Pela primeira vez, pesquisa investiga infecção por zika em gestantes da rede privada do Recife

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/03/2017 às 11:33
No Recife, a ideia é investigar, no mínimo, 300 gestantes em acompanhamento por obstetras que atuam na rede privada (Foto: Igo Bione/Divulgação)
No Recife, a ideia é investigar, no mínimo, 300 gestantes em acompanhamento por obstetras que atuam na rede privada (Foto: Igo Bione/Divulgação) FOTO: No Recife, a ideia é investigar, no mínimo, 300 gestantes em acompanhamento por obstetras que atuam na rede privada (Foto: Igo Bione/Divulgação)

Passados quase dois anos do nascimento dos primeiros bebês com microcefalia associada ao zika, os pesquisadores já relataram a ocorrência de alterações visuais e auditivas, comprometimentos neurológicos e articulares, além de outros problemas decorrentes da infecção pelo vírus na gestação. A maioria dos estudos que trouxe essas respostas foi desenvolvida a partir do acompanhamento de mulheres e crianças que recebem assistência no sistema público de saúde. Agora especialistas brasileiros se unem a pesquisadores de outros países para ampliar o espectro das investigações: passam a incluir, nos estudos, as mulheres grávidas atendidas por obstetras na rede privada.

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"Queremos desvendar quais são os fatores associados à infecção pelo zika na gestação que contribuem para o aparecimento ou não de comprometimentos nos bebês. Agora vamos comparar as mulheres que têm diferentes comportamentos e estilos de vida. Serão confrontados os resultados (aqueles que já existem com os coletados no estudo atual)", explica o pesquisador Ernesto Marques Júnior, do Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco. A instituição é o braço, no Recife, de um consórcio multinacional batizado de ZIKAlliance, que reúne 53 parceiros institucionais da América Latina e Europa. Ontem pesquisadores alemães à frente da investigação visitaram a Fiocruz Pernambuco para delinear os próximos passos do projeto, que será iniciado em maio no Recife.

"É um estudo com duração de três anos. Podem ser incluídas na pesquisa mulheres a partir dos 16 anos que estão no primeiro trimestre da gestação. Elas passarão por exames a cada quatro meses", informa o cientista Thomas Jänisch, do Departamento de Doenças Infecciosas da UniversitätsKlinikum Heidelberg, na Alemanha. As gestantes serão submetidas a testes moleculares (conhecidos como PCR) que detectam a presença do vírus no sangue ou na urina nos primeiros dias de infecção.

Ernesto Marques, da Fiocruz Pernambuco, desenvolve estudos com os alemães Thomas Jänisch e Felix Loeffler (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem) Ernesto Marques, da Fiocruz Pernambuco, desenvolve estudos com os alemães Thomas Jänisch e Felix Loeffler (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem)

Também serão feitos exames sorológicos – são capazes de diagnosticar anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção (ou seja, são testes que detectam o zika em pessoas que não têm mais o vírus no organismo). "As mulheres passarão pela sorologia no começo e no fim da pesquisa, que terá duração de três anos", acrescenta Thomas Jänisch. Para a cônsul-geral da Alemanha no Nordeste, Maria Könning-de Siqueira Regueira, a interação teuto-brasileira reforçará a capacidade de assistência na saúde pública. "Desejamos intensificar o trabalho em comum e avaliar o intercâmbio de tecnologias."

No Recife, a ideia é investigar, no mínimo, 300 gestantes em acompanhamento por obstetras que atuam na rede privada. Após o nascimento dos bebês, continuam na pesquisa as mulheres (e os filhos) cujos resultados dos exames feitos na gestação tenham positivado para zika, segundo Thomas. Ele acrescenta que, no Brasil, a pesquisa está sendo realizada também em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia.

O consórcio ZIKAlliance é coordenado pelo Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica, com financiamento do programa Horizon 2020, da União Europeia. "Para esta pesquisa, o investimento é de 10 milhões de euros", diz Thomas. Obstetras do Recife que desejam colaborar com o estudo podem enviar e-mail para Ernesto Marques: [email protected].

Arte Microcefalia e Zika 30032017