Autismo: "O ideal é investir precocemente em estimulação, mesmo sem diagnóstico fechado", diz psiquiatra

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/04/2017 às 22:08
A fita feita de peças de quebra-cabeça coloridas representa a complexidade do autismo (Imagem: Reprodução/Internet)
A fita feita de peças de quebra-cabeça coloridas representa a complexidade do autismo (Imagem: Reprodução/Internet) FOTO: A fita feita de peças de quebra-cabeça coloridas representa a complexidade do autismo (Imagem: Reprodução/Internet)

Estima-se que, a cada 68 crianças, uma convive com algum grau de autismo – transtorno do desenvolvimento caracterizado por comprometimento das habilidades de comunicação e interação social, como também por realização de movimentos e comportamentos repetitivos. Nem sempre uma criança com essa condição precisa necessariamente apresentar toda a lista de sintomas que interferem no convívio, no comportamento e na comunicação. Essa singularidade é destacada hoje, no Dia Mundial da Conscientização do Autismo, marcado por ações que, contra o estigma, derrubam mitos e difundem conhecimento sobre atitudes que beneficiam pessoas com o transtorno.

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Por respeitar as particularidades associadas a essa condição, os especialistas atualmente se referem a transtorno do espectro autista, que engloba os casos a partir da maneira com que as desordens no desenvolvimento se manifestam ao longo do tempo. “Consideramos que há níveis do transtorno conforme a necessidade de auxílio que uma pessoa com autismo precisa para realizar atividades do dia a dia. Embora a maioria dos pacientes tenha deficiência intelectual, há casos em que há uma preservação da capacidade cognitiva que, às vezes, é até elevada, com algumas habilidades melhor desenvolvidas”, explica a psiquiatra Rackel Eleutério, especialista em saúde mental da infância e da adolescência.

"A boa qualidade de vida das pessoas com autismo está relacionada especialmente à realização de atividades e intervenções precoces, feitas nos primeiros anos de vida, quando o sistema nervoso está em desenvolvimento pleno", salienta a psiquiatra Rackel Eleutério (Foto: Jedson Nobre/JC Imagem) "A boa qualidade de vida das pessoas com autismo está relacionada especialmente à realização de atividades e intervenções precoces, feitas nos primeiros anos de vida, quando o sistema nervoso está em desenvolvimento pleno", salienta a psiquiatra Rackel Eleutério (Foto: Jedson Nobre/JC Imagem)

É por isso que, quando se fala em autismo, cada criança, jovem ou adulto são únicos. Um detalhe, contudo, pode ser aplicado para todos os casos em que há, pelo menos, suspeita do transtorno do espectro autista. “O ideal é investir precocemente em estimulação que beneficia o desenvolvimento da criança, mesmo que o diagnóstico não tenha sido fechado.” A administradora Andrea Campello, 43 anos, conhece o valor do depoimento da médica. Mãe do estudante Matheus Campello, 20, ela conta que o filho sempre participou de atividades com fonoaudiólogos (para desenvolvimento da linguagem) e com terapeutas ocupacionais, que faziam um trabalho para controlar questões comportamentais (como ações repetitivas) relacionadas ao autismo.

Matheus Campello concluiu o ensino médio no ano passado e agora faz cursinho (Foto: Arquivo pessoal) Matheus Campello concluiu o ensino médio no ano passado e agora faz cursinho (Foto: Arquivo pessoal)

“Investimos em tudo. Quando ele foi para uma escola onde ficou em uma sala de aula regular, sem ajudante, observamos uma diferença imensa. Ele começou a se relacionar bem na instituição junto a outras crianças. Isso é um exemplo de como a inclusão, feita de forma correta, é o melhor caminho”, relata Andrea. No ano passado, Matheus concluiu o ensino médio e agora faz cursinho de português e de disciplinas das áreas de exatas. “Passamos duas horas na academia todos os dias. Ele pratica natação, faz aulas de power jump e spinning”, acrescenta.

Os pais dos irmãos gêmeos Tales e Dante Lima, 10, também sabem o quanto os estímulos, até mesmo realizados durante brincadeiras do dia a dia, são importantes para promover o desenvolvimento das crianças com autismo. “Participo de palestras sobre o tema e tento reproduzir todos os ensinamentos em casa. Eles leem, sabem matemática e inglês, acessam a internet e se relacionam bem na escola”, relata a mãe dos meninos, a professora Rita de Cássia Lima, 48. O pai, o contador José Carlos Lima, 56, também acompanha o desenvolvimento de Tales e Dante, que receberam os primeiros cuidados num Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Foi lá onde fomos bem orientados para promover a socialização”, complementa Rita.

gemeos Os gêmeos Tales e Dante Lima receberam os primeiros cuidados no Centro de Atenção Psicossocial (Foto: Arquivo pessoal)

Em alguns casos, o trabalho de estimulação precisa ser associado a um tratamento medicamentoso, que ajuda a minimizar ou melhorar os sintomas de distúrbios que podem estar associados ao autismo. “Para os casos em que também há o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, por exemplo, a medicação pode promover a concentração e a interação. Dessa forma, fica mais fácil para terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos trabalharem a favor da estimulação”, finaliza Rackel.

Assista ao programa Casa Saudável sobre autismo, na TV JC, no dia 31/03/17: