No Recife, 20% da população têm obesidade, fator de risco para doenças como câncer e até demência

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/04/2017 às 11:59
OMS estima que, em 2025, o mundo deve ter cerca de 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e 700 milhões com obesidade (Foto ilustrativa: Pixabay)
OMS estima que, em 2025, o mundo deve ter cerca de 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e 700 milhões com obesidade (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: OMS estima que, em 2025, o mundo deve ter cerca de 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e 700 milhões com obesidade (Foto ilustrativa: Pixabay)

Autoridades de saúde, pesquisadores, médicos e demais profissionais de saúde estão apreensivos com o movimento crescente da obesidade, que tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública no planeta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Só no Brasil, ao longo de 10 anos (entre 2006 e 2016), a prevalência da obesidade passou de 11,8% para 18,9% (no Recife, o índice atual, de 20%, ultrapassa a média nacional), atingindo quase um em cada cinco pessoas no País com mais de 18 anos, segundo o retrato apresentado este mês da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde.

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Um problema que preocupa é o fato de a obesidade não ser uma condição que merece um olhar isolado, pois assume o papel de fator complicador (ou desencadeador) de outras doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, asma, gordura no fígado, câncer e até demência.

"A pesquisa do Ministério da Saúde mostrou, no sexo feminino, um avanço da prevalência da diabete, relacionada a doenças cardiovasculares. E sabemos que, quando as mulheres têm um infarto ou um acidente vascular cerebral, possuem risco maior de ter complicações mais intensas do que os homens com os mesmos problemas”, esclarece a endocrinologista Lúcia Cordeiro (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) "A pesquisa do Ministério da Saúde mostrou, no sexo feminino, um avanço da prevalência da diabete, relacionada a doenças cardiovasculares. E sabemos que, quando as mulheres têm um infarto ou um acidente vascular cerebral, possuem risco maior de ter complicações mais intensas do que os homens com os mesmos problemas”, esclarece a endocrinologista Lúcia Cordeiro (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Por estar envolvida com tantas complicações que comprometem o bem-estar e reduzem a expectativa de vida, a obesidade ganha faceta de doença, o que leva endocrinologistas a recomendarem tratamentos com foco na melhoria geral da saúde, em vez da perda de peso isolada. O assunto foi tema de conferência que abriu a programação de debates do 17º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, realizado este mês no Recife.

Desanimador é que, se não forem adotadas ações de prevenção e assistência para se oferecer tratamento contínuo, a projeção da OMS para 2025 tende a se concretizar: o mundo terá cerca de 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e 700 milhões com obesidade. Na infância, a estimativa é de que, caso nada seja feito, o número de crianças com sobrepeso e obesidade pode chegar a 75 milhões.

“Os números devem servir como alerta para o poder público fazer suas próprias ações de prevenção. O que foi feito até agora? Obesidade e diabetes avançaram muito, e os dados do Ministério da Saúde comprovam isso. Por outro lado, houve queda no consumo de refrigerantes em dez anos. Mas isso não é o suficiente para frear a obesidade, que predispõe a diabetes (tipo 2, aquela associada a hábitos de vida pouco saudáveis)”, destaca a endocrinologista Lúcia Cordeiro, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e PhD em cirurgia da obesidade.

No Brasil, segundo a pesquisa Vigitel, realmente foi decrescente, entre 2007 (30,9%) e 2016 (16,5%) o consumo de refrigerantes e sucos artificiais. A diminuição do consumo de bebidas açucaradas significa, segundo publicação da OMS do ano passado, menor ingestão de açúcares e calorias no geral, melhor nutrição e menos pessoas com sobrepeso e doenças associadas.

"Apesar do excesso de peso que tinha, sempre mantive as taxas (de glicose e pressão arterial) normais. "Mas o risco para eu desenvolver doenças cardiovasculares era alto. Então, mudei o estilo de vida com alimentação saudável e prática de exercícios", diz o empresário Régis Ferraz, que eliminou 20 quilos e contou com o apoio da esposa, a empresária Silene Gouveia (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) "Apesar do excesso de peso que tinha, sempre mantive as taxas (de glicose e pressão arterial) normais. "Mas o risco para eu desenvolver doenças cardiovasculares era alto. Então, mudei o estilo de vida com alimentação saudável e prática de exercícios", diz o empresário Régis Ferraz, que eliminou 20 quilos e contou com o apoio da esposa, a empresária Silene Gouveia (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Para deter a expansão do mapa da obesidade e de suas complicações, é preciso valorizar um estilo de vida saudável. O empresário Régis Ferraz, 37 anos, começou a mudar hábitos quando percebeu que atingiu o limite do peso, decorrente do sedentarismo e da alimentação desregulada. “Comia mais do que precisava e não me sentia bem fisicamente, sem resistência para subir um lance pequeno de escada. Procurei nutricionista, que estimulou a prática de atividades físicas. No ano passado, em seis meses, perdi 20 quilos”, conta Régis, que se sente mais motivado. E ainda encorajou a família a ter o mesmo ritmo. A esposa, a empresária Silene Gouveia, 40, passou a fazer companhia durante as refeições e os exercícios. Os filhos também estão no mesmo caminho e aprendem como um estilo de vida saudável é valioso para se viver mais e melhor.

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