Autismo: ferramentas digitais auxiliam pessoas com dificuldade de comunicação

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/04/2017 às 13:00
Pesquisadores do Centro de Informática e do Centro de Educação da UFPE desenvolveram duas ferramentas de Comunicação Aumentativa e Alternativa (Foto ilustrativa: Pixabay)
Pesquisadores do Centro de Informática e do Centro de Educação da UFPE desenvolveram duas ferramentas de Comunicação Aumentativa e Alternativa (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Pesquisadores do Centro de Informática e do Centro de Educação da UFPE desenvolveram duas ferramentas de Comunicação Aumentativa e Alternativa (Foto ilustrativa: Pixabay)

Neste domingo (2) é lembrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Nada melhor do que marcar a data com iniciativas que busquem auxiliar aos pacientes diagnosticados com o transtorno. Buscando possibilitar maior independência a pessoas que têm dificuldade na comunicação, um dos sintomas de quem convive com o autismo, pesquisadores do Centro de Informática e do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram duas ferramentas de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). A plataforma é formada por dois softwares gratuitos e de uso ilimitado: o ABoard e o ADesign.

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Enquanto o ABoard, um aplicativo para tablet, permite à pessoa com dificuldades na comunicação a construir e falar frases por meio de imagens (pictogramas), auxiliando no desenvolvimento de diálogos, o aDesign é um sistema web que traz facilidades para o mediador, possibilitando a personalização dos pictogramas que são visualizados no aplicativo.

O ABoard foi desenvolvido para realizar a construção de frases de forma intuitiva. Com um toque no pictograma (uma imagem que está representando uma palavra), sua legenda é falada e este é adicionado em uma área destinada à formação de frases, sendo possível adicionar novos pictogramas para serem falados em conjunto. A produção das frases pode ser acelerada a partir da sugestão de pictogramas que tenham relação com os que foram escolhidos anteriormente. Para 'bolo', por exemplo, aparecem sugestões como 'querer', 'comer', 'gostoso' e 'ruim'.

O aplicativo também tem funções extras que facilitam o diálogo. “O menu para respostas rápidas permite, a qualquer momento da produção da frase, dar respostas rápidas como “sim”, “não”, “por favor”, “obrigado”, “desculpe”, “socorro”, “parar” ou “continuar” sem interferir na produção da frase”, comenta Robson Fidalgo, professor do CIn-UFPE e um dos pesquisadores que desenvolveram a plataforma.

Segundo Fidalgo, já existem outras soluções tecnológicas para auxiliar esse processo comunicativo usando tablets, mas a maioria é paga e não é nacional (não tem interface e/ou documentação em português). Outro diferencial do ABoard é que a ferramenta permite a organização das palavras em categorias e subcategorias. Esse mecanismo, além de auxiliar no desenvolvimento de pensamentos abstratos a partir de generalizações de conceitos, também torna mais ágil a comunicação: “Por exemplo, “bolo” é uma “comida” que, por sua vez, é um “alimento”. Ao entrar na categoria “comida”, não se perde tempo com coisas não comestíveis”, explica.

O vocabulário básico de pictogramas, que é o exibido inicialmente no ABoard, foi definido cuidadosamente a partir trabalhos científicos desenvolvidos pelo grupo, com pesquisas sobre as palavras frequentemente usadas por crianças. O menu com respostas rápidas e a sugestão automática de pictogramas para a formação de frases também são diferenciais da ferramenta.

Além do aplicativo ABoard, os pesquisadores também desenvolveram um sistema que possibilita a personalização do aplicativo. “Caso o vocabulário básico que é exibido no ABoard não esteja adequado às necessidades da pessoa com dificuldades na comunicação, seu mediador pode criar, editar, excluir ou reorganizar esse vocabulário usando o sistema ADesign”, acrescenta Robson.

Já o ADesign funciona online pode ser usado a partir de um navegador Web. O acesso à plataforma, assim como ao aplicativo, é gratuito e ilimitado. A ferramenta é utilizada pelos mediadores para definir o vocabulário pictográfico a ser exibido no aplicativo.

Os envolvidos (professores e alunos) no desenvolvimento do ABoard e do ADesign fazem parte do Assistive, Núcleo Pernambucano do Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva e grupo de pesquisa interdisciplinar da UFPE. O Assistive é financiado pelo governo federal (CNPq e CAPES) e seu objetivo é investigar e desenvolver tecnologias inovadoras em Comunicação Aumentativa e Alternativa que ajudem a promover inclusão social e permitam dar mais independência e qualidade de vida a indivíduos com atraso na comunicação, por exemplo: pessoas com autismo, paralisia cerebral, microcefalia e apraxia.