Método identifica pacientes com epilepsia que podem se beneficiar com cirurgia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/02/2017 às 16:29
Modelo criado consegue prever, com base em informações genéticas, quais pacientes com epilepsia do lobo temporal mesial são refratários à terapia medicamentosa (Foto ilustrativa: Free Images)
Modelo criado consegue prever, com base em informações genéticas, quais pacientes com epilepsia do lobo temporal mesial são refratários à terapia medicamentosa (Foto ilustrativa: Free Images) FOTO: Modelo criado consegue prever, com base em informações genéticas, quais pacientes com epilepsia do lobo temporal mesial são refratários à terapia medicamentosa (Foto ilustrativa: Free Images)

Da Agência Fapesp de notícias

Em um estudo publicado na revista PLoS One, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostraram ser possível usar informações genéticas para identificar precocemente quais pacientes com uma das formas mais graves de epilepsia – conhecida como epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM) – são refratários ao tratamento medicamentoso e, portanto, têm indicação para cirurgia.

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O trabalho foi conduzido no âmbito do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN, na sigla em inglês) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP – sob a coordenação da professora Iscia Lopes-Cendes.

“Estima-se que, nos melhores centros do mundo, leva-se entre 15 e 20 anos para um determinado paciente refratário à terapia com medicamentos ser encaminhado para cirurgia. Enquanto isso, a pessoa continua sofrendo com as crises não controladas. Se conseguirmos encurtar esse processo, podemos mudar a história de vida de muitos pacientes. Pode ser a diferença entre ingressar ou não na faculdade, entre ter ou não um emprego e uma vida normal”, disse Lopes-Cendes.

Conforme explicou a pesquisadora, a ELTM é causada por alterações no funcionamento de neurônios localizados nas estruturas mais profundas do cérebro, como o hipocampo e a amígdala, onde são controladas funções importantes como memória, atenção e a ansiedade, entre outras. As crises causadas por descargas elétricas anormais em um grande grupo de neurônios, que podem ou não resultar em uma convulsão, interferem na memória e em outras funções cerebrais, colocando muitas vezes o paciente em risco de acidentes e morte.

Embora não seja a forma mais frequente de epilepsia – representa entre 30% e 40% dos casos –, é considerada a mais difícil de tratar em adultos. Até 40% dos pacientes não respondem a nenhuma das drogas disponíveis. Para esses casos, indica-se a remoção cirúrgica da área cerebral em que as crises são originadas.

“Toda cirurgia envolve riscos e, nesse caso, uma parte do cérebro é retirada. Não é algo inócuo e, por isso, o consenso hoje é tentar antes controlar as crises com diferentes regimes de terapia medicamentosa. Geralmente a doença se manifesta no fim da adolescência e início da idade adulta. É uma fase crucial na vida de uma pessoa. Imagine a diferença que pode fazer controlar as crises aos 12 anos em vez de aos 35”, disse a pesquisadora.

Metodologia

O estudo divulgado no dia 4 de janeiro na PLoS One foi feito com base na análise de dados de 237 pessoas com ELTM que já vinham sendo acompanhadas na Unicamp há pelo menos dois anos. Os pesquisadores já sabiam que, desse grupo, 162 pacientes eram refratários ao tratamento, enquanto os outros 75 respondiam bem aos fármacos.

O objetivo do trabalho, segundo Lopes-Cendes, era desenvolver uma metodologia capaz de discriminar os dois grupos com base na análise do material genético dos participantes. Para isso, o grupo selecionou um conjunto de 11 genes que – segundo dados da literatura científica – estão envolvidos na absorção, no metabolismo e no transporte de medicamentos antiepilépticos.

Nesses 11 genes, foram genotipados 119 diferentes marcadores moleculares do tipo polimorfismo de base única (SNPs, na sigla em inglês) para ver quais alelos estavam presentes.

“Aplicamos uma série de procedimentos estatísticos para desenvolver o modelo com melhor capacidade de prever o desfecho do paciente. Nesse modelo, íamos colocando e tirando variáveis para ver quais delas contribuíam mais para a predição. Além dos polimorfismos genéticos, também acrescentamos dados clínicos, como presença ou não de atrofia hipocampal, idade de início das crises, sexo do paciente, entre outras”, contou Lopes-Cendes.

Quando apenas as variáveis clínicas eram levadas em conta, a taxa de acerto do modelo ficou em torno de 45%, o que, segundo ressaltou Lopes-Cendes, seria inferior ao método de jogar uma moeda para o alto e escolher cara ou coroa.

Porém, quando se considerou a análise desses SNPs, a taxa de acerto subiu para 80% e chegou a 82% quando se somaram variáveis clínicas e genéticas.

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