Pesquisadores propõem criação de plataforma de jogos digitais para idosos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 22/02/2017 às 13:21
Jogos digitais podem retardar as perdas de funções da capacidade motora, visual e cognitiva, comuns nessa faixa etária (Foto: Marcos Santos / USP Imagens)
Jogos digitais podem retardar as perdas de funções da capacidade motora, visual e cognitiva, comuns nessa faixa etária (Foto: Marcos Santos / USP Imagens) FOTO: Jogos digitais podem retardar as perdas de funções da capacidade motora, visual e cognitiva, comuns nessa faixa etária (Foto: Marcos Santos / USP Imagens)

Dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que aproximadamente 20 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais vivem no País. A expectativa é que esse número triplique nos próximos 20 anos. Pensando na melhora da qualidade de vida desse público, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estão desenvolvendo uma plataforma de jogos digitais para idosos.

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Os games podem retardar as perdas de funções da capacidade motora, visual e cognitiva, comuns nessa faixa etária. "Jogos digitais têm sido desenvolvidos especialmente para a população jovem, habituada a essas interações e com aprendizagem mais rápida. Adequar e proporcionar esse tipo de conteúdo aos idosos ainda é um desafio que, se vencido, será um importante instrumento de inclusão social", explica Leandro do Amaral, que faz doutorado no ICMC.

Para desenvolver uma ferramenta com jogos acessíveis a quem tem mais de 60 anos, os pesquisadores precisaram levar em conta o déficit cognitivo e motor que os idosos costumam apresentar. É recomendado evitar movimentos muito rápidos durante o jogo, excesso de informações na tela e o tamanho das letras deve ser maior do que o tradicionalmente empregado nos games destinados a outros públicos. "A maior dificuldade é entender a necessidade do idoso. Ele não pode se sentir frustrado por não conseguir jogar. Ao mesmo tempo, a experiência não deve ser entediante como acontece em games que não apresentam desafios", explica Gabriel Lima, formado em Ciências da Computação no ICMC.

Imagem da equipe desenvolvedora do projeto (Foto: Reinaldo Mizutani/Assessoria de Comunicação ICMC/US) Estudo está sendo conduzido por pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de São Carlos (Foto: Reinaldo Mizutani/Assessoria de Comunicação ICMC/US)

Os pesquisadores também levaram em conta o universo cultural de uma pessoa com mais de 60 anos. Para isso, foi realizada uma pesquisa prévia com 50 idosos a fim de obter informações sobre as características desse público e então pensar em jogos com uma temática atrativa. "Os idosos de hoje já estão inseridos no mundo da tecnologia, mas devemos trazê-los ainda para mais perto dessa nova cultura. Muitos deles já jogavam games quando eram mais novos, mas atualmente não há preocupação da indústria de jogos com essas pessoas. Games não são somente para jovens e crianças", ressalta Gabriel.

Segundo Renata Pontin, professora da ICMC e orientadora de Leandro, essa pesquisa possibilita o envolvimento dos jovens com os idosos, aspecto fundamental não somente para o crescimento profissional dos estudantes. "Do ponto de vista acadêmico, os alunos formados em computação saem do curso falando apenas com a máquina. Agora, eles estão começando a ter contato com as pessoas e entender as necessidades do ser humano. Isso trará muitos benefícios e humanizará os cursos da área".

Parceria

Para viabilizar a criação da plataforma, os pesquisadores estabeleceram uma parceria com a Aptor Consultoria e Desenvolvimento de Software e apresentaram uma proposta para o Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), criado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O projeto foi aprovado pela agência de fomento e receberá até R$ 200 mil nos primeiros nove meses de pesquisa. Ao final desse período, os pesquisadores apresentarão um relatório técnico sobre o andamento do projeto. Caso obtenham resultados satisfatórios, o financiamento poderá ser renovado por mais dois anos, com a garantia de que um produto final seja entregue ao final do prazo.

O projeto está sendo realizado em parceria com Marcos Hortes e Paula Castro, professores do Departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e com os alunos de pós-graduação Lucas de Carvalho e Francine Golghetto, ambos da UFSCar. A iniciativa recebe, ainda, a contribuição de Thiago Bittar, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), regional Catalão. Além de Gabriel, o projeto conta com a participação de mais três desenvolvedores da Aptor : Marcelo Petrucelli e Felipe Padula, ex-alunos do ICMC, e Janaina Pertile, aluna do curso de graduação em Imagem e Som da UFSCar.