Estudo aborda a postura de profissionais de UTI Neonatal ao comunicar más notícias para familiares

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/03/2017 às 15:29
Dissertação de mestrado propõe reflexão mais dirigida sobre processo formativo dos profissionais de saúde que atuam em UTI Neonatal (Foto ilustrativa: Pixabay)
Dissertação de mestrado propõe reflexão mais dirigida sobre processo formativo dos profissionais de saúde que atuam em UTI Neonatal (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Dissertação de mestrado propõe reflexão mais dirigida sobre processo formativo dos profissionais de saúde que atuam em UTI Neonatal (Foto ilustrativa: Pixabay)

Com informações da Agência de Notícias da UFPE 

O sentimento de medo e frustração que toma conta de profissionais de saúde que atuam na UTI (unidade de tratamento intensivo) Neonatal ao compartilhar más notícias com familiares do pequeno paciente necessita de uma visão mais ampla para preparar os funcionários que passam por este momento incômodo. O assunto foi tema da dissertação de mestrado 'Comunicação de más notícias no contexto da UTI Neonatal', defendida em 2016 no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Para a mestranda Thaisa de Farias Cavalcanti Santos, autora da dissertação, o ideal é uma reflexão mais dirigida sobre o processo formativo dos profissionais de saúde, com vistas a ampliar a visão destes na implementação de uma assistência holística. Thaisa buscou respostas sobre o que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos que atuam em uma UTIN de um referenciado hospital recifense entendem por má notícia, como comunicam a má notícia, que sentimentos têm em relação à má notícia e quais estratégias adotam na hora de dar a má notícia. A compilação das respostas denotou que há percepções diferentes sobre cada um dos aspectos relativos ao momento de repasse de uma informação negativa sobre o estado de saúde, ou mesmo a morte, do recém-nascido em situação vulnerável de saúde.

Para Thaisa Santos, além de trabalhar estas questões dentro da academia durante a formação, é prudente que o tema estudado esteja inserido nos diversos cenários do cuidar em saúde. “A educação permanente pode promover a humanização, integralidade e trabalho interdisciplinar, ou seja, valorização do ser humano em todos os seus aspectos”, defende. Segundo a mestranda, a formação profissional requer olhar também para o bem-estar e respeito à dignidade do ser humano. “A implementação de uma formação humanista dos profissionais de saúde requer um olhar para o bem-estar e respeito à dignidade do ser humano; é necessária a fim de transcender os aspectos técnicos do ensino em saúde.”

A dissertação, orientada pela professora Luciane Soares de Lima e coorientada pela professora Maria Wanderleya de Lavor Coriolano Marinus, aponta que, em contextos como esses, faz-se necessária a implementação de estratégias que promovam uma maior empatia e acolhimento das necessidades das famílias assistidas, e essa empatia (ver ilustração) deve se dar em todas as direções. “A questão da sensibilidade na comunicação de más notícias é uma questão de humanismo e humanizar é acolher o paciente e sua família em sua essência, partindo de uma ação efetiva refletida em solidariedade, compreensão do ser doente e apreciação da vida”, segundo a autora.

A fórmula dura-direta-seca de transmitir essa informação é vista como um entrave na comunicação e, em consequência, o processo de acolhimento desta família se torna prejudicado. Ao todo, foram entrevistados 16 profissionais de saúde que atuam em UTI Neonatal.

Ruptura

Um dos aspectos revelados pelo estudo foi a “ruptura no processo de comunicação de más notícias”. Thaisa Santos relata que a psicóloga da equipe atua junto às famílias apenas na pós-comunicação, a fim de acolher a família que está fragilizada com abertura à escuta dos sentimentos, a dúvidas e ao entendimento acerca do que foi comunicado. “A atuação desta profissional ocorre de forma isolada, não existindo uma interação adequada dentro da equipe de saúde”, aponta.

Segundo a autora do estudo, os depoimentos dos profissionais evidenciaram, também, que não há um consenso na equipe no que se refere à responsabilidade de comunicar a má notícia, não atendendo às expectativas da equipe e das famílias. “Diferentes pontos de vista e posturas dos profissionais foram evidenciados quando emergiram os tipos de notícias que foram consideradas como responsabilidade do médico”, explica.

Aspectos como a ausência de ambientes apropriados para o compartilhamento das informações sobre o bebê-paciente aos seus familiares e o uso frequente de terminologias técnicas nessas comunicações são apontados, ainda, como dificultadores para esse processo de comunicação.

Os dados obtidos neste estudo, segundo Thaisa, podem contribuir como subsídios para uma reflexão relacionada à formação acadêmica e à educação permanente da equipe de saúde, além de reflexões acerca da comunicação em saúde, especialmente a comunicação de más notícias, quanto no desenvolvimento do processo de trabalho em equipe interdisciplinar, proporcionando atendimento integral e humanizado em saúde. “Esses achados revelam, ainda, a necessidade de novas propostas curriculares, além de avaliação de sua implementação, pautadas nas orientações definidas pelas diretrizes curriculares nacionais para os cursos de saúde”, finaliza.