Pesquisa aponta potencial do açaí no tratamento de doenças psiquiátricas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 22/05/2017 às 18:05
Matriz química do fruto possui diversas moléculas com potencial antioxidante e anti-inflamatório (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem)
Matriz química do fruto possui diversas moléculas com potencial antioxidante e anti-inflamatório (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem) FOTO: Matriz química do fruto possui diversas moléculas com potencial antioxidante e anti-inflamatório (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem)

Rico em proteínas, fibras, lipídios, vitaminas e minerais, o açaí, fruto de uma palmeira nativa da região amazônica, já foi apontado como importante aliado na prevenção de diversas doenças, além de ajudar a impulsionar o sistema imunológico. Um novo estudo, publicado na revista científica Oxidative Medicine and Cellular Longevity, definiu a substância como uma nova alternativa no tratamento de doenças psiquiátricas, como o transtorno bipolar.

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Segundo a pesquisa Neuroprotective Effects of Açaí against Rotenone In Vitro Exposure, os indicadores sugerem que o açaí pode ser um suplemento alimentar importante em pacientes com bipolaridade. Isso porque a matriz química do fruto possui diversas moléculas com potencial antioxidante e anti-inflamatório. "Estudos em idosos ribeirinhos de Maués, no interior do Amazonas, indicam que o consumo habitual de frutos como o açaí poderia contribuir para a desaceleração das disfunções associadas à velhice. Então, nós decidimos avaliar o quanto o extrato do açaí poderia reverter a principal disfunção mitocondrial associada com o distúrbio bipolar", detalha Alencar Kolinski Machado, autor do trabalho.

Segundo o pesquisador, por meio dos resultados obtidos, observou-se que o extrato de açaí foi capaz de prevenir e reverter a disfunção nas mitocôndrias que foram induzidas, de maneira a reestabelecer o funcionamento correto das células. “Um trabalho adicional, que está em fase de publicação, mostrou que o açaí tem um poderoso efeito anti-inflamatório. Este estudo foi feito com células aqui no Brasil e com um peixinho chamado zebrafish, no Canadá”, comenta.

A pesquisa, que também está disponível Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi desenvolvida durante o doutorado de Machado. Nesse período, o aluno era bolsista do Capes. Coordenado pela professora da Universidade Federal de Santa Maria Ivana da Cruz e pelo professora da Universidade do Estado do Amazonas Euler Ribeiro, o trabalho investigou fatores genéticos e ambientais que influenciam a longevidade das populações amazônicas. "Com base nos resultados, vamos implantar estudos pré-clínicos e clínicos com a fruta. Esse tipo de estudo é essencial para descobrir tratamentos alternativos que possam beneficiar a população acometida por doenças psiquiátricas", pontua o cientista.

As próximas análises devem, inicialmente, avaliar o efeito da suplementação do açaí sobre o estresse de indivíduos saudáveis e, posteriormente, o efeito da suplementação em indicadores oxidativos e inflamatórios de pacientes portadores do distúrbio bipolar. Esses estudos serão conduzidos em parceria com diversas universidades e coordenados por Machado, que atualmente é professor adjunto no Centro Universitário Franciscano (Unifra), de Santa Maria (RS).

A pesquisa pode ser acessada aqui.