Enxaqueca com aura? Entenda quando a perda parcial do campo da visão chega antes da dor de cabeça

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 21/05/2017 às 6:04
"Em apenas uma semana, chegava a ter de três a quatro episódios de dor de cabeça. Vinham acompanhados de enjoo, do escurecimento de parte da visão, era pulsante e latejante", diz Fabiana Queiroz, que fez tratamento e se livrou do mal-estar (Foto: Guga Matos/JC Imagem)
"Em apenas uma semana, chegava a ter de três a quatro episódios de dor de cabeça. Vinham acompanhados de enjoo, do escurecimento de parte da visão, era pulsante e latejante", diz Fabiana Queiroz, que fez tratamento e se livrou do mal-estar (Foto: Guga Matos/JC Imagem) FOTO: "Em apenas uma semana, chegava a ter de três a quatro episódios de dor de cabeça. Vinham acompanhados de enjoo, do escurecimento de parte da visão, era pulsante e latejante", diz Fabiana Queiroz, que fez tratamento e se livrou do mal-estar (Foto: Guga Matos/JC Imagem)

dores de cabeça e dores de cabeça: desde aquelas que aparecem do nada e passam rapidinho até outras que perduram por dias e vêm acompanhadas de enjoos, vômitos, hipersensibilidade à luz e ao barulho e aura – uma disfunção cerebral passageira que se manifesta com visão de pontos brilhantes, distorções de imagens e perda parcial do campo de visão.

"A aura é uma disfunção cerebral transitória, que ocorre em menos de 40% das pessoas que têm enxaqueca. A aura comumente acontece antes da instalação da dor de cabeça. No quadro clássico da enxaqueca com aura, a pessoa começa vendo pontos brilhantes e, em menos de uma hora depois, apresenta a dor de cabeça forte e pulsátil", esclarece o neurologista Igor Bruscky, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e professor coordenador da Liga de Dor de Pernambuco.

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O médico acrescenta que existem outros tipos de aura, como dormência e dificuldade na fala. "Mas são menos frequentes. Algumas vezes, a aura pode ser confundida com AVC (sigla para acidente vascular cerebral) ou AIT (ataque isquêmico transitório)."

Assista ao programa Casa Saudável, da TV JC, sobre o assunto: 

Seja acompanhada de aura ou qualquer desconforto sentido na cabeça, a cefaleia causa mal-estar e atrapalha a qualidade de vida. Quem se percebe nessa descrição certamente está longe, mas muito longe, de ser um dos poucos que se queixam das crises. Os resultados de uma pesquisa divulgada, no último dia 16, pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) atestam que o problema é frequente e, para muita gente, persistente – ou seja, parece não ter prazo para acabar. Das 2.318 pessoas que participaram do levantamento, divulgado como parte das atividades do Dia Nacional de Combate à Cefaleia (termo científico para dor de cabeça), 97% alegam que passaram pelo incômodo no último ano.

Perigo da automedicação

Entre aqueles que sofrem com enxaqueca (um dos tipos mais comuns de dor de cabeça e que afeta 1.912 dos entrevistados), dois dados chamam a atenção: 966 padecem de incômodos crônicos, que dão as caras mais do que 15 dias por mês. Deste grupo, 721 abusam dos analgésicos – um hábito perigoso e que funciona como uma faca de dois gumes.

“O uso excessivo de medicações analgésicas é hoje a principal causa da enxaqueca crônica. As pessoas costumam tomar esses medicamentos, aumentam as doses, depois vão trocando os tipos, pedem dicas sobre os produtos mais potentes a amigos, parentes e balconistas de farmácia. Quando chegam ao médico, a dor já aparece diariamente, e a lista de analgésicos que não surte mais efeito é enorme”, explica Igor Bruscky.

"O ideal é que todas as pessoas com dor de cabeça passem por avaliação médica. Existem inúmeras causas para esse incômodo", avisa Igor Bruscky (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Na sexta-feira, durante o programa Casa Saudável, da TV JC, ele se mostrou preocupado com outros achados da pesquisa: 58% das entrevistados que sofrem de cefaleia aconselham o uso de analgésicos para colegas e parentes, além de 50% aceitarem indicações de não profissionais. “O ideal é que todas as pessoas com dor de cabeça passem por avaliação médica. Existem inúmeras causas para esse incômodo”, avisa Igor. A advertência do neurologista é fundamental para se compreender como o problema é complexo e merece ser tratado de forma adequada.

Fases da vida

A dor de cabeça pode aparecer em qualquer fase da vida, especialmente em adolescentes e adultos jovens. "As crianças podem ter formas de enxaqueca que se manifestam diferente (sem dor de cabeça), com sintomas como tonturas, torcicolo e dor abdominal. Em idosos, a cefaleia é sempre um sinal de alerta. É pouco provável um caso de enxaqueca iniciar após os 60 anos de idade", destaca Igor.

O neurologista acrescenta ainda que as viroses geralmente são acompanhadas de dor de cabeça, mas com quadro clínico diferente da enxaqueca. "Geralmente, nas viroses, sentimos uma sensação de peso na região frontal e na face. A enxaqueca se caracteriza por uma dor pulsátil e forte em um dos lados da cabeça, com náusea, vômito e intolerância à luz e ao barulho."

Mulheres

Por fatores hormonais, a enxaqueca é mais frequente em mulheres. "Vale destacar que alguns anticoncepcionais podem piorar o quadro de dor de cabeça. Recomenda-se que a mulher converse com o ginecologista e o neurologista e para escolherem o melhor método contraceptivo", frisa Igor Bruscky.

A funcionária pública Fabiana Queiroz, 39 anos, não tem dúvidas sobre o valor do acompanhamento médico para afastar os incômodos. “Em apenas uma semana, chegava a ter de três a quatro episódios de dor de cabeça. Vinham acompanhados de enjoo, do escurecimento de parte da visão, era pulsante e latejante. Resolvi fazer tratamento. Tomei um medicamento específico para o problema durante uns quatro meses. Hoje tenho enxaqueca esporadicamente”, conta Fabiana, que se sente aliviada e com mais qualidade de vida só em pensar que conseguiu dar um basta numa dor que, como qualquer outra, deve ser cuidada de forma séria e longe da automedicação.