Síndrome de Down: Quando o amor supera limitações e promove qualidade de vida

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 19/03/2017 às 10:04
Jogar futebol está entre as atividades preferidas de Felipe Falcão, 7 anos (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem)
Jogar futebol está entre as atividades preferidas de Felipe Falcão, 7 anos (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem) FOTO: Jogar futebol está entre as atividades preferidas de Felipe Falcão, 7 anos (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem)

Às segundas e quartas-feiras, a estudante Mariana Faria, 35 anos, dorme cedo porque sabe que tem um dever que não pode deixar de cumprir no dia seguinte. É uma atividade que faz com satisfação: a prática da musculação, que melhora o condicionamento físico, previne o sobrepeso, promove o fortalecimento muscular e a socialização. Para Mariana, o exercício serve para evitar as complicações do sedentarismo e também para compreender que, assim como qualquer pessoa, quem nasce com síndrome de Down pode desfrutar de um mundo cheio de potencialidades. A cada ano, essa é uma das mensagens transmitidas, em 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down.

Musculação faz parte da rotina da estudante Mariana Faria, 35 anos, há cerca de três anos (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem) Musculação faz parte da rotina da estudante Mariana Faria, 35 anos, há cerca de três anos (Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem)

Como muitas pessoas com essa condição, Mariana já fez fono e fisioterapia, como também terapia ocupacional, enquanto criança e adolescente, numa época em que pouco se sabia como a estimulação precoce é valiosa para se adquirir e aprimorar habilidades. “Quando ela nasceu, não se falava muito sobre Down. Pensava que Mariana não iria andar nem falar. Praticamente não se conhecia o potencial das pessoas com a síndrome, que têm uma capacidade além do que se imagina”, conta a mãe de Mariana, a advogada Ana Faria, 67.

Ela reconhece como o papel de profissionais é essencial para o desenvolvimento de quem nasce com Down. “A sobrevida aumentou por causa dos cuidados precoces, da detecção de possíveis malformações e da orientação às famílias. Na década de 1960, a perspectiva média de vida era de 25 anos. Hoje, chega-se a 5, 6 décadas de vida”, ressalta a pediatra Andréa de Rezende Duarte, do setor de genética do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

"Na década de 1960, a perspectiva média de vida era de 25 anos. Hoje, chega-se a 5, 6 décadas de vida", diz a pediatra Andréa de Rezende Duarte, do Imip (Foto: Fernando da Hora/JC Imagem) "Na década de 1960, a perspectiva média de vida era de 25 anos. Hoje, chega-se a 5, 6 décadas de vida", diz a pediatra Andréa de Rezende Duarte, do Imip (Foto: Fernando da Hora/JC Imagem)

A médica recorda que, em décadas passadas, o nascimento de um bebê com Down estava associado a uma baixa esperança de vida. “Acreditava-se que as crianças não responderiam a estímulos. Por isso, pouco se investia nelas. Mas esse conceito mudou. Orientamos que fisioterapia motora, fono e terapia ocupacional sejam realizados o mais cedo possível.”

A economista Adriana Falcão, 42 anos, sabe como o recado da pediatra faz sentido. Mãe do estudante Felipe Falcão, 7, ela conta que os estímulos sempre fizeram parte da rotina do filho. “Ele começou a andar e falar cedo. As atividades de terapia ocupacional e fonoaudiologia foram essenciais. Não vivo a síndrome; vivo o indivíduo. Crio Felipe com a mesma educação dada a minha filha, Clara, de 12 anos”, diz. Hoje Felipe pratica futebol e balé popular.

Bruno Ribeiro, o primeiro turismólogo com síndrome de Down do Brasil, trabalha como assistente técnico da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) há quase dois anos (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem) Bruno Ribeiro, o primeiro turismólogo com síndrome de Down do Brasil, trabalha como assistente técnico da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) há quase dois anos (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

O apoio da família ajudou o turismólogo (o primeiro com Down no Brasil) Bruno Ribeiro, 24, a encarar desafios e não desistir dos sonhos. Há dois anos, ele concluiu o curso superior em turismo – objetivo alcançado graças à dedicação, disciplina e determinação que o acompanhou ao longo da vida. Logo após a colação de grau, Bruno ingressou no mercado de trabalho. Ele é assistente técnico da Empresa de Turismo de Pernambuco. “Estou realizado”, relata Bruno, com a certeza de que o caminho traçado vai fazê-lo conquistar outros sonhos.