos vírus da dengue, chicungunha e zika. Os achados foram apresentados na quinta-feira (8), durante encontro entre pesquisadores do Grupo Neurozika, que congrega especialistas da Fiocruz Pernambuco e do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração (no Derby, área central do Recife), onde o evento foi realizado.

"Pesquisadores da Universidade de Liverpool estão numa cooperação de trabalho conosco. Eles têm tecnologia para fazer a parte laboratorial que pode nos ajudar muito a entender todo esse processo de infecção e os mecanismos imunológicos relacionados às arboviroses", destaca a médica Lúcia Brito, chefe do Serviço de Neurologia do HR (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

“Acabamos de analisar uma grande série de casos: dos 212 pacientes investigados com comprometimento neurológico, 140 estão associados a arboviroses. A maioria deles apresentou coinfecção. Ou seja, são pessoas que adoeceram por mais de um vírus ao mesmo tempo”, informa a médica Fátima Militão, pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco.

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A especialista acrescenta que, entre os 140 casos, 67 estão associados a coinfecção. “Desses, 50 foram por zika e chicungunha, que se somam aos outros nove relacionados ao adoecimento simultâneo por dengue, chicungunha e zika. É provável que (essas pessoas) tenham sido (picadas) por mosquitos infectados por vírus diferentes. E em oportunidades próximas, picaram o mesmo paciente.”

"Acabamos de analisar uma grande série de casos: dos 212 pacientes investigados com comprometimento neurológico, 140 estão associados a arboviroses. A maioria deles apresentou coinfecção. Ou seja, são pessoas que adoeceram por mais de um vírus ao mesmo tempo”, informa a médica Fátima Militão, da Fiocruz Pernambuco (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Durante o encontro, Fátima destacou que o grupo agora quer saber o potencial de agressividade da tripla (e também dupla) infecção. “Estamos agora investigando se esses casos são mais graves e como esses pacientes devem evoluir, em termos de sequelas, a médio prazo.”

Cooperação

Em busca de novos caminhos que possam dar pistas para elucidar dúvidas que ainda permanecem obscuras, o Grupo Neurozika estabeleceu uma cooperação com pesquisadores ingleses. Na quinta-feira (8), no Hospital da Restauração (HR), o neurologista Tom Solomon, da Universidade de Liverpool (Inglaterra), ministrou palestra sobre o cenário da complicações neurológicas que ele tem pesquisado, com destaque para a encefalite japonesa, endêmica em países asiáticos. “Ainda é cedo para apontarmos se a evolução dos pacientes com encefalite por zika é diferente da causada pelo vírus da encefalite japonesa”, diz Solomon, que vê enigmas, assim como especialistas brasileiros, nas questões sobre as manifestações graves e neurológicas associadas à chicungunha e zika.

“Os pesquisadores da Universidade de Liverpool estão numa cooperação de trabalho conosco. Eles têm tecnologia para fazer a parte laboratorial que pode nos ajudar muito a entender todo esse processo de infecção e os mecanismos imunológicos relacionados às arboviroses”, reforça a médica Maria Lúcia Brito, chefe do Serviço de Neurologia do HR, referência no tratamento de pacientes com comprometimento neurológico causado por arboviroses.

"É como se eu estivesse andando pela primeira vez", disse jovem de 13 anos, diagnosticado com síndrome de Guillain-Barré, ao receber alta hospitalar e voltar para casa caminhando (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

Na quinta-feira (9), no HR, um jovem de 13 anos diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica autoimune que pode levar à paralisia, recebeu alta após 15 dias em tratamento no hospital. Os sintomas começaram com fraqueza nas pernas. “Ele não conseguia ficar em pé. Fez exame e apresentou plaquetas baixas (um sinal de arbovirose)”, contou a mãe do jovem, que seguiu para casa caminhando. “É como se eu estivesse andando pela primeira vez”, comemorou.